Novelão

Crítica – A Casa das Flores: O Filme

Produção mexicana da Netflix repete a série em história de pouco mistério

Brasil e México são países que possuem algumas coisinhas em comum, culturalmente e socialmente falando. Afinal, ambos são nações de origem latino-americana.

Temos similar prazer culinário, em especial, com grande apreço pelo feijão em nossa rotina diária; uma paixão fervorosa pelo futebol como o esporte mais popular no país; e o hábito viciante de acompanhar as telenovelas.

Este último é parte essencial no cerne mais popularesco de brasileiros e mexicanos. Difícil saber, até porque não vivemos nesta grande nação norte americana, se lá fazem como aqui, quando exibimos três novelas diferentes em três horários determinados, diariamente (à parte nos domingos, claro).

Em cada um destes horários, designa-se um tipo de telenovela específica, que casualmente chamamos de “novela das 6”, “novela das 7”, e a mais assistida, “novela das 8” (que geralmente sempre começa após às 21:00).

No primeiro horário, normalmente encontramos as telenovelas que apresentam um maior apuro técnico, com uma cenografia mais rica, muitas vezes de época, que apresentam performances mais pontuais por parte do elenco; no horário seguinte (19:00), temos as novelas mais divertidas, de viés humorístico no centro da trama, com personagens mais caricaturais e carismáticos; para finalizar, temos no último horário, visto como a ‘hora de ouro na TV’, novelas que focam em fatos cotidianos, mais comprometidas com a verossimilhança, onde para prender o espectador articula-se um enredo envolto em algum tipo de mistério, como quem matou Odete Roitman em Vale Tudo, ou quem explodiu o shopping em Torre de Babel, por exemplo.

A Netflix que nunca escondeu que adora um novelão, já trouxe algumas produções que flertam na cara dura com tal modelo televisivo, como Quem Matou Sara? e Elite, uma Malhação espanhola mais transante. Também no comboio temos A Casa das Flores, produção mexicana da provedora mundial de streaming, que resolveu transformar sua série em um longa-metragem nomeado A Casa das Flores: O Filme.

No longa dirigido por Manolo Caro, criador da série, acompanhamos os irmãos de la Mora – Paulina (Cecilia Suárez), Julián (Darío Yazbek) e Elena (Aislinn Derbez) – tramar um plano malicioso para invadir sua antiga casa de família para recuperar um tesouro escondido de importância significativa para o clã.

Senta que lá vem novela

Se for possível estabelecer qualquer tipo de comparativo com as nossas novelas, A Casa das Flores: O Filme se encaixa mais facilmente com as produções exibidas no horário das sete da noite, que são um tanto mais descompromissadas na narrativa, e que apresentam personagens mais burlescos por seus comportamentos.

Porém, hoje em dia, foi estipulado uma nova denominação para produções como é o caso desta. Alguns chamam de telenovelas modernas, mas é mais usado o termo ‘telenovela millennial’, com base na mesma cultura, o público-alvo é muito mais jovem (os millennials), de histórias típicas e melodrama recriados para convocar este grupo demográfico.

Uma novela millennial conterá muitos dos seguintes temas: ela se encaixa na política e na cultura contemporânea; tem representações positivas de pessoas LGBTQ+ quando presentes; apresenta temas de empoderamento feminino e a sexualização do corpo masculino; envolve o uso de mídias sociais; apresenta personagens de ambigüidade moral, em vez de preto e branco, e com mais complexidade; contém momentos intencionalmente cômicos; e está centrada em uma família não convencional.

Certamente, a série Jane the Virgin (2014-2019) que também faz parte do catálogo da Netflix, é o grande símbolo deste novo tipo de produção voltada à geração mais jovem.

E, apesar de conseguir entreter via humor caricato, infelizmente A Casa das Flores: O Filme não faz mais do que isso quando tenta mesclar algum tipo de mistério na história, que sofre com as mudanças temporais, praticando muitos flashbacks em um longa-metragem de duração curta (87 minutos).

Uma ícone pop

Agora, algo merece maior destaque, tanto pela série quanto pelo filme original Netflix, no caso, a performance cativante de Cecilia Suárez como a filha mais velha da família de la Mora.

Sua personagem transformou-se em um tipo de ícone pop atual mexicano, principalmente pelas expressões faciais e um ótimo uso de sua voz, que chegou a ser utilizada como ferramenta de marketing para divulgar a produção mexicana.

No centro de A Casa das Flores, encontra-se Paulina que é o Sol que observa todo o entorno se movimentar. Quem dera outros astros conseguissem brilhar tanto como ela.

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