Desde sua estreia na Netflix há quatro anos, Casamento às Cegas já produziu oito casamentos, dois bebês a caminho, alguns divórcios, e incontáveis separações confusas, além de dezenas de horas de entretenimento — ocasionalmente chocante — nos realities.
Em 14 de fevereiro, a sexta temporada do programa começou a ser transmitida, desta vez ambientada em Charlotte, na Carolina do Norte. Os apresentadores Nick e Vanessa Lachey mais uma vez guiarão um grupo de pessoas ansiosas para encontrar o amor — e/ou seguidores nas redes sociais — por meio de um cenário de namoro projetado para determinar se o amor realmente é cego.
Após se conhecerem através de uma parede em pequenos quartos de isolamento chamados pods por cerca de 10 dias, os participantes ficam noivos sem nunca terem se visto, e então passam um mês morando juntos antes de se encontrarem no altar para se comprometerem ou terminarem.
Se você já sabe de tudo isso porque não consegue desviar o olhar, está em boa companhia: os terapeutas de relacionamento também adoram Casamento às Cegas, e não porque estão procurando por futuros clientes. “É simplesmente fascinante ver como as pessoas se conectam e se relacionam quando não conhecem o contexto externo em torno do status financeiro e da aparência e todas as coisas que influenciam como você julga uma pessoa”, diz Julia Baum, uma terapeuta de Nova York que assistiu a todos os episódios. “É realmente interessante, especialmente quando você vê pessoas que você não esperaria que se conectassem nos pods.”
Dito isso, há muitas maneiras pelas quais o programa poderia melhorar. Foi perguntado aos terapeutas o que eles mudariam em Casamento às Cegas se fossem showrunners por um dia.
A seleção de participantes deve se diversificar
Os participantes de Casamento às Cegas não sabem como são fisicamente as pessoas com quem estão namorando, mas podem razoavelmente supor que vão gostar do que veem. O programa é conhecido por selecionar pessoas convencionalmente atraentes com pouca diversidade de corpos.
Idealmente, a seleção de participantes se diversificaria de várias maneiras, diz Nicole Hind, uma terapeuta de casais baseada na Austrália. Por um lado, a idade: Muitas pessoas no programa estão em seus 20 ou início dos 30 anos. Que tal uma temporada com solteiros com 40 anos ou mais?
Ela também instiga os produtores a trazerem participantes que não se encaixam em um padrão de beleza, incluindo aqueles que têm uma deficiência ou um peso corporal mais elevado. E seria mais interessante se várias sexualidades fossem apresentadas. E se Casamento às Cegas apresentasse pessoas abertamente bissexuais, assexuais ou pansexuais? Hind suspeita que seria um sucesso: “Essa é uma das razões pelas quais as pessoas assistem à realities”, diz ela. “Para ver uma janela para os outros” – ou para terem suas próprias identidades refletidas de alguma forma.
Avisar os participantes sobre sinais de alerta
Johana Jimenez, uma terapeuta de Addison, Texas, quer que os participantes saibam detalhes importantes sobre quem estão namorando através da parede. Durante os três primeiros encontros, cada pessoa deveria entrar nos pods para encontrar uma carta que revele um sinal verde, ou atributo positivo, sobre o participante que estão conhecendo. “Poderia ser educação, renda, espírito empreendedor ou que eles amam cantar” – algum outro detalhe que os produtores suspeitam que o potencial noivo da pessoa apreciaria, diz ela.
Após três encontros, à medida que o relacionamento se torna mais sério, os produtores começariam a entregar sinais vermelhos para os pods, mas desta vez, os envelopes revelariam pontos de ruptura que os produtores descobriram durante o processo de seleção. Na quinta temporada, por exemplo, Stacy Snyder poderia ter sido informada da baixa pontuação de crédito de Izzy Zapata, o que a deixou frustrada ao descobrir semanas depois de sair dos pods e, no final, contribuiu para a separação deles. “Às vezes, os participantes não mencionam coisas que são cruciais para a outra pessoa saber”, diz Jimenez. “E eu sei que isso gera um bom drama, mas as pessoas estão tendo seus corações partidos.”
Ofereça terapia (e deixe-nos assistir)
Além dos apresentadores famosos do programa, os participantes são essencialmente deixados por conta própria para descobrir com quem ficar noivo, como navegar nos inevitáveis conflitos que surgem e se devem se casar. Talvez ela seja tendenciosa, mas esse tipo de estresse pede a presença de um terapeuta na tela, diz Stephanie Yates-Anyabwile, terapeuta de casais e famílias em Decatur, Geórgia, que posta vídeos de reações a Love Is Blind no YouTube.
