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Dia Internacional da Mulher | As grandes heroínas do cinema

Nesse dia 08 de Março celebramos o dia internacional delas, o da Mulher, e vasculhar a história do cinema para achar as personagens femininas mais fortes e inesquecíveis é uma missão difícil.

No passar das décadas, produzimos retratos femininos tão problemáticos quanto as épocas em que eles foram feitos, e outros que estavam (e ainda estão) claramente a frente do nosso tempo. Acertar nessa lista é subjetivo também porque precisamos pensar em cobrir a imensa diversidade e riqueza que existe entre as mulheres do mundo todo.

Fizemos o melhor possível, e foi nessa relação de heroínas maravilhosas que chegamos:

Ellen Ripley & Sarah Connor

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Escolhemos juntar essas duas porque são ambas heroínas de ação que pareciam improváveis para o público machista dos anos 70, 80 e 90, mas provaram sua força e se tornaram marcas indeléveis na cultura pop e na história das personagens femininas do cinema. Não haveria Tomb Raider nem Furiosa sem Ripley e Connor.

A primeira, estrela dos quatro filmes da franquia Alien original (1979-1997), combate e desenvolve uma estranha relação simbiótica com o alienígena assustador da série; Connor, feita por Linda Hamilton nos dois primeiros filmes de Exterminador do Futuro (1984 e 1991) e depois retomada por Emilia Clarke em Gênesis (2015), é uma mulher determinada a parar as máquinas que tentam tomar o controle do mundo da humanidade com só um lema: “no fate but what we make” (“não há destino a não ser aquele que fazemos”).

Sigourney Weaver ganhou uma indicação ao Oscar pelo retrato de Ripley em Aliens, o segundo filme da franquia, em 1987. Pouquíssimas outras vezes um ou uma protagonista de um filme de ação ganhou nomeação no prêmio da Academia – e quem viu o filme sabe que a honra é mais do que merecida, e que Weaver seguiu sendo solidamente excepcional em tudo o que fez depois de Alien.

Princesa Leia

Em termos de heroínas de grandes sagas da cultura pop, é difícil bater a Princesa Leia de Carrie Fisher na trilogia original de Star Wars (1977-1983) e no recente O Despertar da Força (2015). De monarca com atitude confrontadora a líder absoluta da rebelião contra o Império de Palpatine, Leia passa por um incrível processo de crescimento durante os três filmes originais, e reaparece na retomada da franquia por J.J. Abrams como uma poderosa general que reforça a luta contra a Primeira Ordem, do vilão Kylo Ren.

Embora muita discussão tenha surgido sobre a personagem nos últimos tempos (da sua construção simplista até a infame cena em que Leia é feita escrava por Jabba the Hut e aparece em um sumário biquíni), Leia na concepção de Fisher continua sendo um ícone que quebra com o padrão de comportamento de muitas personagens femininas da antiga Hollywood – e cujo relacionamento com Han Solo não é desenhado para “domar” seus instintos mais “atrevidos”, como acontecia em filmes das décadas anteriores, mas justamente o contrário.

George Lucas sempre desenhou a atitude de Leia como algo para ser admirado, não dispensado ou desprezado, e Fisher atuou de acordo, criando uma das marcas mais inesquecíveis da franquia Star Wars na cultura de sua época e da nossa.

Hermione Granger & Katniss Everdeen

Essas duas estão aqui representando a legião de heroínas juvenis das adaptações de literatura fantasiosa desse estilo, muitas delas representando fortes valores de independência feminina e assumindo a dianteira das histórias ao invés dos seus colegas homens (conte aqui a Tris de Shailene Woodley em Divergente, mas talvez esqueça por um instante a Bella de Kristen Stewart em Crepúsculo). Hermione e Katniss são nossas favoritas porque são feitas por duas ótimas atrizes, e porque passaram por um processo de crescimento difícil de ignorar nos filmes de suas respectivas séries.

A incansável inteligência acadêmica e emocional de Hermione sempre foi, de muitas formas, o alicerce de Harry Potter, a cola que uniu o chamado “trio de ouro” no centro da narrativa de J.K. Rowling, e a personagem mais forte emocionalmente entre os três. O seu papel de liderança vem sem relutância, ao contrário do que acontece com Harry, porque para ela é muito mais natural.

É quase a mesma coisa no caso de Katniss, conforme ela vai navegando sentimentos conflitantes com bravura durante a trama de Jogos Vorazes – de protagonista de um conto de ficção científica distópica à la 1984, Katniss se tornou uma líder rebelde e um símbolo de resistência. A atuação de Jennifer Lawrence só faz nos envolver e realçar isso, porque já está tudo ali, no papel.

