É bem comum ver a cara de um ator ou atriz em vários lançamentos seguidos quando estão despontando na carreira profissional. Eles aproveitam esse momento na crista da onda para trabalharem o máximo possível para deixar uma boa marca entre os(as) mandachuvas da indústria hollywoodiana.
Normalmente todos compartilham este momento de agenda cheia onde saem de um projeto para o seguinte sem tempo de descanso. Podem reparar que nos últimos anos temos alguns nomes que aparecem em dois ou três lançamentos por ano, como por exemplo: Adam Driver, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Florence Pugh, Bradley Cooper, Emma Stone, Chris Pratt, John Boyega, e tantas outras estrelas.
Mas, chega um momento onde conquista de vez o público de modo geral, onde quase todos sabem seu nome e quem é. Quando esta hora chega, você meio que passa de nível, tornando-se parte de um patamar especial, quando pode-se dar ao luxo de selecionar com mais critério alguns dos próximos trabalhos que fará parte, independente do que julgam ser a qualidade deste material em questão.
Definitivamente temos Sandra Bullock como um dos principais nomes femininos de Hollywood nessa classe especial de atores que aparecem bem menos, mas que toda vez que lançam algo, fazem um tanto de barulho. Para se ter uma noção dessa mudança na carreira da atriz americana de 57 anos de idade, ela só fez parte de oito produções nos últimos dez anos, sendo que dois destes trabalhos são dublagens.
Seu projeto mais recente foi Bird Box, uma produção original da Netflix, assim também como Imperdoável, novo drama que narra a história de Ruth Slater (Sandra Bullock), libertada da prisão após cumprir pena por um crime violento e reingressa em uma sociedade que se recusa a perdoar seu passado. Enfrentando um julgamento severo em qualquer lugar que saibam a respeito de seu histórico criminal, ela vê que sua única esperança de redenção é encontrar a irmã mais nova que foi forçada a deixar para trás. Será que existe perdão no fim do túnel para Ruth?
Uma estrela de cinema
Podemos afirmar com tranquilidade que Imperdoável da Netflix é uma história bem convencional, tanto na estrutura quanto na forma como se apresenta ao assinante da plataforma. E, geralmente em produções deste tipo, percebemos que mais servem como um palanque para a estrela de cinema mostrar seu arsenal de habilidades, do que para destacar uma narrativa que possui algumas temáticas interessantes de serem comentadas.
Este drama dirigido pela cineasta alemã Nora Fingscheidt, estreando em produções hollywoodianas, é um claro exemplo disso. Testemunhamos em Imperdoável uma Sandra Bullock despida de vaidades e portando a carcaça de alguém que passou os últimos vinte anos atrás das grades, ou seja, uma mulher que desconhece o mundo atual, além da noção de que seu passado antes de ser parte do sistema carcerário não existe mais.
Sua performance é o que de melhor temos nessa produção Netflix. Só isso já é um indicativo de um descompasso considerável, em vista que serão tratados assuntos complexos, porém, todos agrupados quase que exclusivamente na performance de Bullock.
Personagens coadjuvantes que poderiam acrescentar camadas e nuances acabam escanteados pelo roteiro do trio Peter Craig, Hillary Seitz e Courtenay Miles, que trata estes como ornamentos dramáticos, nunca como elementos propulsores da narrativa.
Faltou urgência
Nos melhores e mais inspirados momentos de Imperdoável, que só aparecem na segunda metade, notamos uma tentativa pouco eficaz de comentar duas coisas:
Primeiro, a mancha que nunca desaparece uma vez que sabem o que fez e de onde veio; valendo mesmo para aqueles que supostamente pertencem ao seu meio social, que também tendem a olhar de um modo diferente, isolando ainda mais aquela pessoa que deveria ser reintegrada à sociedade, mas que não a quer por perto de forma alguma.
E segundo, a possibilidade de sermos realmente capazes de seguir em frente, perdoando aqueles que um dia tentaram ou fizeram algo ruim à nossas vidas, seja de forma acidental ou de caso pensado.
Conseguimos perceber confortavelmente ambas frentes temáticas nessa produção original Netflix, entretanto, pouco ou quase nada sentimos disso, pois o texto e direção de Imperdoável não disponibiliza nada na primeira metade para o público se conectar, deixando no lugar vários flashes do passado que mostram o trauma gerado para todos os envolvidos, de modo exageradamente repetido.
Enquanto na parte seguinte, falta urgência dramática para que meditemos sobre como tratamos àqueles que poderiam e merecem uma segunda chance, mas que na maioria dos casos, terminam de uma ou outra maneira: de volta à prisão ou mortos.