Querem ver uma coisa curiosamente bizarra e engraçada?!
Vejamos a descrição sobre o que é America: The Motion Picture da Netflix:
America: The Motion Picture é um filme de animação para adultos de paródia que mescla comédia e ficção científica, vagamente baseado nos Pais Fundadores dos Estados Unidos e na Revolução Americana, dirigido por Matt Thompson (em sua estreia como diretor) e escrito por Dave Callaham.
Só de ler tal premissa, fica fácil assumir a ideia que temos aqui bom material para construir algo que seja: primeiro, extremamente cômico e lunático; e por último, como uma boa paródia, um meio de denúncia dos costumes retratados pela narrativa.
O problema é que o longa-metragem do estreante Matt Thompson, apesar de no final acertar na sua mensagem-denúncia sobre as variáveis de uma democracia, exagera na mão no quesito frenético, e pior, pratica um humor forçadíssimo, por quase toda a projeção da trama. Só encontrando um eixo natural entre comentário e humor nos vinte minutos finais.
Até lá, o texto de Dave Callaham não pratica a comédia, só a empilha em uma quantidade considerável de situações que poderiam ser engraçadas, mas nunca são.
Assim, em America: The Motion Picture temos uma versão revisionista da história americana, contada de modo selvagem e irônica que vê George Washington (Channing Tatum) portando duas pequenas motosserras, e reunindo uma equipe de agitadores que incluem – o ‘brother’ amante de cerveja Sam Adams (Jason Mantzoukas), o famoso cientista Thomas Edison (Olivia Munn), o aclamado cavaleiro Paul Revere (Bobby Moynihan) e um muito irritado Geronimo (Raoul Trujillo) – para derrotar Benedict Arnold (Andy Samberg) e o Rei James (Simon Pegg) na Revolução Americana. Quem ganhará essa batalha? Ninguém sabe, mas você pode ter certeza de uma coisa: estes não são os Pais Fundadores da América que ouviram falar.
Metralhadora de “piadas”
Imaginem a cena:
Um(a) comediante stand-up no palco contando várias piadas ou situações supostamente engraçadas, de modo agitado, ininterrupto, sem conseguir nem aquela risadinha amarela da plateia e, ainda assim, achando-se o máximo e continuando com sua vertiginosa verborragia.
Bom, essa situação constrangedora resume o que temos na maior parte de America: The Motion Picture da provedora de streaming Netflix.
Claramente focado na intenção de construir uma boa paródia, lamenta-se que a narrativa elaborada por Dave Callaham, que já roteirizou obras como Os Mercenários (2010), Zumbilândia: Atire Duas Vezes (2019) e Mulher-Maravilha 1984 (2020), acredite que a graça venha mais pelo acúmulo de situações criadas do que pela naturalidade absurda do comentário social ou político apresentado.
O elenco de atores escalados para dar voz às figuras históricas da trajetória americana, por vezes, exageram demais no intento e volume na voz nessa tentativa de destacar algum divertimento de um texto que não entrega base nenhuma para que isso ocorra de forma orgânica. Em especial, quem mais sofre com essa abstinência são os atores Channing Tatum e Bobby Moynihan, que na maior parte encontram-se perdidos ou muito acima do tom.
O único que teve facilidade neste eixo entre comédia e crítica social foi Jason Mantzoukas, que faz o papel do estadista e filósofo político Samuel Adams. Observar Mantzoukas, ator conhecido por interpretar tipos esquisitões malucos, dizendo coisas racistas, sexistas e xenofóbicas é a maior forma de validade para uma boa paródia nessa animação Netflix.
Denúncia recebida
Felizmente, os vinte minutos finais de America: The Motion Picture são um alento, em vista que só nessa parte que tudo acontece de maneira equilibrada e, temos um humor cirúrgico e de fácil acesso ao público, que perceberá as inspirações em outros filmes (ou franquias), como: O Senhor dos Anéis, Star Wars, Transformers, RoboCop e Vingadores.
A batalha final entre americanos e britânicos, que tem ao fundo o sucesso “(You Gotta) Fight for Your Right (To Party!)” do renomado grupo de hip hop Beastie Boys é o ápice dessa animação adulta produzida pela Netflix, entregando diversão, violência e um banho de sangue.
Na última cena, a obra dirigida por Matt Thompson entrega a mensagem de que lutar pela liberdade é maneiro, como diria o sem-noção Sam Adams. Porém, o mais difícil é saber lidar com a democracia, que é como um casamento desgastado, onde um lado sempre está infeliz com o outro, e vice-versa.