Sabem quando aquela série já deu o que tinha que dar, não tem absolutamente mais nada a dizer, mas ainda assim criam-se e disponibilizam-se temporadas após temporadas?
Então, este não é o caso da série de filmes A Barraca do Beijo, que desde sua gênese já não apresentava qualquer elemento de valor real para se manter. Ainda mais por três longas-metragens!
Obviamente, tal produção não se apegou a qualquer substância material para seguir em frente. Não mesmo! Temos aqui a boa e velha fórmula de sucesso que, surpreendentemente, ainda resiste para um certo público. Mesmo para gerações mais novas que vieram a esse mundo, menos apegadas a determinados convencionalismos.
Em A Barraca do Beijo 3, já disponível no catálogo da Netflix, retornamos ao triângulo – Elle, Lee e Noah. É o verão antes de Elle (Joey King) ir para a faculdade, e ela está enfrentando a decisão mais difícil de sua vida: se vai se mudar para o outro lado do país com seu namorado dos sonhos Noah (Jacob Elordi) ou cumprir sua promessa de ir para a faculdade com seu melhor amigo Lee (Joel Courtney). De quem será o coração de Elle?
Aturando Elle
Ficaram atentos à pergunta no final da sinopse?
“De quem será o coração de Elle?”
A resposta é: qualquer um, menos ela própria!
Aqui encontra-se o maior problema, não apenas desta terceira parte, mas de toda a trilogia dirigida por Vince Marcello. Não importa a quantidade de carisma da atriz Joey King, pois todas as atitudes e palavras manifestadas por ela, ou são uma expressão de clichê de gênero, ou abstinentes de real sentimento.
Pior: isso não é exclusivo à protagonista da história, pois praticamente todo o elenco (jovens e adultos) se juntam à ela com performances que não passam da temperatura morna; entregando uma enorme ironia, já que A Barraca do Beijo 3 acontece durante o verão americano de muito sol, praia e piscina.
Milagrosamente há uma exceção em todo o elenco que foi capaz de demonstrar algo crível no meio de tanta plasticidade: Meganne Young, que faz o papel da namorada de Lee.
Se encontrarem um mínimo traço de nuance ao assistirem esta produção original da Netflix, certamente, o mérito é só dela e de mais ninguém.
Um oceano de clichês envelhecidos
É muito natural cobrar dos atores quando não sentimos nada pela evolução do enredo sendo contado.
Bom, infelizmente, em alguns momentos nem é possível afirmar que temos uma narrativa em execução durante A Barraca do Beijo 3. Apenas um amontoado de ações que pouco ou nada entregam.
No entanto, é necessário admitir que em dois momentos existe algum valor em cena, no caso: a corrida de kart com parte do elenco fantasiado; e o flash mob durante um jantar de gala.
De resto? Nada que realmente mova os conflitos da protagonista para a frente, que ainda teve de lidar com o novo relacionamento de seu pai. As cenas entre Joey King e Bianca Amato, que interpreta a nova namorada do pai, são modorrentas de se assistir.
Com um roteiro que está mais preocupado em encaixar-se nos moldes do que tratar algumas dúvidas e questionamentos que surgem com o amadurecimento, fica muito complicado de se envolver com esta parte final da trilogia original da Netflix.
Conclusão
Curioso, que tirando o triângulo principal de A Barraca do Beijo, definitivamente, o maior nome do elenco na produção é o da atriz Molly Ringwald, que foi ícone teen durante a década de 80, através das obras Gatinhas & Gatões (1984), Clube dos Cinco (1985) e A Garota de Rosa Shocking (1986), todas estas produções assinadas pelo respeitado John Hughes (1950 – 2009).
Ao escalar Ringwald nesta trilogia Netflix baseada nos livros escritos por Beth Reekles, o diretor Vince Marcello busca reativar o cinema teen daquela época e, deve-se dizer que consegue emular alguns dos tradicionalismos daquelas obras, que em tempos atuais, mostram-se um tanto datadas.
Só que Marcello se esqueceu do principal ingrediente presente na filmografia de John Hughes: alma.
Os personagens escritos ou dirigidos pelo falecido artista não se revelavam inócuos. Muito pelo contrário!
Enquanto os jovens de A Barraca do Beijo 3, simplesmente parecem estar sentadinhos à janela do banco passageiro.