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13 Reasons Why | Crítica - 3ª Temporada

Com uma devida proposta de reparação, 13 Reasons Why entrega uma terceira temporada que, apesar de continuar demonstrando uma superficialidade incompatível com o tom de sua narrativa, acaba sendo a melhor da série. Um feito não muito difícil, uma vez que o primeiro ano foi marcado por equívocos polêmicos, enquanto o segundo nem sequer deveria ter visto a luz do dia. 

Uma das séries mais barulhentas da Netflix, 13 Reasons Why dedicou seus esforços iniciais ao que considerava ser uma proposta chamativa, que estimularia a discussão sobre tópicos complexos e delicados, mas cuja necessidade de serem discutidos eram imprescindível. O resultado, no entanto, acabou sendo uma produção nada menos que irresponsável, romantizando e prejudicando os debates que pretendia promover, e entregando construções imaturas para personagens estereotipados, ao invés de complexos (um ponto que o terceiro ano já se propôs a revirar). 

No segundo ano, então, a série decidiu tentar expandir sua perspectiva sobre este universo adolescente, mas além de manter-se irresponsavelmente provocativa, ainda demonstrou uma exaustão narrativa desgastante para o espectador, uma vez que seu material original havia se esgotado. Não é preciso ir muito além para ilustrar o quanto a minha disposição para esta nova leva de episódios era bem baixa…

Contudo, acabei sendo positivamente surpreendido pela novas tentativas de reparação que a série procura prezar nessa terceira temporada. Ainda que o novo ano traga diversos problemas, ao menos os espectadores podem, finalmente, acompanhar uma evolução destes sensíveis debates, com a série tentando entregar soluções bem mais adequadas do que no passado, e uma narrativa focada naquilo que a série conseguia trazer de melhor no seu início, apesar dos equívocos: um suspense adolescente com construções atmosféricas competentes, trabalhos de fotografia interessantes e tensão envolvente. 

O terceiro ano de 13 Reasons Why continua evidenciando problemas sociais ao longo de seus episódios, mas tal qual a primeira temporada girava em torno dos mistérios envolvendo os “porquês” de Hannah Baker, desta vez a história se desenvolve ao redor do iminente assassinato de Bryce Walker, antes o raso antagonista absoluto da série. 

Temos também uma nova narradora. A personagem Ani (Grace Saif), novata no colégio, que proporciona um distanciamento saudável de Hannah e suas fitas (além de um sotaque britânico para acompanhar cada episódio), e nos traz perguntas interessantes ao longo de seu relato, mesmo que a série nem sempre consiga respondê-las de forma substancial. Ani está claramente falando com a polícia enquanto repassa os acontecimentos que observou desde que conheceu este grupo de personagens, e leva o espectador pelas diferentes linhas temporais desta temporada. 

A estrutura envolvendo períodos distintos desta história, que culminarão na resolução do assassinato de Bryce (Justin Prentice), procura ilustrar tais distinções através da fotografia (paleta de cores quentes para o passado, e frias para o presente, além de formatos diferentes de tela). Porém, mesmo com esta distinção visual eficiente, a narrativa da temporada acaba sendo confusa em certos momentos, além de prejudicar seu desenvolvimento com revelações redundantes e sequências cujas contribuições para a progressão da trama são tão desnecessariamente alongadas quanto se via na segunda temporada. 

Estes equívocos estruturais também acabam afetando negativamente o ritmo da série, que já não possui uma dinâmica tão confortável com suas várias (a grande maioria) cenas envolvendo dois personagens meramente discutindo uma situação passada, se questionando, se acusando, se lamentando, ou entregando uma pontual fala reveladora. Treze episódios é um número alto demais para contar esta história, que se inicia de forma envolvente, mas cujo ritmo só volta a engajar completamente o espectador durante a reta final. 

Uma vez apontados estes problemas, é necessário perceber o quanto 13 Reasons Why procurou reformular suas abordagens de forma produtiva para esta nova temporada. Uma das principais (e justas) críticas ao primeiro ano, foi a maneira como a série retratou a depressão e o suicídio de Hannah (Katherine Langford), bem com suas consequências para os outros personagens. E com o final da segunda temporada tentando ser tão chocante quanto o anterior, poderia se esperar que a série não aprendesse a lição, e resolvesse dedicar este novo ano a explorar a (tão polêmica, se não mais) discussão sobre tiroteios em escolas, envolvendo o personagem Tyler. 

No entanto, a série resolveu enaltecer aquilo que mais faltava em suas representações anteriores, e retratou a trajetória de Tyler (Devin Druid) de forma mais edificante para o espectador, com o personagem passando pelo processo de compreensão de seu trauma, e da eventual superação, resultando em um cenário mais esperançoso e gratificante.

Tal visão otimista também está presente na reflexão que a série procura abordar sobre Bryce, e seus aparentes esforços visando redenção para o personagem. O interior do personagem passa a contrastar com a maneira como é enxergado por todos a sua volta, em um processo de humanização que torna-se menos questionável ao evidenciar que a absolvição é impossível, e que a penitência é inevitável, mas onde há um espaço produtivo para se considerar a mudança da mentalidade de um indivíduo.  

 É curioso como a série nem sempre consegue deixar claro quando está produzindo discursos equivocados apenas para trabalhar estes erros dentro da história, ou se está meramente equivocada por si só. Mas há uma fala da personagem Jessica que, em um contexto apropriado, poderia representar muito do que pode ser visto como uma evolução para esta temporada: “Pessoas precisam conseguir falar, antes de gritar”. E felizmente, diversas partes do foi dito nestas novas tramas contribuem positivamente para o avanço de discussões atuais, ainda que não sejam, necessariamente, tão catárticas quanto a série gostaria. 

13 Reasons Why continua correndo atrás do prejuízo que foi uma consequência inevitável de sua proposta inicial. Afinal, esta é uma série sobre adolescentes, que segue convenções narrativas adolescentes e com argumentações cuja superficialidade é típica da mentalidade adolescente,mas ainda assim, não é uma produção que pode ser indicada para adolescentes, por conta de intenções cuja complexidade requer um discernimento mais maduro. 

Ao menos, esta terceira temporada soube elevar o seu discurso além de romantizações problemáticas e se dispôs a propor saídas construtivas e encorajadoras para o seu público. Se a quarta temporada seguir esta evolução, pode ser que toda esta empreitada não seja lembrada apenas por seus equívocos. 

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