Ed Wood, a cinebiografia de Tim Burton sobre “o pior diretor de todos os tempos”, pode ter sido queridinha da crítica (com 92% de aprovação no Rotten Tomatoes), mas não teve sucesso em bilheteria.
A comédia arrecadou menos de um terço do orçamento de US$ 18 milhões, um recorde negativo para Burton. Jim Carrey era o grande sucesso de 1994. Mas Ed Wood não se parecia nada com uma comédia de Carrey.
Sombrio, doce e contido (ao menos para os padrões de Tim Burton), Ed Wood narra a vida de Edward D. Wood Jr. (Johnny Depp), um aspirante a cineasta na década de 1950 que faz amizade com seu herói, o decadente e viciado ator Bela Lugosi (Martin Landau), e comanda várias produções de gosto muito duvidoso com uma equipe desajustada.
Aqui estão apenas algumas razões pelas quais Ed Wood permanece como um marco para Tim Burton, Johnny Depp e praticamente todos os envolvidos – e envelheceu muito bem 25 anos depois de chegar aos cinemas.
É a menor produção de Tim Burton
Espere, então para onde foi o cara que se encantou com as festas visuais de Batman e Os Fantasmas Se Divertem? Ele está ausente aqui.
Há alguns elementos da carreira de Tim Burton aqui, mas no geral, o diretor coloca a história como foco, com seu estilo distinto em segundo lugar – um caso raro para Burton. Ed Wood é, no mínimo, vistoso, permitindo que o roteiro respire e as ótimas atuações não sejam atrapalhadas.
Além disso, com uma linda fotografia em preto e branco (graças ao diretor de fotografia Stefan Czapsky, grande parceiro de Burton), por que complicar as coisas? O diretor foi tão inflexível quanto a Ed Wood ser monocromático que a Columbia desistiu de financiar a produção (a Disney mais tarde assumiu os custos).
A obra mais pessoal do diretor
Não é difícil entender por que Tim Burton se relacionaria com uma história sobre um jovem diretor excêntrico se relacionando com seu ídolo de infância.
Burton sempre adorou Vincent Price, escalando-o em alguns de seus projetos, e, como nesse relacionamento, aquele entre Wood de olhos arregalados e Lugosi envelhecido possui uma agradável apreciação mútua.
Enquanto Ed Wood trabalha a dinâmica entre Johnny Depp e Martin Landau com teor cômico, o bromance sempre soa estranhamente doce. Ed Wood era, acima de tudo, alguém que trabalhava por amor e Burton é parecido – ele até se recusou a receber um salário pelo longa para que pudesse ter total controle criativo.
As atuações são ótimas
O sucesso de qualquer comédia de amigos – e Ed Wood é uma delas – se baseia na química de suas estrelas.
Johnny Depp é otimista, implacável e entusiasta como Ed Wood, dosando bem os tiques sem que pareçam absurdos (diferente de muitas performances mais recentes do ator). Wood é ridículo, mas adorável.
Landau também adiciona muito peso emocional real ao que poderia ser um Lugosi caricatural, razão pela qual conquistou um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Sarah Jessica Parker é uma ótima atriz cômica como a namorada encorajadora (e depois desaprovadora) de Wood, e Bill Murray é brilhante como o aspirante a transexual John “Bunny” Breckinridge.
Roteiro veloz, mas na medida certa
“Imaginamos Ed Wood como um filme mais independente, porque tínhamos escrito dois grandes sucessos de Hollywood com os quais estávamos muito insatisfeitos”, disse o co-escritor Larry Karaszewski.
Dá para compreendê-lo: o roteiro dele e de Scott Alexander, escrito em meras seis semanas após a aprovação de Tim Burton, tem uma qualidade peculiar. É dirigido pelos personagens, não pelas vozes vindo de um grande estúdio ou de um diretor de grandes negócios.
Burton se mostrou essencial nesse sentido, controlando as próprias sensibilidades que o tornaram um nome popular, especialmente com um roteiro repleto de diálogos tão rápidos.
À frente do seu tempo
Ed Wood pode não ter sido um grande sucesso como Pulp Fiction em 1994, mas abriu as portas para projetos contando histórias de cineastas com gostos questionáveis.
Boogie Nights, de Paul Thomas Anderson, lançado alguns anos depois, adotou um espírito parecido, mas abordando o início da indústria pornográfica. Curiosamente, até existe uma fala de Ed Wood em Boogie Nights, quando o personagem de Burt Reynolds diz: “Este é o filme pelo qual serei lembrado.”
A Vida Marinha com Steve Zissou, de Wes Anderson, uma refilmagem do “pior filme de todos os tempos”, também conta com traços de Ed Wood, sem mencionar os inúmeros documentários sobre sonhadores entusiasmados, imperturbáveis e irreais – como American Movie e Anvil! The Story of Anvil.
É um longa muito subestimado – e provavelmente o melhor da carreira de Burton, juntamente com Edward Mãos de Tesoura.