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Deadpool | Ryan Reynolds é um relutante galã hollywoodiano

É estranho pensar que o projeto que abriu as portas de Hollywood para Ryan Reynolds foi uma sitcom da ABC que durou 4 temporadas com audiência na média, entre 1998 e 2001, conhecida como Três é Demais no Brasil. Pouca gente se lembra dessa série hoje em dia, mas Reynolds ainda está por aí, mesmo que passe por uns períodos de baixa popularidade de vez em quando. O fato é que, antes de Três é Demais, Reynolds atuava exclusivamente no Canadá, seu país natal, em produções nada notáveis.

Sua carreira depois da série seguiu uma ascensão lenta, enfileirando papeis principais em comédias como O Dono da Festa e A Hora do Rango com participações menores em que ele invariavelmente roubava a cena, ainda com uma persona cômica e “tagarela” – foi o que aconteceu em Blade: Trinity, por exemplo. Em 2008, assim que se casou com a atriz Scarlett Johansson (a união durou só três anos, até 2011), ele tentou a mão como galã de comédia romântica no charmoso Três Vezes Amor e no sucesso absoluto A Proposta.

Um favorito do público feminino, não foi surpresa que Reynolds se deu bem no gênero, mas o fato é que o ator canadense não quis se tornar só um astro das rom-coms. Ele tentou a mão duas vezes nos filmes de super-heróis, em um papel coadjuvante no desastroso X-Men Origens: Wolverine (como o próprio Wade Wilson, que ele interpreta em Deadpool) e no nem tão ruim, mas comercialmente fracassado Lanterna Verde. Mais importante ainda, ele nunca deixou de escolher projetos inusitados: seja o drama familiar Um Segredo Entre Nós (2008), a excêntrica comédia de amadurecimento Tempo de Crescer (2009), ou o claustrofóbico (e excelente) suspense Enterrado Vivo (2010).

Foi nesse último, aliás, que Reynolds provou de uma vez por todas que não estava contente em ser só mais um galã hollywoodiano. A escolha de estrelar um suspense em que seu personagem passa o tempo todo preso em um caixão, com um isqueiro e um celular como únicos companheiros não é exatamente convencional, assim como apostar na estreia de um diretor espanhol relativamente desconhecido em Hollywood (Rodrigo Cortés, que mais tarde faria Poder Paranormal, com Robert De Niro). E o fato é que Ryan está espetacular no papel, mantendo a tensão em alta, mas também construindo um personagem crível e completo com poucos recursos.

Depois do fracasso de Lanterna Verde e da separação de Johansson, a imagem de Reynolds ficou um pouco cansada na mídia. Ele se casaria novamente em 2012, com outra atriz famosa: Blake Lively, a Serena de Gossip Girl – o casal ainda está muito bem casado, com uma filhinha de pouco mais de um ano. Ele conseguiu algum sucesso fazendo as vozes para animações como Turbo e Os Croods, essa última transformada em franquia pela DreamWorks, que pretende lançar a primeira continuação em 2017.

Em 2014 e 2015, Reynolds provou a sua fundamental excelência em um trio de filmes de menos visibilidade, mas que o fizeram encarnar personagens diferentes da sua persona usual. Na bizarra comédia As Vozes, dirigida por Marjane Satrapi (Metrópolis), ele interpreta o protagonista de uma história de humor negro em que um cara comum começa a ouvir as vozes de seus animais de estimação o incentivando a cometer crimes horrendos, especialmente contra a moça do seu escritório que não corresponde a sua paixão. Em À Procura, de Atom Egoyan (O Doce Amanhã), ele é o pai de uma garota desaparecida cujo caso é ressuscitado oito anos depois.

Por fim, no ótimo Mississippi Grind, de Anna Boden & Ryan Fleck (Half Nelson), Ryan Reynolds é uma revelação como o apostador mais jovem de uma dupla de fracassados que viaja pelo Sul dos EUA tentando recuperar o dinheiro de um deles. Em um típico uso de seu carisma e do seu senso de humor, Reynolds constrói um personagem que é invejável em tudo na superfície, mas ao mesmo tempo lhe empresta imperfeições e maneirismos que o fazem terrivelmente humano. Mississippi Grind é um filme de quebrar o coração, que o protagonista Ben Mendelsohn (Bloodline) domina em cena, mas Reynolds cava um lugar para si e joga de igual para igual com o veterano ator australiano.

Essa é a sensibilidade e a habilidade que ele pode trazer para Deadpool, que estreou dia 11 de Fevereiro nos cinemas brasileiros, se o filme lhe permitir ir além da sempre divertida forma como ele usa o humor em seus papeis mais marcantes. Ryan Reynolds é um astro de cinema como nenhum outro em Hollywood atualmente, e é isso que tem feito sua carreira tão interessante de se acompanhar até aqui – vamos torcer para a Fox e o diretor Tim Miller terem percebido isso, e o quanto o ator poderia acrescentar para a versão pretendida do famoso personagem dos quadrinhos.

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