Adeus

Crítica: Lucifer – 6ª Temporada

Temporada final de Lucifer opta pela jornada emocional, enquanto entrega mudanças valiosas

Meses atrás, quando a Netflix liberou a segunda parte da quinta temporada de Lucifer, já ficava claro boa parte do rumo que teríamos para a temporada derradeira da amada série iniciada em 2016.

Tal rumo caminhava por vias emocionais mais potencializadas, como a busca no acerto de contas, entre pai (Deus) e filho (Diabo), por exemplo.

Agora, após passar toda uma temporada exaltando a ideia da humanidade existente em cada um de nós, embarcaremos de corpo e alma em uma jornada final que promete entregar algo que nós é oferecido, de incontáveis maneiras durante a vida, mas que por nossa leviandade, teimosia, ou a mais que conhecida autossabotagem, descartamos com maior facilidade em muitos casos: a oportunidade de se reerguer.

Sim, é isso mesmo o que leu. A série sobre o guardião do inferno mira a busca pela redenção em seus capítulos finais e, provavelmente, emocionará seus fiéis fãs que tanto lutaram para a continuidade desta produção, após o cancelamento com o fim da terceira temporada, saindo das mãos da Fox, e encontrando uma nova casa com a Netflix.

Iniciamos a sexta parte com o protagonista Lucifer (Tom Ellis) prestes a assumir seu novo cargo celestial como O Todo-Poderoso Deus. Contudo, as coisas se complicam um pouco com a aparição de um novo anjo misterioso (Brianna Hildebrand), que promete abalar a vida e relações de Lucifer na Terra.

Caminhando… mas, cambaleando

Se formos analisar esta recente temporada de Lucifer pelo prisma narrativo, observaremos que existe certa irregularidade na maneira como algumas coisas foram dispostas no enredo.

Quando apertamos o ‘play’, teremos de cara, dois episódios que nos remetem ao que foi esta produção Netflix em sua maior parte: mistérios tenebrosos envolvendo a equipe de investigação liderada por Lucifer e a Detetive Chloe Decker (Lauren German).

Diante do apoteótico final da temporada anterior, iniciar este novo volume deste modo, acabou sendo algo um tanto frustrante, pois parece que estamos repetindo os mesmos movimentos, só que com diferentes peças.

No entanto, a partir do terceiro episódio ‘Iabadabadú, o diabo voltou’ ganharemos um novo ingrediente que indicará toda a mobilidade narrativa da série, até seus momentos finais. Estamos falando de Rory, papel da jovem atriz Brianna Hildebrand, conhecida pelos trabalhos na série de filmes sobre o anti-herói Deadpool, além da produção original Netflix Gatunas.

Se na prática, Hildebrand parece repetir suas performances, mesmo trabalhando em projetos completamente distintos, ainda é possível afirmar que apenas a existência de sua personagem dentro do contexto narrativo proposto, mostrou-se mais que o suficiente para estabelecer os conflitos emocionais definitivos que viriam sacudir as vidas do casal principal da trama.

O tom de despedida aumenta exponencialmente na chegada do sétimo capítulo ‘O casamento do meu demônio preferido’, que foca na relação entre Maze (Lesley-Ann Brandt) e Eva (Inbar Lavi).

Serviço social

Na parte central desta sexta temporada de Lucifer, observaremos que a série criada por Tom Kapinos buscou comentar algumas situações sociais que afetam nossas realidades diariamente, seja de uma forma mais seriamente respeitosa, ou usando do humor para retratar algumas características viciosas em nossos comportamentos.

Em ‘A coisa é bem mais suja’, reparamos na denúncia sobre o racismo presente dentro da força policial na América, temática que vem aparecendo cada vez mais e mais, depois dos acontecimentos de maio de 2020, com o assassinato de George Floyd e as manifestações do movimento social Black Lives Matter (BLM).

Apesar da mensagem de extrema importância, não podemos dizer que tal assunto foi tratado de uma maneira onde sentimos todo o pesar emocional que tem afetado nossa sociedade estruturalmente racista. Tinha potencial a ser explorado, ainda mais, levando em consideração a boa performance da atriz Merrin Dungey, que interpretou uma policial que foi parceira de Amenadiel (D.B. Woodside).

Já, em um outro momento, Lucifer resolveu comentar os perigos da masculinidade tóxica, usando a figura de Adão (sim, aquele mesmo da Bíblia Sagrada). Além de ter apresentado criatividade nesta associação, também foi possível arrancar algumas boas risadas através das argumentações.

Nesta produção Netflix, a figura de Adão (Scott MacArthur) representou algo completamente diferente do esperado, e mostrou que até mesmo o mais primitivo dos homens pode alcançar a conscientização pelos males causados entre as vidas femininas.

Sessão terapia

Em tempos recentes, temos visto muitos comentários sobre a relevância da saúde mental, principalmente nesta era da pandemia, onde ficamos mais isolados na tentativa de protegermos nossas vidas.

Assim, profissionais da saúde mental, tornaram-se essenciais para a nossa sobrevivência durante estes períodos tão difíceis que (ainda) vivenciamos.

Vale exaltar, que a série Lucifer sempre se mostrou uma grande apoiadora quando o assunto é fazer terapia, que (felizmente) perdeu a estigma negativa de ser “coisa de maluco”.

Talvez, seja este o maior legado dessa produção original Netflix, destacar a magnitude dos benefícios que a terapia expande na vida humana, ou no caso, anjos e demônios.

A relação entre o protagonista e a Dr. Linda Martin (Rachael Harris) moveu a narrativa por todas as temporadas de Lucifer. Foram seis anos de sessões e mais sessões, na busca de aprimoramentos pontuais, ou mesmo algum consolo para tantas dores e medos. É inegável o tipo de impacto que isso teve na vida da estrela principal desta série, vide a cena final que fecha o ciclo de vida de Lucifer na Netflix.

Nem tudo está perdido para nós

Certamente, os fãs sentirão muita falta de acompanhar as situações mais deliciosamente estapafúrdias vividas pelo rei das trevas Lucifer, daqui em diante. Mas, o legado fica!

E, qual legado foi esse?

Lembrar que mesmo as almas mais condenadas e desvirtuadas recebem uma segunda chance quando mudam algumas de suas atitudes. Que nem tudo está perdido, que existe uma possibilidade de redenção para todos nós.

Basta se abrir, e entrar em conexão com suas próprias verdades. E, quanto antes puder aceitar quem é, ou como são as coisas a sua volta, mais próximo estará de levantar a cabeça para poder seguir em frente exercendo o melhor de si.

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