Existe uma paúra muito comum entre os fanáticos por mangás e animes, quando pronunciam ou escutam-se as palavras ‘live-action’. Geralmente, já vem aquele calafrio gelando a espinha dorsal, sabem?!
Nem cinco segundos depois de ouvirem tais palavras “amaldiçoadas”, lemos pelas redes sociais ou escutamos por todos os cantos da World Wide Web, a seguinte frase – “Pelo amor de Deus, não estraguem a minha infância!”
Bom, nem vale a pena destrinchar nos mínimos detalhes esta sentença aviltada comumente proferida no calor dos ânimos. Ainda assim, ela indica claramente um bloqueio antecipado por parte do espectador, que espera ter seus gostos e prazeres do passado conservados a qualquer custo. Se caso não fizerem desta maneira, naturalmente revolta-se de modo pueril, atacando o material adaptado pelas redes sociais.
O que alguns mostram certa dificuldade de compreender: é que apesar de tudo ser narrativa, animes e adaptações live-action são bem diferentes na maneira que são estruturadas, mesmo sendo apresentadas igualmente por vias episodiais. Alguns animes, mesmo os mais conceituados, costumam expressar medidas de forma mais expositivas, principalmente quando vistos na versão original japonesa, pois a dublagem dispõe de inflexões mais limitadas, por exemplo.
Enquanto, trabalhar com atores abre o campo de possibilidades de modo natural, pois cabe aos desenvolvedores junto do elenco, adaptar como apresentar da melhor maneira possível aquela cena, diante vários outros elementos encontrados ali que não fazem parte do processo criativo do desenvolvimento da narrativa para animes.
Tudo isso para anunciar que já se encontra disponível no catálogo da Netflix, o live-action Cowboy Bebop, adaptação do renomado e popular anime criado pela Sunrise Inc., que conta a história de uma tripulação desorganizada de caçadores de recompensas que persegue os criminosos mais perigosos da galáxia; uma gangue que está disposta a salvar o mundo pelo preço certo.
Sobre Cowboy Bebop
Desde 1998 quando estreou na televisão japonesa, Cowboy Bebop virou o jogo! Foi aclamada por público e crítica especializada por trazer algo muito peculiar à narrativa de animes.
Embora incorpore uma ampla variedade de gêneros ao longo de sua exibição, Cowboy Bebop se baseia principalmente em filmes de ficção científica, faroeste e noir. Suas temáticas mais proeminentes incluem o tédio existencial adulto, a solidão e a incapacidade de escapar do passado.
O anime produzido pela Sunrise Inc. foi um sucesso comercial e de crítica nos mercados japonês e internacional (principalmente nos Estados Unidos); ganhou vários prêmios importantes de anime e ficção científica em seu lançamento, além de receber elogios unânimes por seu estilo, personagens, história, dublagem, animação e trilha sonora, que explora o blues, jazz, ópera e música ocidental.
Deixando claro que portando tantos elementos distintos, naturalmente iria se destacar entre o monte.
Demora (um pouco) para decolar
A primeira temporada de Cowboy Bebop contém dez episódios, que fluem de modo mais constante após o fim da primeira metade. Muito disso ocorre porque apenas no quarto episódio intitulado ‘Soul de Calisto’ podemos testemunhar o trio de caçadores de recompensas atuando lado a lado.
Essa sinergia narrativa mostrou-se o maior dos predicados desta série encabeçada por André Nemec, que atrai mais o assinante Netflix quando contrapõe personagens de personalidades e comportamentos diferentes entre si.
Quando põe em prática tal conceito, sentimos uma narrativa que progride com uma cadência magnética, onde somos atraídos para dentro da nave espacial Bebop, junto da tripulação liderada pelo preguiçoso e desinteressado Spike Spiegel (John Cho); agora, quando não estabelece estes contrapontos, sentimos que as coisas não andam como deveriam, afastando-nos um pouco da história proposta.
Power Trio
Cada um dos atores foi capaz de contribuir de alguma forma para que nos conectássemos à trama. Tanto pela via humorística, onde todos ganham chances para mostrar suas habilidades, como ‘timing’ e entonação da voz; quanto em algumas cenas mais dramáticas, como quando Faye Valentine (Daniella Pineda) assiste uma fita VHS que diz respeito ao seu passado.
O trio composto por John Cho, Mustafa Shakir e Daniella Pineda transitam naturalmente entre gêneros e cenários desta produção Netflix. Em nenhum momento, parecem deslocados da história que estão compartilhando com o público.
Talvez, o único ponto baixo dentre o elenco principal seja Alex Hassell, que faz o papel do antagonista Vicious, que apesar do enorme vigor em cena, nunca consegue escapar das caricaturas vilanescas mais óbvias, tornando-o uma persona menos atraente para o assinante da plataforma streaming.
Missões das sessões
Para os que conhecem o material original, não é surpresa saber que cada capítulo da temporada é visto como uma sessão, onde selecionam um alvo para perseguir.
Pela primeira metade de Cowboy Bebop percebemos um clima mais despretensioso, acompanhando as missões escolhidas por Spike Spiegel e Jet Black. Contudo, na segunda parte da temporada vamos adentrando no grande conflito da série, sobre a rivalidade entre o protagonista e Vicious, ex-companheiros que disputaram o amor da encantadora Julia (Elena Satine).
É na segunda metade que encontramos fatores complicadores mais interessantes de se acompanhar, mesmo visualmente tudo se revela de modo mais atraente, como a brilhante cena onde Spike invade o Cartel de Netuno executando qualquer alma viva que ficasse em seu caminho.
Tem para onde evoluir
Não podemos afirmar que o saldo da primeira temporada sejam só flores e arco-íris, uma vez que nem tudo flui como poderia, assim como também algumas coisas tinham a chance de serem simplificadas para trazer algo mais dinâmico à narrativa da série de produção original Netflix.
Todavia, temos alguns pontos altos que valem acompanhar esta adaptação do anime Cowboy Bebop. Isso claro se vierem com a mente e coração abertos, pois caso tiverem alguma pré-disposição de necessitar de uma cópia perfeitamente igual ao anime, melhor rever o mesmo, também parte do catálogo da plataforma de streaming.
Pelo episódio derradeiro, já sabemos que as coisas vão piorar para a tripulação a bordo da nave Bebop. Sorte que irão ganhar duas mãozinhas extras para uma provável segunda temporada de Cowboy Bebop.
Vão precisar!