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Bright | Crítica

Durante seu painel exclusivo na Comic Con Experience, foi transmitido pela primeira vez o filme Bright, longa-metragem original da Netflix.

Bright estrela Will Smith (Um Maluco No Pedaço, Homens de Preto) e Joel Edgterton (O Grande Gatsby, Guerreiro), uma dupla de policiais dentro de um universo mitológico fantasioso, envolvendo fadas, elfos e principalmente orcs. A cidade ambientada de maneira urbana mas com essa mescla distópica mitologia sem necessariamente ser futurística, é Los Angeles, que habita não somente humanos mas elfos – a casta mais superior e rica – e os orcs, sancionados a preconceitos originários não somente da população humana mas também em um cerne mais social e escalonado. Em fato, citam um certo evento de que um Deus Orc veio à Terra há muito tempo para liderar seu povo contra outras raças, incluindo a dos humanos. Portanto, esse receio e ódio são enraizados dentro dessa cultura.

O personagem de Joel é um orc. Nick Jakoby é um renegado. Saiu de sua população – com sua cultura e destino pré-inscritos – para ser um oficial de polícia, se misturando aos humanos na corporação. Em decorrência, há um nítido preconceito por parte dessa sociedade para com a casta inferior. Sua jornada estar cercada de olhos tortos sofreu consequências mais pesadas quando o parceiro, Ward (Smith) foi baleado por outro orc enquanto Nick estava comprando um lanche e não o protegeu. Na verdade, esse caso levantou diversas suspeitas pelo fato de que Nick não conseguiu capturar ou balear o criminoso. Isso fez crer que foi convalescente com seu irmão de espécie, gerando suspeitas por parte de Ward.

Ward, motivado por esse fato e por questões mais sociais, é um policial preconceituoso com as outras castas, principalmente com os orcs. São tidos como sujos, nojentos e com hábitos bem diferentes dos realizados pelos humanos. Mas o dever da segurança, independente de qual casta social está interferida na ocasião. O que é bradado e dito pelo próprio Nick. Ambos acabam sendo arremedados dentro da mitologia da história do filme. Há os brightes, uma espécie de ser vivo que é capaz de empunhar as varinhas mágicas (artefatos poderosos) que concedem desejos e realizam ações através de conjurações e feitiços. Está sendo caçada pelos Agentes Especiais de Magia (onde um Elfo lidera as ações) e pelos Inferni, um grupo de elfos renegados que está buscando o artefato para trazer o Senhor das Trevas para dominar o mundo. Nessa situação/caça ao rato estão inseridos os dois protagonistas, que agora também têm de defender a elfa/bright Tikka (Lucry Fry).

A direção do longa-metragem é de David Ayer, que despontou no início de sua carreira com Os Reis da Rua e Marcados para Morrer, atingindo seu nível máximo de realização profissional com o filme Corações de Ferro. Porém, desde 2014, não se encontra em sua própria condução dos roteiros e das adaptações dos argumentos, esquecendo-se de focalizar na temática mais urgente com aproximações simplistas e originais. Peca novamente – e consideravelmente forte – em Bright. Obviamente que nenhum nível acima imaginável devia ter sido exigido pela Netflix, mas nada exime Ayer da culpa de ter repetidos os mesmos erros de Esquadrão Suicida, seu projeto no universo cinematográfico da DC. E dessa vez, o argumento da interferência do estúdio na montagem não pode ser aplicada. No entanto, é nítido verificar que há uma falta de ritmo na contagem da história. A alteração dos ambientes e a passagem dos atos não soam naturais. É apressada, reforça o senso de urgência para a resolução em um tempo do filme em situações importunas porque apesar de ter quase duas horas de duração, a partir do segundo ato – que é descoberta a elfa Tikka – a fuga se torna praticamente ininterrupta e, apesar de ser compreensível sua constante – manifesta que a construção dessa personagem e até mesmo sua interação maior com os protagonistas não foi tão importante. Para o final, é revelada uma informação que torna sua conexão com a vilã Leilah (Noomi Rapace) mais interessante e chamativa, mas ignorada e exposta em um momento que não foi coerente com essa questão.

Will Smith e Joel Edgerton demonstram boa química, dão uma sobrevida ao sofrível campo da atuação, sendo absurdamente dissonantes. Entretanto, possuem diálogos às vezes risíveis quando não era para ser e com um tom cômico pesado, que estressa ao ver que possuem também um maniqueísmo expositivo. A piada em muitas situações é continuada após já terem feito sentido ou graça, o que acaba prejudicando o próprio roteiro dentro dessas interações entre Ward e Nick, É distante da referência que Ayer citou, Um Dia de Treinamento. É complicado se basear nessa situação de tutoria-aprendiz quando não se é visto nenhum complemento desse elemento dentro do filme.

A mitologia construída, o universo e a miscelânea instituídos em Bright promovem uma interessante abordagem sobre os pontos sociais do racismo e do preconceito. É bem grafado, mas não atrapalha os ambientes físicos. Los Angeles em guetos conseguiram representar a exclusão sofrida pelos Orcs e a alta sociedade da cidade trouxe o universo à parte dos elfos bem-feitos em suas vidas.

Mas há tão pouco para se destacar em Bright de bom que as anedotas e os deslizes cometidos por Ayer – acréscimo do inconsistente roteiro de Max Landis – já as anulam. Confirma que David está inerte a uma queda brusca de qualidade em seus filmes. Muito distante do que consegue oferecer em personagens dentro das situações emergenciais. Na verdade, está mais próximo de se encontrar em um cenário de ilusão, onde acredita que elementos cruciais de seus filmes cooperam na coerência de suas obras, quando de fato, está as desperdiçando e inutilizando outras que viriam.

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