À primeira vista, Justiça em Família parece algo que já vimos antes. À segunda vista, também.
Ainda assim, vale exaltar as tentativas do debutante diretor Brian Andrew Mendoza em tentar nos surpreender pouco antes da resolução. O problema é que o caminho até chegarmos lá é um tanto familiar, revelando alvo a alvo, concluindo-se que o buraco é sempre mais “embaixo”.
No mais recente mix de suspense com ação da Netflix, acompanhamos o devotado homem de família Ray Cooper (Jason Momoa), que jurou justiça contra a empresa farmacêutica responsável por retirar do mercado um medicamento potencialmente capaz de salvar vidas, como de sua esposa (Adria Arjona) morta pelo câncer. Mas quando sua busca pela verdade leva a um encontro mortal que coloca Ray e sua filha Rachel (Isabela Merced) em perigo, a missão do pai de família se transforma em uma busca implacável por vingança.
Nas profundezas do trauma
É possível estabelecer um paralelo entre Justiça em Família e Beckett, lançamento original da Netflix estrelado por John David Washington, em vista que ambos comentam as minúcias do luto no indivíduo.
Todavia, o longa estrelado por Washington mescla o pesar da perda com um thriller político, de forma onde ambos argumentos terminam esvaziados pela falta de tratamento convincente do texto e algumas escolhas de direção. Enquanto a obra protagonizada por Jason Momoa escolhe um caminho claro e reto da vingança, mas na parte final opta por pegar a estrada que aborda o sofrimento daqueles que perdem quem mais amam.
Essa ruptura do roteiro escrito pela dupla Philip Eisner e Gregg Hurwitz obriga o assinante da Netflix a retomar a história desde seu começo, para checar se houve ou não pontas soltas.
Infelizmente, não dá para afirmar que o estreante Brian Andrew Mendoza foi capaz de amarrar as ações dos personagens da maneira mais convincente. Ele tenta, especialmente quando espelha a enorme frustração e raiva de pai e filha quando praticam esportes de luta, porém, não passa muito disso.
Eisner/Hurwitz deixam uma trilha de migalhas para os espectadores decifrarem o nível do trauma em Justiça em Família, como por exemplo, a maneira que o pai chama sua filha em certos momentos. Contudo, será necessário por parte destes uma dose extra de suspensão da descrença, que não é nada mais do que a interrupção do julgamento em troca da premissa do entretenimento proposto.
Algo muito comum para os amantes da saga de filmes de ação Velozes e Furiosos, mas um pouco estranho nesta produção da Netflix.
Pequena grande garota
No mínimo curioso que em um filme estrelado pelo gigante Jason Momoa, o maior destaque fique com a pequenina Isabela Merced, que fez o que pode para convencer o público em Justiça em Família.
Vale lembrar que a jovem atriz de 20 anos de idade, vem trilhando um caminho elogiável desde seu primeiro grande papel no fraco Sicário: Dia do Soldado (2018). De lá para cá, ainda fez De Repente uma Família (2018) de Sean Anders, e Dora e a Cidade Perdida (2019) de James Bobin. Também fez sua primeira produção com a Netflix em Deixe a Neve Cair (2019).
Em todos estes projetos citados, fica muito fácil observar os talentos de Merced, que tendem a crescer ainda mais, inclusive nos aspectos vigorosos na prática de um cinema mais físico.
Denúncia
O cineasta Brian Andrew Mendoza ainda busca fazer uma crítica às grandes empresas farmacêuticas americanas, que se corrompem para garantir um pedaço de bolo a mais, enquanto pessoas adoecem e morrem ao nosso lado.
Por mais louvável que seja, já vimos este filme antes, muitas e muitas vezes. E, embrulhado no mesmo tipo de papel de presente também.
É necessário maior engenhosidade para fazer com que tramas como Justiça em Família te peguem desde o começo. No entanto, esta produção original da Netflix apresenta-se como um ‘samba de uma nota só’ no quesito cinema de gênero ação.
Isso deixa a narrativa desenvolvida por Mendoza engessada. As coisas só mudam quando nos deparamos com a grande virada na história.
Que nos leva a pensar o quão pálido tudo se mostrou na maior parte do tempo.