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Conheça a bizarra técnica médica que inspira Ratched na Netflix

Atenção! Contém spoilers da primeira temporada de Ratched.

Lançada recentemente pela Netflix, Ratched já está fazendo o maior sucesso entre fãs de thrillers e dramas psicológicos. Produzida por Ryan Murphy, a mente por trás de American Horror Story e estrelada pela excelente Sarah Paulson, a série conquistou o público do mundo inteiro ao adaptar personagens do clássico Um Estranho no Ninho.

Embora a primeira temporada da série foque quase inteiramente na história da enfermeira Mildred Ratched, outros personagens também ganham destaque e tramas próprias. Uma das narrativas mais interessantes envolve o Dr. Hanover e sua aparentemente inovadora técnica médica.

O procedimento “elegante” realizado pelo médico com um picador de gelo no segundo episódio se inspira em uma sinistra prática terapêutica que acontecia até pouco tempo na vida real: a lobotomia transorbital.

Confira abaixo tudo sobre a história e resultados desse método!

Inovadora e cruel

No segundo episódio de Ratched, o Dr. Hanover – interpretado por Jon Jon Briones – chama repórteres e oficiais do governo para a demonstração de uma técnica que prometia revolucionar o campo da psiquiatria e das doenças mentais: a lobotomia.

O médico mostra como a incisão de uma broca de metal no cérebro dos pacientes – desta vez realizada na parte lateral do crânio – poderia curar problemas como perda de memória, devaneios, e até mesmo a homossexualidade, que na época era considerada uma doença.

No entanto, durante a exibição, Dr. Hanover percebe que a introdução do pedaço de metal no crânio dos pacientes seria considerada violenta demais para a maior parte das pessoas. Uma agente do governo chega até a desmaiar após a demonstração.

Levando em conta as reações do “público”, o personagem inventa uma nova maneira para manipular a massa cinzenta dos pacientes sem penetrar diretamente no crânio.

É nesse momento que Ratched mostra seu primeiro exemplo de uma lobotomia transorbital, prática na qual um picador de gelo é introduzido na órbita dos olhos, e com isso chega até às regiões mais profundas do cérebro. O procedimento ocorre sem sangramento visível, mas mesmo assim faz uma das enfermeiras presentes vomitar.

A técnica “criada” pelo Dr. Hanover pode parecer estranha e cruel até mesmo em uma série de Ryan Murphy, porém chegou a ser usada como um tratamento relativamente comum entre os anos 40 e 50.

António Egas Moniz (que inclusive é citado em Ratched), criou a técnica nos anos 40, e foi premiado com o Nobel de Medicina em 1949 pelo procedimento. Hoje, o prêmio é considerado um dos mais controversos da história da organização do Nobel.

O uso da lobotomia cresceu dramaticamente em apenas uma década. Em 1951, cerca de 20 mil lobotomias foram realizadas nos Estados Unidos, a imensa maioria em mulheres.

Como a lobotomia transorbital simplesmente manipulava e cortada partes do cérebro sem análise prévia, os resultados variavam entre pacientes.

Imediatamente após a cirurgia, a maioria se sentia confusa e “aérea”. O aumento de peso também era um reflexo comum, como o que acontece com o Padre Richards após o procedimento improvisado por Mildred Ratched.

O objetivo da lobotomia era reduzir os sintomas de desordens mentais, que na época incluíam até mesmo homossexualidade, melancolia e perda de memória. De acordo com o psiquiatra britânico Maurice Partrirge, esse tipo de procedimento fazia sucesso por “reduzir a complexidade da vida psíquica”.

Como conexões entre os neurônios eram cortadas durante a lobotomia, a maioria dos pacientes sentia também uma enorme mudança de personalidade após o procedimento. Os lobotomizados ficavam dóceis e introspectivos.

Peter, um jovem que recebe uma das lobotomias do Dr. Hanover em Ratched, explica perfeitamente como os pacientes que se submetiam à técnica se sentiam após a cirurgia.

“Agora, não tenho mais nenhum pensamento”, afirma o garoto após uma pergunta da enfermeira Mildred Ratched.

Hoje em dia, a lobotomia é considerada um procedimento bárbaro, desnecessário, e que traz mais problemas do que benefícios. O procedimento foi basicamente banido dos Estados Unidos em 1967, após uma paciente sofrer hemorragia cerebral durante a cirurgia.

“É algo que simplesmente não fazemos hoje em dia, pegar um picador de gelo e mexer no cérebro sem nenhuma análise. A remoção de uma parte específica do cérebro é usada apenas para tratar pacientes para os quais todos os outros tratamentos já falharam”, afirmou o médico psiquiatra Barron Lerner.

A primeira temporada de Ratched já está disponível na Netflix.

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