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Crítica: Feel Good – 2ª Temporada

Série original da Netflix trata com respeito e carinho as nuances dentro dos relacionamentos

Depois de uma ótima impressão deixada na primeira temporada de Feel Good, fica fácil receber de braços abertos esta segunda e última parte da série produzida pela Netflix, finalizando o destino das incomparáveis Mae e George.

Assim, como na primeira parte, o foco aqui é falar das armadilhas e dificuldades de se manter uma relação saudável. O diferencial desta parte final é que iremos um tanto mais fundo na relação das duas. Praticamente, um ‘vai ou racha’ no namoro delas!

Claro, que para seguir em frente terão de lidar com a maneira codependente que agem uma com a outra, aprender a serem mais firmes em relação a quem são ou almejam ser, e principalmente, enfrentar os traumas do passado de frente com a verdade do presente atual.

A temporada derradeira de Feel Good começa apresentando Mae (Mae Martin) e George (Charlotte Ritchie) separadas, tentando lidar com seus próprios sentimentos e o distanciamento. Será que ambas conseguirão encontrar o caminho de volta e serem felizes uma ao lado da outra?

O que eu quero?

Observar George, naturalmente, é algo muito fácil de se dedicar, pelo fato que a jovem professora é um convidativo paradoxo, dado que enquanto atua formando mentes mais jovens, ela própria é um ser buscando encontrar suas vocações, desejos, sonhos e quem realmente é.

Diferentemente de Mae, que possui uma personalidade forjada a mais tempo, George tenta, entre acertos e tropeços, formatar quem é por conta própria.

Exatamente por isso que o primeiro episódio desta temporada de Feel Good é um dos melhores momentos da personagem. Assistir ela voando solta e, tentando estabelecer novas conexões é um ato prazeroso por si só. E, um tanto quanto cômico, já que na festinha com companheiros de trabalho na escola, sai de casa com uma ideia clara na mente, se posiciona, para depois de alguns minutos voltar atrás.

O aspecto volátil é a principal característica na personalidade dela. Se por um lado isso mostra certa inconstância, por outro mostra que ela é mais capaz de analisar o todo, e através da bondade dentro de si, adaptar-se as situações.

Sabe aquela clássica frase de Blaise Pascal que diz “Não tenho vergonha de mudar de ideia, porque não tenho vergonha de pensar”?

Então, George e Pascal estão na mesma página.

Eu fiquei para trás

Agora, Mae é um caso muito mais delicado. Começando pelo fator dependência química em seu histórico, que já servia como um bloqueio para lidar com algumas situações caóticas do passado, além de um trauma de um relacionamento que não tinha a noção de como era abusivo.

Uma das grandes qualidades nesta série original Netflix vem pela abordagem escolhida para tratar da personagem central de Feel Good, em vista que por toda a temporada, observaremos cada um dos mecanismos de defesa que a personagem usa para evitar seguir em frente com sua própria vida.

Mais: veremos o efeito disso em sua saúde mental, com crises de ansiedade e ataques de pânico.

Deste modo, torna-se necessário falar de Mae Martin, que não só atua, como também é criadora e roteirista da produção. Sabendo que a faz-tudo baseou-se em sua própria vida nesta série Netflix, faz com que aumente ainda mais a responsabilidade social de como tratar alguns temas bem dificultosos pela narrativa.

O último episódio de Feel Good é o ápice de sua performance. Sua personagem ganha dois momentos de catarse. No primeiro, vemos a tomada de consciência sobre as rachaduras em seu íntimo profundo; já o definitivo, vem no acerto de contas com o passado, através das revelações da duríssima realidade por que passou.

Empatizar-se com Mae virá de forma natural para o assinante Netflix, mesmo porque a performance cirúrgica de Martin não deixará pedra sobre pedra.

Copo cheio

Se desde a primeira temporada, percebemos um nível de codependência enorme entre o par romântico de Feel Good. Aos poucos, individualmente, percebemos que o único caminho para frente virá através da mudança de atitude.

E, esquenta o coração, perceber que a série criada e escrita por Mae Martin trata tudo com liberdade, humor, carinho, e acima de tudo, respeito.

Esse é o tipo de dignidade que precisamos sentir e ver, diariamente.

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