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Crítica | Meu Eterno Talvez

Nos últimos meses, ficou fácil perder a conta de quantas comédias românticas a Netflix produziu. Nem adianta querer fazer a contagem! Perda de tempo. A contagem … mas, não o filme dirigido pela diretora Nahnatchka Khan em seu debute com longas-metragens.

A rom-com Meu Eterno Talvez, no original Always Be My Maybe, um título que brinca com a canção popular da diva do pop Mariah Carey, o hit Always Be My Baby, nos apresenta a história de Sasha Tran e Marcus Kim, amigos desde a infância que se reencontram dezesseis anos depois. Ela, uma renomada chef de cozinha abrindo uma nova filial de sua rede de restaurantes em sua cidade natal, São Francisco; e ele, um músico popular de seu bairro que trabalha com seu pai, reparando e instalando ar condicionados. Agora, que retomaram a amizade, ambos percebem que talvez sintam mais do que imaginam um pelo outro, e provam que pode ser muito difícil apenas serem amigos.

Pela sinopse, já dá para perceber que não iremos escapar das mesmas velhas fórmulas, que nos levam aos mesmos lugares-comuns visitados anteriormente, certo? Correto. Mas nos filmes, assim como na vida, não é apenas sobre o objetivo, mas sobre a jornada. E, o caminho que Meu Eterno Talvez pega, é sem dúvida prazeroso, muito disso vêm nos méritos de um roteiro atual com algumas sacadas cômicas que funcionam (óbvio dizer que não são todas que levam ao riso), mas principalmente, os grandes predicados desta produção original Netflix são os atores que interpretam o casal protagonista: Ali Wong e Randall Park.

Pelos sobrenomes dos atores, já dá para notar uma grande diferença de outras comédias românticas. O par amoroso aqui, possui atores de ascendência oriental. Wong, é filha de chineses e vietnamitas, enquanto Park é descendente de coreanos.

Ano passado, o longa Podres de Ricos de Jon M. Chu fez um sucesso estrondoso com uma bilheteria que quase fez oito vezes o valor de seu orçamento. Algo de notável se pensarmos que o filme de Chu (cineasta chinês) é constituído por um elenco integralmente asiático. E, a rom-com da Netflix vai pelo mesmo caminho, pegando carona no sucesso do filme de 2018.

Nos tempos atuais, é inegável o valor que representatividade tem ganhado. Melhor para todo mundo, por duas razões básicas: primeiro, mais oportunidade de trabalho para pessoas que geralmente ficam escanteadas à meras participações em tantos projetos; e segundo, uma possibilidade mais ampla de histórias diferentes a serem exploradas, tanto historicamente quanto culturalmente, em sumo, praticamente um serviço público educacional em um mundo globalizado.

E, se for possível fazer isto, e ainda entregar um material de bom entretenimento, melhor ainda, que é o caso de Meu Eterno Talvez.

Nem todos nesta comédia romântica dirigida por Nahnatchka Khan são orientais, que ainda são maioria. Porém, uma participação especial não pode deixar de ser destacada neste longa da Netflix. Nada mais, nada menos que Keanu Reeves, uma instituição do cinema de ação, faz algumas cenas em Meu Eterno Talvez, interpretando a si mesmo, de maneira solta, e peculiarmente deliciosa de se assistir. Até permitiram que o astro de cinema deixasse transparecer sua verve rockeira no longa, com músicas de bandas como Alice in Chains, tocando ao fundo enquanto o intérprete de John Wick exibe sua personalidade ‘cool’ em cena.

Na sua meia hora final, o lado romântico se sobrepõe ao humorístico, deixando tudo um pouco mais clichê. Tanto que num é possível afirmar que aquela típica cena do grande gesto romântico perto da resolução, seja das mais inspiradas, muito pelo contrário, é bem frouxa e esquecível apesar do talento dos atores, ambos advindos da comédia.

Logo, ao final de Meu Eterno Talvez da Netflix, fica uma sensação agradável, pois mesmo vendo o mesmo modelo sendo repetido vez após vez. O fato de estarmos na companhia de um casal que não é um repeteco totalmente clonado, ajuda a temperar a mesma receita com um pitada diferente aqui e acolá.

Não é atoa que logo no começo do filme, vemos a diretora reencenar a icônica cena de Manhattan de Woody Allen, apenas trocando a ponte de Nova York, pela Golden Gate de São Francisco. Todos os praticantes de rom-coms sabem a quem se inspirar (ou até copiar), mas poucos são os que conseguem elevar o gênero além do feijão com arroz básico de todo dia. Ainda assim, estamos aqui diante de um yakisoba bem apresentável.

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