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Crítica – Ferida

Estreia de Halle Berry na direção mostra competência em história de superação

Ben Affleck, Sean Penn, Jodie Foster, Angelina Jolie, George Clooney, Wagner Moura, Joseph Gordon-Levitt, Mel Gibson, Olivia Wilde, Bradley Cooper, John Krasinski, Denzel Washington, Drew Barrymore, Ryan Gosling, Ben Stiller e Natalie Portman. Todos estes nomes são de atores/atrizes que continuam se apresentando frente às câmeras, porém quiseram mais. Consequentemente, sentaram-se naquela cadeirinha especial que encontramos dentro de um set de filmagem. Hoje, todos também são diretores de cinema, assim como Halle Berry que acabou de se juntar ao grupo.

Ferida, que já está disponível na plataforma de streaming Netflix, marca a estreia da atriz americana de 55 anos de idade na direção. Devemos sempre lembrar o fato de não termos tantas cineastas mulheres na indústria hollywoodiana. Claro que esse número aumentou de uns tempos para cá, mas ainda podemos e devemos batalhar mais pela diversificação no sistema, pois naturalmente ganharemos um leque mais amplo de ideias com outras mulheres assumindo a posição de desenvolvedoras das produções. Simples assim.

A abertura de Halle Berry como cineasta mostrou-se algo consistente, sem qualquer brilho, mas suficientemente capaz de envolver o assinante da plataforma contando a história de Jackie Justice (Halle Berry), uma lutadora de artes marciais mistas que deixou o esporte em desgraça. Sem sorte, fervendo de raiva e arrependida anos depois de sua luta, ela é induzida a uma brutal luta underground por seu empresário e namorado Desi (Adan Canto) e acaba chamando a atenção de um promotor da liga de luta feminina (Shamier Anderson), que promete uma vida à ela de volta ao octógono. Mas o caminho para a redenção torna-se inesperadamente pessoal quando Manny (Danny Boyd, Jr.) – o filho que ela abandonou quando criança – aparece em sua porta.

Feijão com arroz

Assumir o intento artístico de toda uma produção é para poucos. Não é um trabalho fácil. Mais do que artisticamente, existe toda uma gestão de relações que precisam discorrer em um determinado ritmo para que as coisas funcionem o mais próximo do que foi planejado. E, caso houver alguns tantos imprevistos, como lidar com estes e adaptar-se às novas situações que surgem pelo caminho.

Então, é bem curioso observar que Halle Berry escolheu ter como seu primeiro trabalho como diretora, uma obra que ronda o terreno dos esportes e, mais especificamente, artes marciais. Afirma-se tal ideia, pois é sabido que no ramo dos esportes, sejam as modalidades que forem, é essencial a prática diária, e acima de tudo, muita disciplina para conseguir alcançar seus objetivos.

Não tão diferente de um set de filmagem, que impõe novos desafios diariamente, incentivando uma reinvenção dia após dia; além de uma concentração disciplinar para manter a si mesmo e todos em volta focados para entregar o melhor trabalho possível.

E o resultado disso foi um longa-metragem que, apesar de não reinventar o cinema que aborda a vida dos atletas, cumpre todos os requisitos esperados nesse tipo de obra. Nem sempre empolga e segura as pontas, contudo oferece alguns bons momentos que capacitam a narrativa, especialmente pelo viés emocional da história.

Vale fazer um elogio individual à cena da luta final em Ferida, que foi bem filmada, algo que exige bastante do responsável pelo fio narrativo, devido às coreografias de luta que envolvem o clímax dessa história; além do fato de termos presenciado um momento de muita delicadeza por parte de Berry, que ao fim da luta no octógono, exalta a sororidade entre lutadoras no ringue, mostrando a união feminina mesmo entre profissionais do esporte que estavam a poucos minutos atrás quase se matando, literalmente.

Ferimentos internos

O título nacional estabelecido pela Netflix, assim como o original ‘Bruised’ (no traduzido, machucada), fazem referência tanto às lutas na vida de Justice, como as dores vividas pela infância extremamente (!) complicada que teve. Algo que indica também suas dificuldades para se adaptar às funções maternas para com o pequeno e adorável Manny, papel de Danny Boyd, Jr., que atuou muito bem apesar da pouca idade.

É pela vulnerabilidade e energia física pulsante de Halle Berry em cena que depositamos nossa atenção em Ferida, que como tantos filmes desse estilo miram a superação dos desafios, que vão muito mais além da prática esportiva.

É a chance de Justice de se perdoar e fazer justiça para com seu menininho. Pôr um fim, terminar, cerrar, acabar de vez com o ciclo de dores e sofrimento que costumam passar de pais para filhos.

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