Ser diferente é bom

Crítica – Confissões de uma Garota Excluída

Comédia romântica teen da Netflix arrisca falar sobre bullying, mas sem qualquer efeito legítimo

Toda vez que a Netflix resolve lançar uma produção teen nacional, naturalmente esperamos pelo pior.

Este comentário poderia ser mais um indicativo de um certo preconceito por parte de uma mídia especializada, porém, na maioria dos casos, percebe-se a fragilidade nestas produções, que transpiram ótimas intenções, apesar da baixa qualidade na proposta de levar uma mensagem de valor inestimável.

Lamentavelmente, o (apenas) simpático Confissões de uma Garota Excluída pertence a essa lista de obras que falham em transmitir qualquer força genuína em sua narrativa que visa comentar sobre o bullying nas escolas e os efeitos disso na vida destes jovens colocados à margem do convívio social.

O longa-metragem de Bruno Garotti nos apresenta Tetê (Klara Castanho), uma garota que não se sente aceita na escola, nem em casa. Quando seus pais, desempregados, precisam se mudar para a casa dos avós em Copacabana, no Rio de Janeiro, a adolescente de 16 anos deve recomeçar em um novo colégio. Ela tentará de tudo para não sofrer bullying novamente, e talvez fazer amigos e ter uma vida social.

Bullying dentro de casa

Provavelmente, sempre será necessário termos produções, sejam nacionais ou de fora, que comentem os perigos e variadas formas que se praticam bullying na sociedade. Sim, na sociedade. Já que isso não é exclusivo da adolescência, em vista que adultos costumam insistir com este comportamento reprovável também.

Claro, que na maioria das vezes, notamos que criam obras que optam por focar mais no período da adolescência, onde iniciamos nosso desenvolvimento e uma busca por autonomia.

E, naturalmente, mergulham-se nas escolas, ambiente onde isso se prolifera com mais facilidade. Assim, ponto positivo para o roteiro de Garotti, junto das profissionais Flávia Lins e Thalita Rebouças, que resolveu abordar sobre bullying doméstico, entre os membros da família.

Apesar de não haver má intenção fundamentada, em muitos dos casos, observamos que vem dos familiares este comportamento de julgar e apontar o dedo para aquilo que consideram alguns de nossos maiores defeitos.

Interessante notar que especificamente em Confissões de uma Garota Excluída, temos uma diferença de comportamento entre os homens e mulheres da casa: mãe (Júlia Rabello) e avó (Rosane Gofman), são do tipo que querem se intrometer em todos os detalhes da vida de Tetê, sufocando a garota sem a preocupação com o que ela realmente quer; agora, pai (Alcemar Vieira) e avô (Stepan Nercessian), parecem mais legais por soltarem a corda, mas não percebem que o desinteresse e falta de sensibilidade deles, é só mais uma forma de não assumirem qualquer responsabilidade na relação com a jovem garota.

Obviamente, tais comportamentos são fatores que contribuem para a insegurança e medos em uma mente mais nova, ainda em fase de desenvolvimento.

Entre os muros da escola

Se o roteiro do trio Garotti/Lins/Rebouças acerta a mão quando resolve mostrar as atitudes dos adultos que praticam bullying, mesmo sem a intenção de fazê-lo. Erram feio, quando levam essa temática para entre as paredes da sala de aula.

Não bastasse terem elaborado uma protagonista que fica difícil empatizar, rechearam o colégio com os estereótipos mais bregas e caricatos que conseguir imaginar. E, isso atrapalha demais na tentativa de levar uma mensagem de acolhimento ou perdão, que faz parte do conceito desta obra.

Normalmente, se o texto apenas entrega superficialidades, teremos também uma resolução superficial dessa história, apesar da boa vontade dos criadores e elenco, que só consegue transpassar simpatia, mas (absolutamente) nada de real valor com os conflitos vividos no período da adolescência.

Chegam a existir momentos onde é possível notar alguns atores do elenco, sorrindo levemente enquanto testemunhamos situações um tanto dramáticas. Isso sem contar, as típicas cenas de choro muito forçadas. Um horror!

Curiosamente, pelo gênero do terror, tivemos produções que se saíram bem ao tratar sobre o bullying na infância, como Carrie, a Estranha (1976) de Brian De Palma, Deixe-me Entrar (2010) de Matt Reeves, e It: A Coisa (2017) de Andy Muschietti, para citar alguns.

Também temos exemplares mais solares sobre tal tema, como por exemplo: Clube dos Cinco (1985); Meninas Malvadas (2004); Você de Novo (2010); e Extraordinário (2017).

O que todas estas obras têm em comum?

Legitimidade narrativa. Que faltou na aula em Confissões de uma Garota Excluída!

Sair da versão mobile