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Crítica | Esquadrão 6

É difícil imaginar um melhor diretor de cinema para se trabalhar, sendo parte da equipe de produção do que o americano Michael Bay.

Imagine um coordenador de cenas de ação chegando nele e perguntando – ‘Senhor Bay, quantos carros você quer bater e girar no ar?’. Aí o cineasta apenas responde com muita pressa – ‘Sim!’. Daí em seguida, vem outro assistente e pergunta – ‘Senhor Bay, quantas pessoas você quer que sejam atropeladas?’. De novo, com muita pressa (como são suas produções), um sonoro ‘sim’. Chega um terceiro, e questiona – ‘Senhor Bay, quantas explosões voc …’. E o diretor interrompe o assistente que demorou muito para fazer a pergunta, e simplesmente grita ‘sim’. Mais: ainda requisita para que explodam aquela fruteira em cima da mesa, pois os bagos de uva podem cegar os capangas do vilão.

Tudo isso, é uma mera ilustração imaginativa de como é conhecido o comportamento e o cinema feito por Michael Bay. No alto de seus 54 anos de idade, Bay continua o mesmo, não mudou nadinha! Um homem que vê apenas escala, e pouco liga para balanço.

E, o mais novo capítulo de grandiosidade desmedida de Michael Bay vem na produção da Netflix Esquadrão 6, que “narra” as missões do grupo de vigilantes liderados por Um (Ryan Reynolds), misterioso bilionário e justiceiro que mira fazer uma faxina no planeta, eliminando alguns ditadores e figuras obscuras demais para viverem entre as pessoas de boa alma, trazendo um futuro melhor para o mundo todo.

Essa sinopse que mistura ação com um discurso que poderia ser dito por uma participante do concurso Miss Universo, deixa claro o quê e como Michael Bay pensa: bonzinho é bonzinho, e malvado é malvado.

É um padrão, veja a série de filmes Transformers (qualquer um deles serve), onde temos os robôs do mal que querem destruir os ideais dos robôs do bem e dominar o planeta; e os robôs do bem querem impedir que os robôs do mal machuquem as pessoas e causem danos em nosso mundo.

Assim, bem simples mesmo, … ou seja, nada similar com a realidade e vida humana.

Nas mãos pesadíssimas de Bay o que vale é o “espetáculo” do heroísmo. E, quanto mais explosões, barulhos, gritos, destroços, e vidas perdidas aleatoriamente testemunhamos, maior é o grau do heroísmo. Não existe dubiedade, ou nuance. Só glorificação. Agora, entendem o porquê de tanta câmera lenta (slow motion) em seus projetos?

O cineasta conseguiu mínimos acertos, ao longo de uma carreira que perdura por trinta e três anos, entre estes: o primeiro filme da série Transformers (2007) junto de um hilário Shia LaBeouf; o tragicômico Sem Dor, Sem Ganho (2013); e definitivamente, seu melhor trabalho, o suspense de ação A Rocha (1996), estrelado por Sir Sean Connery e Nicolas Cage.

Fora estes três, só sobram desastres, como todos os outros filmes da saga Transformers, Pearl Harbor, A Ilha, e agora, Esquadrão 6 da Netflix.

Para não pisar muito, vale pontuar que das três grandes sequências de ação no longa da provedora mundial via streaming, uma destas – que é a primeira – dá para salvar alguma coisa, apesar do exagero de cortes e câmera preocupada com planos detalhe impensados. Nas ruas da Itália, temos um racha frenético que têm boas situações acrobáticas, e até cômicas envolvendo os presentes em um carro esportivo verde limão pilotado por Seis (Dave Franco). Porém, nada comparável com as cenas do ótimo Ford vs Ferrari, por exemplo.

Na segunda – e pior – sequência, é possível até brincar de jogo dos sete erros, devido algumas falhas absurdas de continuidade. Bem fácil de encontrar umas quatro destas falhas, enquanto observamos a equipe tentando resgatar o irmão bonzinho de um ditador malvado.

Na terceira, tem um sopro de criatividade com o uso de um super-imã, mas fica por aí mesmo, já que na verdade, é tudo mais do mesmo – e mais alguns equívocos de continuidade, tipo o dia que vira noite do nada.

Nem o roteiro do duo sagaz Paul Wernick/Rhett Reese (Deadpool, Zumbilândia: Atire Duas Vezes) consegue salvar o material da mesmice e repetição. Mesmo Ryan Reynolds, de talento aguçado no humor, não conseguiu encontrar tantas brechas no meio de tanta ação descabida, para criar qualquer ruptura via comédia.

Resumindo: é a mesma vulgaridade familiar do cinema de Michael Bay.

Da mesma maneira que o cineasta Roland Emmerich do horroroso Midway: Batalha em Alto Mar, Michael Bay pouco evolui, e quando acerta, parece mais um golpe de sorte.

Enquanto isso, azar nosso!

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