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Crítica | Felicidade Por Um Fio

Felicidade Por Um Fio, a mais nova produção original da Netflix surfa na onda de filmes e séries que buscam exaltar representatividade. Em um ano, onde Pantera Negra foi a maior bilheteria de 2018 nos Estados Unidos, e séries como Atlanta e Black-ish continuam atraindo público, além de agradar a crítica, filmes como este prosseguem com o avanço de inserir histórias e perspectivas diferentes, visando atingir tipos variados de grupos e etnias na sociedade. É possível questionar a qualidade do que é lançado, mas é de grande valor o intento de buscar o espectador, seja este ou esta quem for, pois há mercado para todos se envolverem.

Baseado no livro Nappily Ever After, o filme da Netflix conta a história de Violet Jones, mulher bem-sucedida nos negócios, e também na vida amorosa. Até que, após se frustrar com o fato de seu namorado não a pedir em casamento, sente que precisa reavaliar seu estilo de vida e escolhas, e começa a descobrir uma nova identidade para si.

Após esta sinopse, provável que não se sintam encorajados a ver o filme, ou pensem o óbvio, de que já viram este filme antes, até pensem se o mundo precisa de mais um feel-good movie como Felicidade Por Um Fio. Bom, fato que pensar assim é se dar por caprichos egoístas. Exatamente o contrário que filmes com esta proposta oferecem ao seu público, em todos os seus princípios mais básicos, mesmo quando previsivelmente encaixados em uma fórmula, e caricaturais em seus estereótipos.

Mérito da diretora Haifaa al-Mansour, primeira mulher cineasta da Arábia Saudita, de escalar a carismática e estonteante Sanaa Lathan como sua protagonista, que fica bem com qualquer tipo de cabelo, inclusive sem. Pois mesmo nos momentos onde o filme caminha por lugares comuns ou peca por seus exageros, sendo estes a maioria no primeiro ato, a atriz consegue manejar a história entre a leveza e o drama da personagem.

Felicidade Por Um Fio tem um roteiro que termina melhor do que começa. Geralmente, em comédias românticas, principalmente americanas, testemunhamos os mesmos velhos clichês e situações do cinema de gênero. Nesta produção original Netflix não será diferente. A primeira parte do filme é onde estes módulos proliferam, vide qualquer uma das cenas existentes até o momento que Violet, bêbada, resolve raspar a cabeça. Na parte central da trama, continuam reinando os mesmos esquemas, além da sensação de comercial de tv com a família toda sorrindo e feliz. Aqui, um belo exemplo das carências desta comédia romântica, que provavelmente conseguirá fazer sorrir, mas não rir, que são coisas diferentes. Lamentavelmente, não existe graça, no sentido de humor de qualidade no texto, consequentemente perde-se combustível para dois elementos essenciais no gênero: a imprevisibilidade do riso e o contraste catalisador para o drama, que é sério, pois afeta a vida social e saúde mental de milhões de mulheres pelo mundo.

Só no terceiro ato de Felicidade Por Um Fio há alguma recompensa na história. O que era óbvio, continuará, mas a narrativa consegue promover algum desvio, dando um pouco mais de corpo, além de mais profundo tratamento, pensando na protagonista. Tirando a cena onde Violet faz um pitching para seu chefe para uma marca de cerveja, ao lado de dois atores que interpretam horripilantemente dois completos, mas realistas, idiotas. Existe até, apenas, um momento de bom texto, que acontece em um enfrentamento entre a protagonista e sua mãe, interpretada por Lynn Whitfield. É no clímax que a atriz Sanaa Lathan consegue realmente comover, se acertando com o trauma do passado, mergulhando livre para na superfície assumir uma vida mais leve para si mesma.

Assim, como o personagem de seu pai, interpretado por Ernie Hudson, o Winston de Os Caça-Fantasmas, que se reinventou na meia-idade como um modelo fotográfico de roupas íntimas, Violet percebe uma oportunidade para recomeçar, seja na vida amorosa, mas especialmente em sua carreira. Esta é a velha e já batida lição que tantos filmes repetem sobre aceitação e a valorização da beleza interior. O diferencial aqui, está no fato de termos um foco, infelizmente mais raro, na vida da mulher negra. Oferecendo a estas, uma oportunidade para identificação, isto posto, uma maior disseminação do bem-estar da mulher negra, no campo pessoal e social.

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