Tempestade/Ororo Munroe

A heroína mais emblemática dos X-Men (sai da frente, Wolverine!) é a poderosa Tempestade, filha de uma princesa queniana e um ocidental, criada em Nova York e no Cairo, onde tragicamente perde os pais. Depois de anos rondando a capital do Egito ela tem seus poderes descobertos e é venerada por uma tribo africana como uma deusa das tempestades, até ser encontrada pelo Professor Xavier e recrutada para os X-Men. Durante sua longa história nos quadrinhos, Tempestate sempre foi retratada como uma mulher de caráter sereno mas poderes e asserção absoluta, conquistando cada um de seus medos e traumas (inclusive a claustrofobia) com bravura e inteligência.

Retratada por Halle Berry nos filmes da série, a Tempestade do cinema mantem mais ou menos a mesma personalidade, embora não mergulhemos tão profundamente em sua história pessoal ou suas origens. Um momento lindo acontece em X2 (2003), quando conhece o mutante Noturno (Alan Cumming), com quem se identifica por terem sofrido discriminação toda as suas vidas, seja pelos poderes (no caso de ambos) ou por traços físicos (a etnia no caso dela, a pele azul e marcada por cicatrizes no dele). O filme aproveita para tirar belos diálogos desse encontro – basta esperar para ver se a versão feita por Alexandra Shipp em X-Men: Apocalipse, que sai esse ano, vai ser tão poderosa quando a de Berry foi permitida ser.

Elastigirl/Helen Parr

Em Os Incríveis, deliciosa aventura da Pixar sobre um casal de super-heróis aposentados que se vê obrigados a voltar a ativa e levar os filhos a reboque, a personagem mais verdadeiramente heroica talvez seja Helen, antes conhecida como Elastigirl e esposa do Sr. Incrível, que é o primeiro a embarcar (sem o conhecimento da mulher) nessa história toda de “voltar à ativa”. Helen é uma caixinha de surpresas: apesar de adorar a vida “normal” que conquistou ao lado do marido e de trabalhar duro para unir a família, ela se mostra mais do que eficiente em ação quando é preciso, tanto em proteger os filhos quanto em distribuir socos nos bandidos.

É claro que a personagem só poderia ter a voz de Holly Hunter, que venceu o Oscar em 1994 por O Piano e já encarnou uma série de mulheres fortes e marcantes no cinema, seja uma produtora linha-dura em Os Bastidores da Notícia, uma mãe em meio ao furacão da adolescência da filha em Aos Treze, ou a líder de uma colônia naturalista exclusiva para mulheres na minissérie Top of the Lake.

Thelma & Louise

As duas amigas no centro do clássico absoluto de Ridley Scott de 1991 começam suas jornadas como uma garçonete com atitude e uma dona-de-casa presa em um relacionamento abusivo, e terminam desafiando com garra uma autoridade que as lê como criminosas sem levar em conta os crimes cometidos contra elas no caminho. O ponto pivotal do filme é quando Louise (Susan Sarandon) atira fatalmente em um homem que tentava estuprar Thelma (Geena Davis) do lado de fora de um bar em que as duas pararam para se divertir. Pode parecer um ponto de partida sombrio, mas Thelma & Louise, o filme, é uma dramédia agridoce sobre a forma como a sociedade vê mulheres que se defender e se posicionar como independentes.

Davis e Sarandon são uma dupla para nunca mais esquecer, seja pelo icônico final do filme, um dos mais merecidamente lembrados da história do cinema, ou pelas próprias atuações, que escondem tons amargos e ácidos embaixo da doçura e do carisma da relação dessas duas mulheres, dos objetivos de sua viagem e de cada escolha que fazem pelo caminho. Para completar, está aqui um raro filme que prefere objetificar um homem (Brad Pitt em comecinho de carreira) do que as mulheres que o protagonizam.

Algumas menções honrosas: A Noiva/Beatrix Kiddo (Uma Thurman) em Kill Bill (2003-2004); Viúva Negra/Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) nos filmes da Marvel (2010-2016); Trinity (Carrie-Anne Moss) na série Matrix (1999-2003); Clarice Starling (Jodie Foster/Julianne Moore) em O Silêncio dos Inocentes (1991) e Hannibal (2001); Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) em Mad Max: Estrada da Fúria (2015).

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