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Castlevania | Crítica - 2ª Temporada

Depois de uma primeira temporada cercada de elogios, Castlevania retorna ao Netflix querendo expandir sua mitologia, enquanto replica diversos elementos de seu material original para agradar os fãs mais fervorosos.

Desta vez, com oito episódios (ao invés dos quatro do primeiro ano), a expectativa do público era de que esta segunda temporada pudesse aproveitar sua maior duração para substancializar melhor os embates épicos que vinham sendo apresentados, até então. Não há dúvidas de que a série está consciente do apreço que seu público tem pelas cenas de violência excessiva, e procura entregar momentos tão chocantes quanto vimos no ano anterior.

No entanto, esta nova temporada dedica boa parte de seu tempo à contextualização de novos personagens, além de aprofundar seus cenários e dinâmicas, principalmente no que diz respeito à posição de Vlad Drácula Tepes neste universo. Enquanto no primeiro ano, boa parte do contexto da série era construído sem muita enrolação, restringindo-se a eventos essenciais para o andamento da narrativa, e deixando que diálogos expositivos pouco sutis preenchessem a maior parte de sua mitologia, a segunda temporada estrutura seus principais pontos de virada com mais calma, e ainda aproveita para incluir diversos momentos de alívio cômico em meio às suas tramas de conspiração política.

O trio formado por Trevor Belmont (Richard Armitage), Sypha (Alejandra Reynoso) e Alucard (James Callis), estabelecido após o final da primeira temporada, é curiosamente deixado de lado pelas novas tramas, relegados a gastar alguns episódios dentro do cofre da família Belmont, onde buscam por uma solução para enfrentar Drácula. Os três personagens protagonizam vários dos momentos cômicos que permeiam esta temporada, com Trevor sendo o alvo de diversas piadas e sarcasmos, em uma típica dinâmica de grupo onde os personagens começam a se conectar melhor, e se importar um com ou outro.

Enquanto o trio vai se tornando mais unido, os episódios redirecionam o foco principal para as intrigas políticas que estão permeando o castelo de Drácula, e seu traiçoeiro conselho de guerra, composto por vampiros de várias partes do mundo. Esta é, talvez, uma das maiores e melhores distinções da série, em relação ao seu material original, retratando vampiros que apresentam traços tipicamente árabes, chineses e, até mesmo, vikings, ao invés de manter este universo restrito ao estilo europeu que os jogos da franquia sempre atribuíram aos personagens.

Dentro deste conselho de guerra, Drácula enfrenta oposições de seus generais, que questionam sua raiva desenfreada e seus métodos pouco elaborados. Em meio a tantos vampiros cuja lealdade é duvidosa, o antagonista deposita sua confiança em dois humanos (mestres de forja, responsáveis por gerar os exércitos demônios): Hector e Isaac. Ambos acabam sendo os maiores protagonistas desta temporada, apresentando arcos narrativos muito mais substanciais do que qualquer outro personagem (Hector apresenta maior complexidade em seus dilemas, enquanto Isaac, com desenvolvimentos mais palpáveis, se prepara para virar um grande antagonista em temporadas futuras).

Esta brusca mudança de foco acaba deixando a série mais dispersa do que inicialmente se propunha, e pode deixar alguns espectadores frustrados por conta do lento desenvolvimento dos, até então, protagonistas desta história, em função de novos personagens (a estratégia chega a ser, às vezes, anticlimática). A real justificativa para tal abordagem, no entanto, está fora da série, e no fato de Hector e Isaac serem personagens importantes da franquia. Sem gastarmos muito tempo analisando a cronologia de Castlevania, basta dizer que a série está se aproveitando de lacunas no cânone dos jogos para construir estes personagens à sua própria maneira. Ainda menos comprometidos do que a primeira temporada, estes novos episódios complementam e rearranjam algumas tramas dos jogos, buscando compor sua própria identidade narrativa.

Mas, mesmo se distanciando das tramas originais, esta segunda temporada traz diversos elementos pontuais da franquia de jogos, como “chefes” de fase e habilidades especiais dos personagens, integrados à narrativa em um bom uso de “fan-service”, que não aliena novos espectadores, enquanto agrada os fãs antigos. Há uma maior diversidade de demônios, o que também é atrativo para o público-alvo, além de produzir cenas de ação mais deslumbrantes. O maior apelo de Castlevania continua sendo seu visual, com quadros imponentes e cenários detalhados, que seguem uma direção de arte diferenciada, perante outras animações americanas.

A animação desta nova temporada, no entanto, apresenta mais problemas do que foi visto no primeiro ano da série. Diversas sequências de ação parecem estar menos elaboradas do que anteriormente, com movimentações menos detalhadas e efeitos especiais abruptos, que podem incomodar o espectador. O desenho dos personagens em si, também possui momentos desconcertantes, anatomicamente incômodos, ou pouco verossímeis (Basta prestar atenção nas mãos da Isaac, quando este se ajoelha no deserto, por exemplo). Este é mais um problema possivelmente decorrente da maior contagem de episódios desta temporada, que provavelmente não teve tanto tempo de ser polida o suficiente para manter a consistência técnica da série.

Durante mais da metade da segunda temporada, os episódios seguem um ritmo menos acelerado do que o esperado, incluindo, até mesmo, sequências de “flashback” para alguns de seus personagens, que podem entreter o espectador, mas também acabam alongando os episódios mais do que o necessário. Chega a ser frustrante perceber que Castlevania não soube utilizar bem sua maior duração, neste segundo ano, caindo em algumas redundâncias que a primeira temporada nem mesmo poderia cogitar produzir. Colocar a trajetória de Trevor Belmont em segundo plano, perante a ascensão de Hector e Isaac, acaba deixando o impacto narrativo consideravelmente menos engajante para espectadores casuais, e faz a temporada soar como uma transição para tramas futuras.

Mas, ao se considerar toda a trajetória, Castlevania consegue produzir sequências eletrizantes e repletas de ação, conforme se aproxima da conclusão, que devem ser suficientes para recompensar a dedicação de seus espectadores. E como consequência de suas construções de novos personagens, apresenta um grande potencial para levar suas tramas adiante, seja reinventando-as, ou meramente seguindo-as deste ponto em diante. A história dos jogos abrange longos períodos de tempo, e diversos personagens ainda podem ser introduzidos conforme a série achar conveniente. Mesmo que esta temporada não tenha sido tão empolgante quanto a primeira, ainda há muito o que esperar de Castlevania, no futuro.

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