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Crítica | Alguém Especial

No final do ano passado, a Netflix disponibilizou para seus assinantes a comédia romântica de produção peruana Como Superar um Fora. Definitivamente, uma grata surpresa, ainda mais se considerarmos que é um longa produzido no Peru, país que não tem grande força no cenário mundial no cinema. Este filme não faz nada tão diferente do que tantas rom-coms feitas em Hollywood, porém, ainda assim havia uma personalidade própria, uma identidade latino-americana que entregava charme e personagens solares que em alguns momentos mergulhavam nas dores do fim de relacionamento para depois, como se imagina, ao final entregar uma mensagem de amor próprio.

Tudo isso para dizer que a provedora mundial via streaming resolveu repetir essa fórmula, agora com carimbo hollywoodiano, na “comédia romântica” Alguém Especial. Todavia, sem exercer nenhuma das qualidades da produção peruana do ano anterior. Ao invés, entregou os mesmos clichês, com personagens abobalhadas e fúteis (homens e mulheres), sem um pingo de fator luminoso, e sem qualquer concordância do tipo de obra que quer ser, tirando qualquer possibilidade de uma identidade empática, que é o que a história escrita e dirigida por Jennifer Kaytin Robinson almeja no final, e falha por ter construído uma trama superficial por pouco mais de 90 minutos.

O longa da diretora marinheira de primeira viagem na função em longas-metragens conta a história de Jenny, jornalista musical que está prestes a se mudar de Nova York para São Francisco para trabalhar para a revista Rolling Stone, e vê o término de seu relacionamento com Nate devastar seu coração a alguns dias de tal mudança. Assim, Jenny convoca suas duas melhores amigas para uma noitada de farra na cidade. Pretendendo se divertir, e fazer da noite algo memorável, as três amigas se encontram com as dificuldades de seus relacionamentos durante todo o dia, e tentam tirar algo de bom destas dores amorosas.

Pela sinopse, já é até possível prever no final quem é este Alguém Especial do próprio título. Bem previsível, não? Antes fosse este o maior problema desta produção original Netflix.

Os problemas deste longa filmado por Jennifer Kaytin Robinson vêm de três fontes diferentes: roteiro de estrutura cansativa e repetitiva; falta de personalidade própria e performances rasas de quase todo o elenco.

Primeiro, o roteiro. Prenunciado logo desde o começo, mas que poderia fazer da jornada destas personagens femininas algo de prazeroso e apreciável, mas nem isso consegue. Desde a construção é perceptível o quanto são ocas as emoções frívolas que se passam na vida destas mulheres que aparentam ser mais do que realmente são, por suas ações de enorme imaturidade. Especialmente, a protagonista interpretada por uma cômica Gina Rodriguez que em Alguém Especial só faz gritar, chorar, vomitar e dizer algumas palavras em espanhol para forçar o riso. Praticamente, uma boneca tipo bebê só que de fabricação clandestina.

Irônico que sua personagem repete algumas vezes no filme que é uma mulher adulta (que beira os quase 30 anos de idade), mas nunca chega nem perto de aparentar isso. Muito pelo contrário!

Agora, a discordância da direção. A cineasta iniciante sabe claramente o que quer dizer, e isso ficará bem claro na cena final desta produção Netflix. Contudo, falha em estabelecer uma harmonia para chegar onde quer. Que tipo de filme Alguém Especial quer ser? Todos, mas que acaba sendo nenhum!

Tenta ser uma comédia escrachada de mulheres tocando a maior zona na noite de Nova York, falha. Um filme que retrata os prazeres da bebedeira e uso recreativo de drogas, falha também. Um drama romântico sobre ganhos e perdas em uma relação amorosa, mesma coisa. Uma obra que visa retratar a força da amizade feminina, acerta aos trancos e barrancos, mas apenas no final. É neste desnível que se encontra o trabalho de Robinson como guia da narrativa no longa da Netflix.

E por último, as performances do elenco. Todas muito plásticas, e exaltando os estereótipos destas a maiores graus. Apenas há uma única boa cena do ator Lakeith Stanfield, e nada mais!

Bom saber que este é o primeiro projeto cinematográfico da diretora, assim, há espaço para melhora, muito espaço! E, que possa retratar os ideais que busca exaltar sobre igualdade de gênero, ou feminismo, além do adesivo no espelho do banheiro, ou da estampa na bela almofada.

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