Idealmente, um terapeuta estaria presente nas áreas comuns onde os participantes se reúnem com outros participantes do mesmo sexo quando não estão em encontros nos pods, ajudando-os a lidar com suas emoções do dia. Um membro do elenco poderia dizer: “‘Ei, estou com dificuldade em escolher entre duas pessoas'”, observa Yates-Anyabwile.
Os terapeutas também poderiam fornecer aos participantes uma lista de perguntas para fazer ao seu potencial cônjuge, diz Luree Benjamin, terapeuta de casais e famílias em Henderson, Carolina do Norte. Por exemplo: Quais são os seus limites quando se trata de raiva? “Gritar e bater portas são permitidos? Sair de casa?” ela pergunta. “Por quanto tempo vocês permanecem desconectados um do outro?” Também seria inteligente explorar como a outra pessoa se sente sobre as redes sociais — e até que ponto suas vidas pós-show seriam transmitidas para novos seguidores.
Mais mulheres deveriam propor casamento
As mulheres raramente fazem propostas em Casamento às Cegas, embora o criador do programa tenha dito no passado que isso é permitido. Em um mundo ideal, as mulheres responderiam por pelo menos metade das propostas, diz Baum, a terapeuta de Nova York. “A suposição de que as mulheres no programa são ‘damas à espera’ é tóxica”, diz ela. “Acho que seria melhor para os telespectadores terem isso normalizado: uma mulher pode tomar essa iniciativa.” Além de ajudar a quebrar normas arcaicas, Baum destaca, imagine as percepções que poderiam ser obtidas sobre um futuro parceiro. Se um homem se ofender porque seu grande momento foi roubado, talvez ele não seja tão interessante.
Trazer um mediador para o set
Ex-participantes do Casamento às Cegas falaram sobre a forma como os membros do elenco são tratados durante as filmagens, e pelo menos três entraram com processos por motivos que incluem assédio sexual e até mesmo prisão falsa. Para garantir que futuros participantes não sejam explorados ou prejudicados, o psicoterapeuta Kirk Honda imagina um mediador que esteja sempre presente no set. Segundo ele, essa pessoa operaria de forma semelhante aos coordenadores de intimidade que se tornaram padrão em Hollywood. “São indivíduos contratados que têm poder e podem intervir e dizer não”, diz Honda, que apresenta o podcast e canal do YouTube Psychology In Seattle, e frequentemente publica vídeos de reações ao Casamento às Cegas. “Ou eles vão chamar um participante de lado e perguntar: ‘Como você está? Está se sentindo bem com isso?'” Essa mudança também ajudaria os telespectadores a se sentirem melhor ao assistir ao reality, que às vezes é antiética.
Limitar o consumo de álcool
Os cálices dourados apresentados no Casamento às Cegas recebem mais tempo de tela do que alguns dos participantes. O álcool parece fluir abundantemente — e ex-participantes alegaram que foram encorajados a beber. Atkins tem uma ideia: moderação. Os membros do elenco poderiam ser limitados a um certo número de bebidas por dia, ou orientados a se abster. “Pessoas sóbrias tomam decisões melhores sobre seus enredos legais e financeiros ao longo da vida”, diz ela. Com o casamento em jogo, em uma situação altamente não convencional, os participantes se sairiam melhor estando o mais lúcidos possível.
Focar mais nas histórias de amor
Um reality show nem sempre reflete a realidade. Se Honda estivesse encarregado do Casamento às Cegas, ele seria mais verdadeiro na edição. Na quarta temporada, por exemplo, Jackie Bonds foi retratada como reatando com o antigo pretendente Josh Demas antes de terminar com o noivo Marshall Glaze. A suposta infidelidade causou indignação entre os fãs — mas, como os astros confirmaram mais tarde, os eventos foram mostrados fora de ordem. Os dois já haviam se separado. “Quando descobrimos que mentiras estão ocorrendo, perde toda a sua força e apelo como um reality show'”, diz Honda.
Yates-Anyabwile concorda com essa ideia: ela reformularia o programa focando mais nas histórias de amor e menos no drama fabricado. “Acho que passamos a acreditar que o drama traz números”, diz ela. “Mas está se tornando demais — você começa a perder o interesse e o engajamento após um certo ponto.”