Quem aqui já teve a oportunidade de brincar de polícia & ladrão quando criança?
Lembram da brincadeira? Alguns escolhiam fazer o papel do policial e sair na caçada dos amiguinhos que fugiam e tentavam se esconder como ladrões. Definitivamente, era um jogo simples e divertido.
Quando crescemos, tal jogo perde o sentido puro que um dia teve, pois houve a retirada dos dois adjetivos que usávamos para definir a sensação de brincar o jogo. Uma vez que, tornou-se cada vez mais abstrato definir quem é polícia, e quem é ladrão nessa vida.
Em cima disso, O Informante, produção original da Netflix que possui um elenco recheado de estrelas de Hollywood, nos situa na metrópole Nova York, onde o ex-condenado Pete Koslow (Joel Kinnaman) trabalha para os federais do FBI como um agente infiltrado em uma máfia polaca. Quando uma missão de captura do chefe da máfia não ocorre como o planejado, sua superior Erica Wilcox (Rosamund Pike) ordena que Pete vá para uma prisão de segurança máxima para desta vez, finalmente, conseguirem apanhar os membros da máfia que agem, dentro e fora, dos muros da cadeia.
Old school
É mais que natural, imaginar que um filme que se situa no meio da bandidagem mafiosa, teremos muitas cenas de tiro, violência, e talvez uma ou outra perseguição policial, e assim por diante…
Em O Informante, até será possível encontrar alguns destes elementos, porém todos esses que forem encontrados, são executados em chave baixa, sem malabarismos ou qualquer grandiosidade.
A produção original Netflix possui uma atmosfera mais old school (no traduzido, velha escola) de cinema de ação policial, ou seja, pratica aquela máxima que diz: ação é personagem, e personagem é ação.
E, é só disso que precisa para apresentar um filme enérgico, e por vezes tenso, em especial, no quarto final da projeção.
Falar de O Informante, é exaltar o trabalho físico inabalável de Joel Kinnaman, que ficou mundialmente conhecido pelo remake RoboCop (2014) e depois como um personagem da DC Comics, na adaptação dos quadrinhos Esquadrão Suicida (2016). Kinnaman não é Bruce Willis, ou Tom Cruise no longa dirigido pelo diretor italiano Andrea Di Stefano, porém, cirurgicamente faz o correto necessário para nos entreter, e tensionar em um ou outro momento. Inegavelmente, um dos melhores trabalhos do ator de origem sueca, em toda a carreira.
No elenco, também temos destaque para Rosamund Pike, que em 2021, está em outras duas produções originais diferentes no catálogo Netflix, Eu Me Importo e Radioactive.
Poder X Poder X Homem
À primeira vista, pode até parecer que O Informante, é só mais um filme de suspense policial qualquer despretensioso, sem nenhum contexto social, ou qualquer coisa do tipo. Aí, é o engano!
Longe de dizer que o cineasta Di Stefano está fazendo uma radiografia detalhada da América, como faz o lendário autor de cinema Clint Eastwood, ainda mais em tempos recentes, como nos filmes A Mula (2018) e O Caso Richard Jewell (2019). Todavia, o diretor italiano eleva em seu longa-metragem, a discussão entre os poderes da lei, da rua, e por fim, do homem comum.
Só usando a emblemática cidade de Nova York como pano de fundo, para discutir o poder das grandes instituições americanas, como a NYPD (polícia) e o FBI (agência federal). E, no meio dessa briga de cachorro grande, encontramos Pete Koslow, com suas qualidades e falhas, tentando se equilibrar entre os poderes do crime e da lei.
Espertamente, Andrea Di Stefano seleciona dois personagens na trama, com a intenção de mostrar que mesmo no centro corrupto, existe uma faixa de consciência atravessando, e de que a comunicação entre as forças deve ser capaz de trazer mais benefícios do que o ego absoluto.
Mas então, quais seriam as chances do homem comum, como Pete Koslow, de triunfar entre as espadas? Pouquíssimas.
No entanto, o cineasta dessa produção original Netflix, gosta de seu protagonista. Gosta tanto, a ponto de não tirar da performance de Joel Kinnaman, seus olhares de dúvida, também de obstinação, transformando a personagem na própria imagem da sobrevivência.
Até porque, diante das grandes forças institucionais, sejam estas políticas ou privadas, fica claro que, assim como o nosso herói, estamos por nossa própria conta.