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Crítica | Por Lugares Incríveis

Existem pensamentos que dizem que aqueles que mais festejam são os que se encontram mais feridos no recinto. Estranho pensar que isso possa ser uma realidade em pleno mês de Carnaval, não?! Ou será que toda essa folia na verdade é desgosto e frustração?! Não é possível dizer, pois cada caso é um caso. Contudo, a Netflix pode ser que pense algo nessa linha, já que lançou dois longas-metragens no período de trinta dias que abordam os mesmos temas: isolamento e depressão.

No começo do mês saiu o irregular e surrealista Entre Realidades de Jeff Baena, agora, para fechar a conta, fica disponível ao assinante o drama romântico Por Lugares Incríveis de Brett Haley.

Baseado no best-seller internacional de Jennifer Niven, acompanhamos a história de Violet Markey (Elle Fanning) e Theodore Finch (Justice Smith), que se conhecem em uma situação inusitada e transformam um ao outro. Enquanto se esforçam para superar os traumas e angústias do passado, se aproximam, e descobrem que os lugares mais comuns podem significar momentos inesquecíveis.

O diretor Brett Haley, diferentemente da obra de Baena, opta por uma narrativa mais convencional, abraçada ao cinema de gênero, como por exemplo: A Culpa É das Estrelas (2014) de Josh Boone e A Cinco Passos de Você (2019) de Justin Baldoni. Apesar disso, não é possível afirmar que ele consiga tirar todo o proveito dessa fórmula, ainda assim, ganha pontos por conseguir exprimir pura honestidade de seu par romântico, além de estabelecer algumas diferenças importantes sobre as maneiras que as pessoas reagem quando não se mostram no seu melhor estado de saúde mental.

O quesito que perde alguns pontinhos desta produção Netflix ocorre quando abordamos o romance adolescente. Longe de dizer que as performances de Elle Fanning e Justice Smith não apresentem qualquer química. Muito pelo contrário. É perceptível que suas vulnerabilidades são uma porta entreaberta para que o outro possa entrar de coração e alma. O problema é que há um certo desnível, de modo que o grande potencial de Por Lugares Incríveis está na complexidade e profundidade das dores que ambos sentem, especialmente, o personagem de Smith.

Logo no começo da projeção, ainda mais se tiver o conhecimento básico de como funciona um roteiro do tipo clássico, ficará claro como terminará esta história de amor. Mesmo esta previsibilidade não retira o grau emocional que pegamos destas vidas fictícias, porém brutalmente reais.

Mais do que abordar a impenetrabilidade dos que sofrem, o roteiro assinado pela escritora Jennifer Niven, em parceria de Liz Hannah, estipula as diferenças de comportamento e atitudes destes que se encontram na curva descendente.

A jovem Violet que passou por um grande abalo em sua vida pessoal, se encontra num estado de torpor, como que inerte a tudo que acontece em sua volta. Resumindo: Violet está profundamente amargurada pelo rumo que sua vida tomou após perder algo que amava muito. Essa confusão, como a personagem mesmo confessa ao pai, é uma etapa penosa do luto pessoal.

Agora, Theodore apresenta um estado completamente diferente. Lembram-se do começo quando foi comentado a alegria “falsa” dos foliões? Então, isto é Theodore: aventureiro, sorridente, participativo, empático, entusiasmado, e tantos outros predicados mais quiser encontrar, pois o garoto possui vários. Mas, para cada face que você expõe, fica aquela imagem do que pode estar selado internamente.

O garoto está ciente de sua condição instável, no entanto, não se sente capaz de contornar as próprias armadilhas de sua mente ansiosa. A cicatriz em sua barriga é muito menor do que a agonia que mascara para aqueles em seu entorno.

Muito potente é a cena em que o jovem conversa com sua irmã no bar onde ela trabalha. Ali, percebemos que o tempo todo, mais do que salvar a amada Violet de suas dores, Theodore queria salvar um outro alguém, e que se esta pessoa pudesse ser resgatada de suas escolhas infelizes, ele também poderia encontrar o alívio de que um dia todo este desespero iria passar. Como forma narrativa isso é bem engajante, mesmo que não seja tão claro como um meio de serviço público para os que passam por momentos de desequilíbrio emocional e mental.

Por Lugares Incríveis da Netflix pode não ter o temperamento charmoso e humor de O Lado Bom da Vida (2012) de David O. Russell; ou a personalidade cativante e peculiar de Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer (2015) de Alfonso Gomez-Rejon; ou o absurdismo tragicômico de Um Novo Despertar (2011) de Jodie Foster.

Mas é o essencial, … já que é infinitamente humano.

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