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Crítica | 22 de Julho

Não seria tarefa fácil fazer um longa que abordasse os ataques em Oslo, capital da Noruega, e na ilha de Utoya no dia 22 de julho de 2011. Mesmo assim, fizeram, e dois de uma só vez. No início deste ano, foi exibido no Festival de Berlim, U – July 22 do cineasta norueguês Erik Poppe que também abordou o dia trágico, mas com um intento narrativo diferente de 22 de Julho do diretor Paul Greengrass, que foi exibido nos festivais de Veneza e Toronto.

22 de Julho rememora um dos ataques terroristas recentes mais chocantes, executados por apenas um homem, Anders Behring Breivik, um terrorista da extrema direita política. Anders era contra o multiculturalismo no país, além de ser opositor à política migratória. E, por vontade própria, planejou um ataque a bomba no prédio do governo na capital do país, matando oito pessoas, para menos de duas horas depois, atacar um acampamento de verão da ilha de Utoya, matando sessenta e nove pessoas, na maioria adolescentes e jovens que pertenciam a divisão da juventude do Partido Trabalhista na Noruega, representando a esquerda política.

O filme original da Netflix pode ser dividido facilmente em duas partes: na meia hora inicial, testemunhamos ambos os ataques; e nas quase duas horas restantes, as consequências e sequelas do trágico episódio, como os familiares tentando contatar ou saber de qualquer informação a respeito do que aconteceu, a recuperação de sobreviventes, e o julgamento de Anders.

As melhores qualidades do autor Paul Greengrass se encontram nessa primeira meia hora. Nela, temos os princípios típicos do gênero de filmes de ação. Algo familiar ao diretor, conhecido por dirigir três dos quatro filmes da cine série sobre Jason Bourne, um ex-assassino recrutado pela CIA. Assim, Greengrass está de volta com sua velha câmera trepidante, que funciona e harmoniza muito bem quando estamos no campo da ação, dando vibração e criando grande ansiedade do ponto de vista do espectador.

Aos mais sensíveis, as cenas do ataque na ilha podem ser desgastantes emocionalmente de se assistir, pois Greengrass não poupou eletricidade e trouxe com realismo gritante, o pânico instaurado em todo o ambiente. Nada fácil a quem assiste, além da ideia que fica do horror ao extremo que aconteceu ali.

Passando essa parte menor comparada ao restante do filme, é onde o longa de Greengrass dá suas escorregadas, seja na dinâmica ou em super exposições, além de exagero no sensacionalismo, como um violino que não para um minuto. Tanto que a trama tenta cobrir em parte o aspecto político do acontecido, questionando se o governo norueguês liderado pelo Primeiro Ministro não deixou a bola cair no quesito segurança. Essa ramificação da história central é apenas um galho torto, que nada abastece pensando no tratamento das personagens.

Ainda assim, nestas desigualdades no roteiro, o cineasta inglês conseguiu tirar boas performances de seu elenco, mesmo não as sustentando por toda a narrativa, caso do ator Anders Danielsen Lie que interpreta o assassino. Na parte dos atentados, o ator norueguês realmente consegue impressionar, pois mesmo que exista uma frieza ameaçadora em seus atos, é perceptível um pequeno traço de ansiedade no personagem. Já em outras partes, o ator se deixa cair em tiques, como o sorrisinho de leve que costuma demonstrar, toda vez, quando confiantemente explica o porquê de suas ações. Além do enredo oferecer quase nenhuma chance para observarmos nuances que dariam mais corpo ao personagem. Apenas em um momento é oferecido alguma situação de quebra para o assassino Anders, e o ator faz pouco proveito desta.

Quem consegue segurar melhor as mudanças e transições do enredo são: Jonas Strand Gravli, que interpreta Viljar Hanssen, um dos sobreviventes, e Jon Oigarden como Geir Lippestad, o advogado de defesa de Anders. Enquanto Gravli tem atuação mais vigorosa, Oigarden é mais sóbrio, o que ajuda criar uma relação de interesse com os fatos pós-ataques muito maior, sem contar que esse tom vai trincando quanto mais ele defende judicialmente seu cliente.

Assim é 22 de Julho da Netflix, irregular. Não tão diferente da filmografia de Paul Greengrass com seus altos e baixos. Se acertou nos filmes da franquia Jason Bourne, a parte o último de 2016, ou até em Capitão Phillips, também deixou a peteca cair em filmes como Zona Verde. O atentado não será esquecido, já o filme …

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