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Arrested Development | Crítica - 5ª Temporada - Parte 2

Com a quinta temporada concluída (e a segunda depois de ser ressuscitada), Arrested Development não só precisa, como merece ser deixada em paz, por que não há como negar que as desventuras da família Bluth se encaixam muito melhor nas memórias da geração anterior de espectadores, do que na tela da televisão atual.

Mais de dez anos atrás, quando eu estava no início da minha fascinação por séries, haviam duas grandes comoções que os fãs da televisão americana nunca deixaram para trás. A primeira, foi o cancelamento precoce da série de ficção-científica de Joss Whedon, Firefly (fica para um outro texto). E a segunda foi a crescente re-descoberta (e frustração, por também ter sido cancelada precocemente) de Arrested Development.

Em seu primeiro ciclo, Arrested Development trazia uma abordagem distinta para as típicas séries de núcleo familiar que sempre permearam a tv americana. Nem um pouco convencionais, as tramas que regiam cada episódio traziam um equilíbrio cativante entre a relação dos personagens e os absurdos que os cercavam. Disposta a brincar com seus formatos, a série ainda contava com a narração do diretor Ron Howard (hoje conhecido por O Código Da Vinci e Solo – Uma HIstória Star Wars), proporcionando piadas metalinguísticas que ajudariam Arrested Development a se tornar um fenômeno “cult” por conta de suas peculiaridades.

Com três temporadas, a série foi cancelada, mas a comoção foi tão grande, que a Netflix não perdeu tempo em trazer a produção de volta dos mortos assim que iniciou suas empreitadas com séries originais da plataforma. E depois de uma quarta temporada equivocada (que foi, inclusive, reeditada para ser melhor consumida pelo público), o quinto ano de Arrested Development pode ter conseguido reproduzir parte de seu charme com execuções mais similares às de suas origens, mas dificilmente conseguiria provar que a série ainda possui qualquer parte da relevância que tinha, anos atrás.

É claro que poderíamos colocar a culpa desta perda de relevância no público, muito mais acostumado, hoje em dia, à comédias excêntricas que desafiam convenções do gênero na TV. Mas a verdade, é que os divertidos personagens da série simplesmente não soam mais tão interessantes quanto eram durante o primeiro ciclo, na década passada. Suas trajetórias, sempre marcadas por desenvolvimentos malucos que necessitavam de uma suspensão de descrença do espectador, não conseguem mais criar o mesmo impacto que gera tal suspensão tão facilmente.

Em parte, a última leva de episódios continua tentando aproveitar os elementos que tornaram Arrested Development tão marcante para o público cativo, mas ao mesmo tempo em que busca manter-se reconhecível, também não se permite grandes alterações que poderiam tornar esta nova temporada, mais memorável.

A série sempre foi marcada por seus absurdos. Características de outros gêneros e formatos chegam a se misturar em meio aos desenvolvimentos da família Bluth e cativavam o espectador por conta da casualidade com que a série trata estes momentos (para mim, o maior choque foi quando Buster perdeu sua mão para uma foca, e a série realmente teve a audácia de alterar o personagem dessa forma, permanentemente).

Tal casualidade da narrativa gera um humor descarado que só ganha ainda mais brilho na voz de Ron Howard, calmamente detalhando as progressões e consequências destas tramas. E embora a quinta temporada tenha se esforçado para manter esta dinâmica viva, é justo dizer que talvez o roteiro tenha ido longe demais para o seu próprio bem. O melhor exemplo, talvez, seja justamente o último episódio da série, que traz reviravolta atrás de reviravolta apenas pelo efeito imediato, constituindo aquilo que costuma-se chamar de “gratuidade” em uma narrativa.

Também uma consequência desta necessidade da série se manter absurdamente vivaz, alguns dos personagens foram sendo reconfigurados ao ponto de se tornarem incondizentes com a série. Tobias (David Funke) é, com certeza, o mais afetado por aqui, tornando-se uma piada recorrente pouco integrada ao desenvolvimento dos episódios como um todo (a saída de Portia de Rossi, é claro, também não ajudou). Maeby (Alia Shawkat) também acaba sendo jogada de um lado para o outro quando não está apenas tentando trazer a sua mesma dinâmica de sempre com George Michael (Michael Cera). No outro extremo da abordagem, a personalidade pouco alterada de Gob (Will Arnett) já soa incrivelmente cansativa dentro de suas tramas.

A narração de Ron Howard não só continua eficiente para manter o ritmo dos episódios envolvente, como também acaba sendo um ponto alto perto de qualquer outro elemento da série. No entanto, a constante inserção de recapitulações (que diferente das “prévias falsas”, não procuram criar situações cômicas), é um elemento que além de alongar os episódios desnecessariamente, poderia ser facilmente dispensado em uma plataforma como a Netflix. Na época em que a série passava na TV aberta americana semanalmente, re-contextualizações eram ótimas para informar espectadores casuais. Em 2019, na Netflix, acaba sendo apenas uma subestimação do espectador.

E mesmo repleta de nomes conhecidos do público, tanto no elenco principal, quanto nas participações especiais, a nova fase de Arrested Development é marcada por uma dificuldade em manter todas as suas linhas e personagens em equilíbrio, tirando a fluidez da narrativa que é ainda mais essencial numa plataforma de streaming, para o espectador atual. Perca cinco minutos de um episódio, e é bem possível que vários momentos da série te deixem notavelmente confuso. Por um lado, isso exige um engajamento ainda maior do público, que deve ser relembrado em discussões futuras sobre a televisão. No cenário atual, no entanto, é um aspecto culpado por causar o fim de várias produções.

Arrested Development começou como uma série sobre as bagunças de uma família, mas encerra seu quinto ano apenas como uma série bagunçada, que embora ainda tenha alguns surtos de criatividade espalhados pela temporada, dificilmente justifica a sua re-existência. E mesmo com as tentativas de manter os tópicos da série, mais contemporâneos (politicamente) do que se esperaria, não vejo a série conseguindo dialogar com a nova geração de espectadores.

Com seu humor ímpar, Arrested Development pode continuar agradando aqueles que ainda continuam assistindo a série com o mesmo prestígio de sempre. Para quem se dispõe, há sim o que se aproveitar dentro da loucura que é a vida da família Bluth, mas o tempo em que tal disposição era realmente recompensadora, já ficou para trás.

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