Em meados de 2017, testemunhamos Ozark ganhar uma mais que merecida notoriedade entre o público, que se colocava na situação de cúmplice da família Byrde, encabeçada pelo chefe da família Marty.
De lá para cá, observamos que a produção da Netflix, desenvolvida pelo duo Bill Dubuque e Mark Williams, foi atraindo cada vez mais audiência, que acabou se transformando em fã-clube, assim como também angariou alguns prêmios importantes. A série recebeu um total de trinta e duas indicações ao Primetime Emmy Award, incluindo duas para Melhor Série Dramática, com Jason Bateman vencendo na categoria Melhor Direção de Série Dramática em 2019 e Julia Garner ganhando duas vezes consecutivas (!) por Melhor Atriz Coadjuvante em Série Dramática, em 2019 e 2020.
Todas distinções muito bem justificadas, devemos dizer!
Portanto, de corações partidos teremos que nos despedir do suspense dramático da Netflix que chega na sua quarta e última temporada, que foi dividida em duas partes, cada uma contendo sete episódios.
Lembrando que Ozark inicia logo após um esquema de lavagem de dinheiro para um cartel de drogas mexicano dar errado, fazendo com que o consultor financeiro Martin “Marty” Byrde (Jason Bateman) proponha um acordo oferecendo a criação de uma operação de lavagem maior na região do Lago de Ozarks, no centro do estado de Missouri. Marty de repente muda sua família do subúrbio de Chicago de Naperville para a remota comunidade de veraneio de Osage Beach. Quando os Byrdes chegam ao Missouri, eles se envolvem com criminosos locais, incluindo as famílias Langmore e Snell, e mais à frente, a máfia de Kansas City.
Quanto mais mexe, mais embaraçado fica
É muito comum nos apegarmos de modo imprensado a narrativas que quanto mais parecemos perto de resolver a situação, mais longe e fundo estamos imergidos no contexto em questão.
Ozark tem mostrado alguns predicados na prática de fidelização do público, que vai analisando as escolhas e mudanças da família Byrde, cada vez mais presos à história.
Sendo que boa parte disso acontece tão naturalmente pelo roteiro da produção original Netflix, que vai apresentando dificuldade atrás de dificuldade para os membros do clã, dando a chance de mostrar cada um deles (além da contestadora Ruth) lidando e saindo dali melhor do que quando entraram. Toda vez.
Porém, ao mesmo tempo que notamos as habilidades dos Byrdes, percebemos que os problemas continuam emergindo, sempre trazendo maiores adversidades no caminho deles. Algo que a narrativa fez questão de pontuar no sétimo episódio intitulado ‘Santificado’, quando compreendemos os valores de nossos acordos durante a vida, uma vez que aquilo que aceitamos e confirmamos pode ter um retorno nem sempre positivo.
A questão é a hora que a vida resolve coletar tais escolhas.
Problemas em casa?
Outro destaque do roteiro para essa quarta temporada veio através das brigas e discussões dentro da residência Byrde, que se vê cada vez mais dividida e confusa sobre o que fazer para impedir que algo pior aconteça entre eles.
Observamos um foco maior fervendo por duas frentes: mãe e filho; esposa e marido.
Pelo primeiro, temos um confronto entre uma suposta obrigação familiar contra a rebeldia daquele que não se sente mais encaixado naquele cenário. Surpreendem algumas atitudes da mãe Wendy (Laura Linney), que demonstrou frieza em um determinado momento, assim como um temperamento impensado que poderia ter custado muito mais do que aquilo previsto.
Agora, os atritos entre o casal Wendy e Marty vão muito além da criação de seus filhos, na medida que só percebemos qualquer tipo de comunicação acontecendo quando necessitam dar satisfação um ao outro dos tantos pepinos que surgem para resolverem, sejam relacionados ao trabalho ou mesmo dentro da casa. Porém, fica perceptível a distância emocional entre eles, tanto que notamos Marty cada vez mais apegado à inconsequente Ruth; enquanto Wendy aposta e confia fielmente no advogado Jim Rattelsdorf, vivido pelo ator Damian Young.
Toda vez que temos uma cena de “jantar familiar” que reuni os quatro, já sabemos que dali não vai sair algo de bom. Muito provavelmente assistiremos quatro pessoas realmente bem incomodadas de estarem naquela situação, tendo que estar na presença uns dos outros, sem a menor aptidão para aquilo.
O nascimento de um monstro
Neste primeiro volume da temporada final de Ozark tivemos um pouco mais de destaque no elenco principal feminino, representado pelas atrizes Laura Linney e Julia Garner.
A atriz veterana representou através de Wendy algo inédito até o momento, muito em razão do comportamento nada usual que aflorou logo depois da morte de seu irmão Ben (Tom Pelphrey). Analisamos que a matriarca da família se encontra claramente em pleno estado de confusão, porém, o mais incomum e assustador é perceber que isso na realidade irrompeu algo que estava adormecido dentro dela, alguma coisa definitivamente (mais) perigosa, vide a cena final do quinto episódio “Explicação plausível”. Cena e performance assombrosas!
Já na outra ponta da produção Netflix encontramos a sempre intensa Ruth, que mais uma vez exalta o trabalho de Julia Garner. A jovem incontrolável não faz muito diferente do que já havíamos visto nas três partes anteriores, só que aqui testemunhamos ela ir cada vez mais forte nas vulnerabilidades da personagem, que surpreendem assim como Wendy, em vista que talvez podemos estar diante de um real monstro daqui para frente.
Fica a expectativa para a segunda parte, que finaliza todo o arco dramático de Ozark, quando possivelmente veremos um pouco mais de uma Ruth, agora, renascida das chamas do ódio.