La Casa de Papel chega ao seu final no Brasil com a lançamento de sua segunda parte pela Netflix, responsável por distribui-la. Muitos são os motivos da série ser tão aclamada pelo público, e todos esses motivos foram respeitados em sua segunda parte, já que na verdade essa divisão não existe.
Primeiro ponto digno de nota é a premissa da série. A ideia central é fazer um roubo impossível, que na verdade nem é um roubo. O piloto é de longe o melhor episódio, mostrando uma capacidade de apresentação de novas ferramentas de roteiro sem a enrolação de uma introdução. Nos vemos em uma situação confortável e bem explicada já no meio do episódio, o que ajuda a prender o público. A partir de certo ponto, essa força cai, apesar de ainda presente. O número de diálogos desnecessários e explicativos aumenta, e a série vai perdendo força.
Apesar da premissa, o roteiro não é o ponto alto da série. A história é inteligente na maneira como segura o espectador e a divisão que a Netflix escolheu para episódios não é ruim. Todo episódio termina com algum tipo de gancho que só faz aumentar a sede de quem está assistindo. Enquanto muito da primeira parte nos mostra que os criminosos estão preparados para tudo que acontece, a segunda traz os planos do Professor desmoronando cada vez mais. As ações dos sequestradores, dos reféns e da polícia se tornam cada vez mais extremas e, quanto mais perto do fim, mais alguns personagens tomam atitudes que deixam de parecer algo que eles fariam, o que em alguns casos, causa um estranhamento.
O grande trunfo da série são as personagens. Todo núcleo é repleto de personagens verdadeiras e interessantes, que são reforçadas por magnificas atuações. Úrsula Corberó (Tóquio), Alba Flores (Nairobi) e Esther Acebo (Mónica Gaztambide) estão maravilhosas em seus papéis, tendo a última um dos finais mais interessantes na série em quesito de evolução da personagem. Álvaro Morte (Professor), Jaime Lorente (Denver) e Pedro Alonso (Berlim) são os destaques masculinos, que chegam a estar melhores até do que o vencedor do prêmio Goya de ator revelação em 2016, Miguel Herrán (Río). Pedro é provavelmente a melhor atuação da série, mostrando um verdadeiro vilão sociopata sem abusar dos traços vilanescos, chegando a conquistar o público com seu carisma, além de ser uma das personagens mais interessantes de se ver em situações extremas. Chega a ser injusto escolher nomes para citar. Apesar de alguns poucos atores não se destacarem, a maioria do elenco principal, como Itziar Ituño (Raquel Murillo) e Enrique Arce (Arturo Román) estão muito bem. Alguns enredos acabam ficando repetitivos em demasiado. Enquanto o de Arturo é justificável, já que este é o seu papel, a interação entre Raquel e o Professor, e principalmente o seu desfecho, chegam a ser dignos de novelas mexicanas.
A fotografia da série é indiscutível. Não existe uma cena onde a iluminação não esteja impecável. A série brinca muito com o verde, o vermelho e o amarelo, e traz composições interessantíssimas em ambientes mais escuros. A movimentação da câmera também é uma aula para o público, mostrando cenas de ação limpas, onde o público sente a confusão do tiroteio ao mesmo tempo que entende tudo que está acontecendo na tela. Durante as cenas de suspense, a câmera também ensina, transformando o espectador em expectador.
A estranha decisão de mudar a edição de La Casa de Papel feita pela Netflix torna a série mais interessante ao se pensar em episódios, mas não em temporadas. A série que originalmente contava com quinze episódios de mais de uma hora, foi dividida em duas partes de tamanhos diferentes, totalizando vinte e um episódios. Quando Álex Pina, criador da série, fez sua obra que foi ao ar na televisão espanhola Antena 3, essa não era a sua ideia de divisão.
A série se fecha sem deixar pontas soltas ou possibilidades de continuação, então dificilmente veremos uma “terceira” temporada. O final da série não é todo espetacular, mas é honesto, e deve surpreender o público em alguns aspectos. La Casa de Papel é uma das melhores séries de 2017, mas não escapa de poucos defeitos, perdoáveis em sua maioria.