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Crítica | I Am Mother

Não é fácil ser mãe! Quantas vezes já ouvimos isto durante o curso da vida? De tantas figuras femininas à nossa volta, sejam nossas mães, esposas, avós, filhas. Talvez seja realmente impossível para alguns sentir e saber quais são as agonias maternais. Desta maneira, surpreende pela sensibilidade que o cineasta debutante Grant Sputore tratou o tema com uma mãe do tipo máquina em I Am Mother, novo sci-fi original da Netflix.

O debute de Sputore nos leva para um futuro pós-apocalíptico onde uma jovem conhecida como Filha é criada por sua Mãe, uma IA, inteligência artificial. O propósito dado para a jovem é de um dia repopular o planeta. Porém, sua Mãe continua a segurá-la dentro do composto subterrâneo onde se encontram. Com a chegada de uma mulher ferida, a Filha começa a questionar se sua Mãe está lhe dizendo a verdade do mundo lá fora.

A maneira mais direta de se definir esta produção original Netflix, é como um pot-pourri de alusões e referências a outros filmes do gênero ficção científica e, até de obras de terror, como por exemplo: os filmes da série Alien (mesmo o equivocado Alien: Covenant tem sua chance), Ex_Machina: Instinto Artificial, IO (produção da Netflix lançada no começo deste ano), Blade Runner – O Caçador de Androides, O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (vide o visual e atitude da personagem vivida por Hilary Swank), e inclusive temos uma clara alusão ao terror O Iluminado de Stanley Kubrick.

Dá para imaginar que o principal erro que irão cometer ao analisar I Am Mother é rotulá-lo como um filme que fala sobre formas de inteligência artificial. Ok! Mas isso é assunto, e não o tema do longa original da provedora via streaming. A obra de Grant Sputore deixa bem claro e explícito, também no título, o que será tratado aqui é a maternidade em todos seus extremos, assim como as consequências e sequelas desta relação.

Talvez esta seja uma pequena escorregada do roteiro de Michael Lloyd Green, deixando tudo muito às claras e antecipando demais qual seria a temática abordada. Sorte de Green que o debutante Grant Sputore tem paciência, carinho e conhecimento de sobra para compensar esta falta.

Se for possível definir o trabalho e esforço do cineasta de primeira viagem em um adjetivo, este seria: meticuloso. Logo no início já dá para notar a atenção e a sobriedade que almeja com I Am Mother. Auxiliado por uma rica e metódica direção de fotografia comandada por Steven D. Annis que valoriza detalhes e feições, além de conseguir alguns planos lindíssimos como na conversa entre a jovem e a mulher interpretada por Swank pelo vidro, com ambas de perfil, presas, isoladas uma da outra.

Essa lente que captura tudo nas minúcias, somada à trilha sonora composta pela dupla Dan Luscombe e Antony Partos fazem da experiência em I Am Mother ser um pouco mais aguda, sem parecer uma manipulação barata, pois tudo é elaborado e empilhado para gerar tensão e, consequentemente, entretenimento.

Vale destacar também as performances das três atrizes do longa da Netflix. A revelação dinamarquesa Clara Rugaard que conseguiu com vibração e inocência captar todas as ansiedades comuns aos jovens sedentos por conhecimentos, especialmente, do mundo afora. Também é de grande vigor a atuação da atriz ganhadora de dois Oscars na carreira, que se inspira em Sarah Connor, papel de Linda Hamilton.

Outra boa surpresa é o trabalho vocal da sempre competente Rose Byrne que dá voz a Mãe, estabelecendo um tom de doçura aconchegante, assim tornando mais difícil para sua Filha partir. E, a atriz ainda consegue alguns ganchos vocais mais fortes na resolução da trama, oferecendo ainda mais nuances para a robô maternal. Tão presente e comovente como a performance de Scarlett Johansson em Ela de Spike Jonze.

Apesar do terceiro ato (meia hora final) de I Am Mother da Netflix não conseguir manter o nível dos dois primeiros, principalmente por acelerar e desperdiçar algumas sugestivas situações, ainda assim, o ofício de diretor foi cumprido à risca no debute de Grant Sputore. O cineasta conseguiu pintar e moldar a figura materna com cores, traços e sombras.

É, realmente parece muito complexo ser mãe e, mais enigmático ainda é saber o que de melhor e pior os filhos irão puxar para si.

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