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Dona Hermínia encontra ponto fraco do brasileiro e passa a perna em Star Wars

No último dia 15 de dezembro, um dos filmes mais aguardados dos últimos tempos finalmente estreou: Rogue One, o primeiro spin-off do universo Star Wars finalmente chegou aos cinemas mundiais depois de vários meses de expectativas, levando mais de 900 mil pessoas aos cinemas no Brasil – sucesso absoluto.

Uma semana depois, no dia 22 de dezembro, mais uma comédia brasileira chega às telonas: Minha Mãe é uma Peça 2, onde Paulo Gustavo dá vida novamente à icônica Dona Hermínia. O filme, que essencialmente não apresenta nada de novo em relação ao seu antecessor, arrebanhou mais de 700 mil pessoas na primeira semana no circuito (contra pouco mais de 400 mil referente ao primeiro filme); uma marca significativa para os padrões nacionais.

Na terceira semana de Rogue One, entretanto, algo inesperado aconteceu: mais 739 mil pessoas foram assistir às loucuras de Dona Hermínia, fazendo Minha Mãe é uma Peça 2, que até então estava em sua segunda semana, alcançar a marca de 2,8 milhões de espectadores – suficiente para atropelar filmes como Sing e o gigante Rogue One, que fechara a terceira semana com 2,3 milhões de espectadores.

De lá pra cá, o inesperado tornou-se realidade, e Dona Hermínia foi soberana por três semanas, até que finalmente deu espaço a Assassin’s Creed na última quinta. Ainda assim, Rogue One alcançou pouco mais de 2,7 milhões na sua quarta semana, enquanto o filme de Paulo Gustavo disparou para quase seis milhões com o mesmo tempo de exibição.

Teria Dona Hermínia encontrado o ponto fraco do brasileiro para que fosse capaz de passar a perna tão categoricamente no fenômeno Star Wars?

Paulo Gustavo como Dona Hermínia
Paulo Gustavo como Dona Hermínia

O apelo àquilo que nos é instintivo

A resposta à pergunta anterior só poderia ser uma: sim. Dirigido por César Rodrigues, Minha Mãe é uma Peça 2, assim como seu antecessor, avança pelas bordas, arrebatando até o espectador mais sisudo.

Mas antes de chegarmos a esse ponto, analisemos Rogue One: não é todo dia que se faz um filme onde já sabemos o final (pelos acontecimentos do spin-off se passarem entre dois episódios de Star Wars, já tínhamos uma boa ideia do que aconteceria). Ainda assim, o diretor Gareth Edwards fez jus à franquia, e entregou um resultado formidável, merecedor de toda a supremacia das bilheterias mundiais.

Crítica | Rogue One: Uma História Star Wars

Rogue One explorou a esperança, a persistência humana. É um filme denso, pesado, em algumas cenas, quase sombrio, que nos mostra a importância de resistir em tempos de opressão e tirania. Ainda assim – e, como fã assumido do universo Star Wars, não tenho a intenção de criticar sem fundamentos – devemos lembrar que Rogue One é, sim, um filme para quem já está familiarizado com esse universo. Ainda que um espectador de primeira viagem se aventurasse pelas tropas rebeldes, ele não entenderia a emoção da aparição surpresa da Princesa Leia ao final do filme, por exemplo.

Dessa forma, ainda que sim, atraia o público novo, Rogue One acaba sendo majoritariamente assistido pelos fãs de longa data, que já estremecem ao som do tema de John Williams, criado ainda lá atrás.

Toda a grandiosidade da produção de Rogue One não é vista em Minha Mãe é uma Peça 2 – são gêneros diferentes, países diferentes, orçamentos diferentes. Mas é exatamente a modéstia do filme de Paulo Gustavo que fez com que a comédia desbancasse Rogue One por três longas semanas.

Minha Mãe é uma Peça 2, como já dito, não apresenta nada de novo. Muda-se o plano de fundo, mantém-se as situações: uma mãe solteira de meia idade, criando os dois filhos adolescentes que não param de deixá-la nervosa. O que haveria de mais brasileiro? Leve, o filme acaba caindo nas graças de toda a família – seja os pais, que identificam os próprios filhos no filme; ou os filhos, que veem a própria mãe refletida na louca Hermínia. É um filme que une a família até mesmo após o seu término, por mais que soe chicle.

Crítica 2 | Minha Mãe É Uma Peça 2

O humor de Paulo Gustavo é bem dosado e sutil, de grande qualidade. E talvez o maior mérito da franquia Minha Mãe é uma Peça seja apelar, de modo extremamente sincero, àquilo que nos é mais instintivo: o amor de mãe. Não somos ensinados a amá-las, não questionamos a origem desse amor. Simplesmente amamos, e isso basta. Enquanto essa relação for abordada da forma sincera com que Minha Mãe é uma Peça aborda, poderá haver ainda mais 10 continuações da franquia que, por mais que nada de novo seja acrescentado, certamente será visto e revisto.

Ainda que todos devessem tirar lições sobre política e questões sociais através de Star Wars, sempre haverá quem não tenha muita paciência para fantasias intergalácticas, ou que não queira assistir uma franquia a partir da metade. Mas para nossas mães – e Dona Hermínia consegue encarnar a minha, a sua, e todas as outras mães do Brasil – sempre teremos a maior paciência e todo o tempo do mundo.

Paulo Gustavo em Minha Mãe é uma Peça 2
Paulo Gustavo em Minha Mãe é uma Peça 2

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