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Crítica | Cargo

Zumbis já foram explorados a exaustão no cinema desde que George Romero se tornou pioneiro no conceito com A Noite dos Mortos-Vivos. Na TV, The Walking Dead popularizou novamente os mortos que andam que antes já haviam passeado por abordagens bastantes distintas no cinema como a comédia de humor negro Todo Mundo Quase Morto, a franquia Resident Evil, o divertidamente nojento Planeta Terror (parte do projeto Grindhouse de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez), o mockumentary REC, e por aí vai.

Cargo, novo filme original da gigante do streaming Netflix, é mais uma aposta nessa ambientação de mortos-vivos em meio a um cenário desértico e apocalíptico, que em nenhum momento ultrapassa a linha do “precisamos correr para sobreviver”. O filme é baseado num curta de mesmo nome que fora comandado pelos mesmos diretores em questão, Ben Howling e Yolanda Ramke, e acompanha um pai, Andy (Martin Freeman, o nosso Bilbo da trilogia O Hobbit) que, após a esposa ter sido contaminada por um vírus que dizimou quase toda a população da terra, luta para sobreviver ao lado de sua bebê em meio ao deserto, sempre evitando os virais.

Como qualquer produção modesta da Netflix, Cargo é notoriamente uma produção cujos dólares investidos estão no lugar certo: há uma estrela de Hollywood protagonizando, a fotografia é exuberante e se aproveita bem das luzes do sol em meio ao ambiente árido, a maquiagem dos zumbis é convincente, e há pouquíssima trilha sonora, com muita aposta nos sons ambientes. Não há ambições, e nem haveria como ter diante de uma trama já tão batida sobre uma cenário pós-apocalíptico.

E por mais que tente emular uma ode ao amor parental, falta personalidade para que Cargo se sustente de alguma forma para além do tédio que é condenado. O roteiro de Yolanda Ramke poderia muito bem ter aproveitado a ausência de explicações sobre a origem do vírus para desenvolver a relação familiar que abre o longa, mas nada sabemos sobre aqueles personagens, que jamais ultrapassam as barreiras de rostos desconhecidos que iremos acompanhar ao longo dos 100 minutos de duração. Quando personagens indígenas são inseridos na narrativa, Ramke perde outra oportunidade de explorar alguma mitologia própria daquele universo quando apenas pincela os métodos místicos com os quais os índios lidam com a doença, resvalando o conceito do espiritismo numa superficialidade gritante.

E como qualquer jornada parentesca em meio a uma ambientação opressora, Cargo opta por caminhos e soluções absolutamente óbvios e previsíveis desde o início, minando a tensão e o choque da sanguinolência que pouco explode na tela. Em outras palavras, era melhor os diretores terem ficado no curta. E pouco sobra o que falar sobre um filme tão conformado com a reciclagem de tantos elementos.

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