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Crítica | Benji

O que circunda o cão, enquanto animal, são as características de ser companheiro e de estar sempre buscando mostrar aos seus donos, que está ali para ser o melhor amigo deles. Centrar a história de um cachorro em filmes, na maioria das vezes, já está intrinsecamente aliado ao fascínio e a empatia que provocam. Benji, por si só, possui uma longa linha cronológica de filmes, tendo como início os anos 70, com o primeiro saindo em 1974. Ao longo do tempo, saíram outros filmes dentro da franquia sendo o último em 2004.

Então, 14 anos depois, a Netflix faz um remake do clássico dos anos 70 e coloca Benji em seu catálogo nessa sexta-feira. A tentativa inicial é mais do que óbvia, mesmo que isso não seja de todo modo pedante ou exagerado: dar um senso de empatia e principalmente, nostalgia ao público. Criar um cenário para que Benji possa ser sentido não só como um companheiro e portador de alguns dons “incompreensíveis”, mas também um ser provido de sentimentos humanos, adquiridos pela convivência com os mesmos. E claro, um apelo dado à Benji por não ter raça, um vira-lata, já constrói uma relação de que Benji significa todos os cachorros. E claro, traz aquela velha tona sob o olhar puro do animal: quem lhe é bom, é uma boa pessoa. E quem não é, é vilão ou mau.

Escrito e dirigido por Brandon Camp, filho do cineasta que concebeu o original, Benji trouxe muita coisa do que esteve no primário. No entanto, parece que também o exagero pelo sentido cômico também se manteve e dessa vez, não há como não sentir uma espécie de cafonice que prende demais o roteiro. Não sobre a importância do cãozinho para com sua família e donos, mas como ele é construído dentro desse roteiro. O fato dele entender inglês não diz muito pois isso é um elemento sempre presente em filmes com um senso mais anedótico, mas a fábula fica tão grosseira quando ele é tratado como um humano e pior, age como um. A partir do momento que o filme se caminha para seu conflito, o sentido e a coerência são indispostos e perdidos, dando a entender que o filme preferiu perder sua razão e estrutura narrativa para focalizar sempre no alívio do próprio Benji.

Desde o sequestro, que possui fatores e códigos narrativos estranhos e sem conexão, até mesmo a ligação entre esse evento com suas consequências e suas posteriores reações, principalmente das famílias. Claro que por ser um remake e por requentar uma roupagem brega do original, algumas coisas passam, como a notável caricatura dos vilões, banhados em clichês de filmes como Esqueceram de Mim, que estão inclusive, dentro dessa classificação do “homem mau que maltrata animais”. Vide, é um fator interesse e comum esse retrato, mas quando é distorcido e seguido dentro desse estereótipo, fica inverossímil, quase que inacreditável, a partir do momento em que se nota as diversas conveniências adotadas para dar ao cachorro um ar de expertise, sendo que o mesmo, não demonstra estar a par de todas as situações.

A fórmula é basicamente a mesma. Você tem um conflito em que se exige uma ação e uma comoção cada vez maior sobre Benji. A partir dela, o filme se desenvolve para gerar uma relação entre os familiares e donos do cachorro com essa situação. Nesse ponto, acredito que os atores acabaram aceitando demais o fato de se impressionar e entraram dentro de uma zona bastante dramática e exagerada, construindo um tom um pouco confuso e irresponsável na medida de dar uma identidade e pontificação sobre o gênero do longa-metragem, Benji é um cachorro em essência e um amigo nas diversas formas, mas o tratamento com ele novamente cai dentro desses arquétipos voláteis e insossos, que vão dando ao filme uma decadência e uma indireta monotonia.

Quase se garantindo no final, praticamente só com os apelos nostálgicos e emotivos, Benji é um remake que consegue demonstrar um senso empático ao público, partindo do ponto narrativo mais interessante de todo filme: a reunião de todas os elementos positivos que são manifestados dentro do personagem Benji ao longo dos filmes que levam suas histórias a frente. É um animal bastante formado e caprichado dentro desses pontos mais cativantes. Mas infelizmente, está dentro de um roteiro falho e que não constrói nada de novo ou original, mesmo que tenha sido uma evocação e homenagem a todas referências nostálgicas e claras.

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