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Crítica | Next Gen

Next Gen chega para o streaming como o mais novo longa de animação original Netflix. O filme traz a gigante da internet, em parceria com a Baozou Family, para a briga com grandes estúdios de animação. Com a competência dos envolvidos, não é de se espantar que a qualidade de Next Gen seja tão alta. Mesmo que estejam estreando na direção, Kevin R. Adams e Joe Ksander são veteranos no departamento de animação. Contando a história de uma garota que tenta driblar seus problemas com abandono, a animação traz questões sobre memória, amizade e tecnologia.

Enquanto Adams já havia trabalhado em grandes filmes da Disney, como A Nova Onda do Imperador, Hércules e Fantasia 2000, Ksander também atuou no mainstream em Transformers: A Era da Extinção, X-Men: Primeira Classe e Zé Colmeia: O Filme. Foi em 9: A Salvação, de 2009, que ambos trabalharam pela primeira vez, e é seguindo essa linha de animação que Next Gen impressiona. O longa nada deixa a desejar para um filme da Dreamworks na questão de arte, e pouco deixa a dever para as adoradas animações da Pixar. Se pode se citar algum ponto, é que em determinadas cenas a movimentação da boca dos personagens não corresponde a qualidade vista nos filmes da empresa que atualmente pertence a Disney, mas isso de forma nenhuma desqualifica Next Gen.

Em alguns quesitos, há de se dizer que a animação se sobressai as demais. A movimentação da câmera nas sequências de ação, principalmente mais para o final, são dignas de um filme dirigido por Steven Spielberg. O enquadramento vai seguindo os acontecimentos mais notáveis dessas sequências, surpreendendo o espectador ao mesmo tempo em que tira sua respiração. A aquisição dos direitos de Next Gen pela Netflix se justifica aqui. Porém, a escolha das mudanças visuais da obra de Wang Nima enfraquece um tanto o que poderia ter sido o longa.

Perdendo toda a sua identidade, a animação se foca demais em referências visuais de futuros de distopia já vistos antes no cinema. Praticamente todo o cenário se apoia na ideia criada por Blade Runner: O Caçador de Androides, filme de Riddley Scott de 1982. A empresa IQ Robotics parece uma cópia da edificação icônica de Eu, Robô e, os olhos mais atentos, verão prédios que lembram a Stark Tower introduzida em Vingadores de 2012. Os robôs também foram mudados, lembrando muito o que já foi feito em Wall-E, em 2008. Assim, a identidade visual do filme não traz nenhuma novidade e, pelo contrário, parece se esforçar demais para parecer familiar, como boa parte das obras da Netflix.

A trama, que também ficou por conta de Adams e Ksander é interessante, mas trabalhada de uma forma um tanto rasa e maniqueísta. Nesse caso é possível se argumentar que boa parte das animações infantis sigam essa linha, mas nos últimos anos também é possível se notar uma mudança, e se a Netflix pretende entrar com os dois pés na disputa da indústria de longa metragens de animação, suas futuras produções precisam se adequar ao mercado. Ainda assim, é uma adaptação notável para o primeiro roteiro adaptado pelos animadores, que só haviam escrito curtas.

As personagens do filme até conseguem ganhar mais camadas conforme a trama avança, mas apenas um trabalho de voz se destaca. Com nomes fortes no elenco, como David Cross, Jason Sudeikis e John Krasinski, somente Michael Peña parece totalmente bem aproveitado. Sendo um forte alívio cômico, o ator interpreta Momo, um bulldog francês que apenas fala quando estamos acompanhando a visão de 7723, o herói do filme junto de Mai, interpretada por Charlyne Yi. Com Momo, Next Gen encontra um alívio cômico perfeito, que mesmo com piadas recorrentes, sempre surpreende e deve arrancar gargalhadas do público, tanto infantil quanto adulto, além de ser inteligentemente usado como artifício de roteiro, não dando o ar gratuito que costuma se ter nas piadas das animações.

O final do longa conta com uma impressionante batalha de robôs que lembra os clássicos japoneses desde o tokusatsu até Dragon Ball Z, mas perde uma boa chance de ser agridoce, e com poucos minutos a menos poderia ser uma história marcante. Ainda assim, Next Gen é uma animação que impressiona por sua qualidade nos mais diversos aspectos, mostrando um futuro promissor na área, não só para os estreantes Adams e Ksander, mas também para a Netflix, que em breve terá a Disney como concorrente no streaming, e se mostra ciente disso e com vontade se preparar para enfrentá-la.

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