Netflix

Crítica | Resgate do Coração

O nome não é promissor, claro. Mas, vai dizer que fosse o nome de uma novela mexicana ou colombiana passando no seu canal aberto favorito, você num iria assistir – seja como fã ou apenas para rir – para testemunhar umas cenas de tapa, copos de champanhe sendo quebrados no chão, algumas mulheres com a maquilagem borrada chorando em lençóis brancos de 1500 fios egípcios, e assim por diante …

É, Resgate do Coração, nova comédia romântica natalina da Netflix não é estrelada por Gabriela Spanic, Itatí Cantoral ou Thalía. Não, mas a dona da vez é Kristin Davis, a Charlotte de Sex and the City.

Dirigido por Ernie Barbarash, o longa nos apresenta Kate, mãe de família que mora na parte rica de Nova York, que vê sua vida virar do avesso logo após seu filho sair de casa para a faculdade, e seu marido avisar que não quer mais continuar junto dela. Decepcionada, resolve fazer a viagem para a África que havia planejado como uma segunda lua de mel sozinha. Lá, na primeira noite conhece Derek, um charmoso piloto de avião que a levará em uma safári para conhecer as redondezas. Para surpresa dela, dá de cara com uma elefanta morta e seu filhote, agora, órfão. Kate se comove, e resolve ajudar, já que se formou em veterinária muito tempo atrás, apesar de não ter trabalhado na área. Agora, ela encontrou uma nova vocação e razão para ficar no continente africano, ao lado dos elefantes e Derek.

Pela sinopse, dá para adivinhar onde estamos, e para onde vamos, certo? Talvez seja este um dos grandes problemas de Resgate do Coração: óbvio demais, além de ser repetitivo, não ter nenhum conflito que chame a atenção, diálogos previsíveis, trilha sonora manipulativa – com e sem músicas natalinas. É, … na verdade, o filme de Barbarash é pior do que o esperado.

Convenhamos, filmes natalinos não costumam entregar nada além do que esperamos. Claro, existem ótimas exceções nesse nicho cinematográfico, sejam mais clássicos como A Felicidade Não Se Compra (1946) de Frank Capra e Agora Seremos Felizes (1944) de Vincente Minnelli; ou dos anos 80/90, como Esqueceram de Mim (1990) de Chris Columbus, ou até Duro de Matar (1988) de John McTiernan, por exemplo.

Se tivermos sorte, um longa como Crônicas de Natal – também da Netflix – , estrelado por Kurt Russell acaba sendo mais do que o suficiente para entreter e manter o espírito natalino, seja da maneira que for ou precisar.

Uma pena. Dado que Resgate do Coração, apesar de suas belíssimas boas intenções, não faz mais do que isso, infelizmente.

Fica até injusto fazer alguma argumentação negativa em relação aos atores. Kristin Davis, meio que repete a simpatia de sua personagem mais popular, com uma mínima dose de dramaticidade emocional, e seu par romântico – papel de Rob Lowe – é um tipão cinquentão, de barba cerrada e óculos de aviador, que se veste como um Indiana Jones.

O roteiro escrito a quatro mãos, pelos irmãos Dobrofsky (Neal e Tippi) faz uma comédia romântica onde não se encontra graça alguma, em nenhuma parte. Só aí, já basta para tachar esta produção original Netflix como algo muito abaixo da média. Sim, uma história bonita, mas inofensiva. Nem para aquelas pessoas que gostam de chorar em filmes, e se “torturam” assistindo os mesmos repetidas vezes, ano após ano, conseguirá tal momento de prazer.

E os diálogos? Esses sim, são de cortar o coração, mas não há resgate que salve. Quase tudo que sai da boca de Rob Lowe parece como …, como uma mensagem de cartão de Natal, olha lá! Pelo menos isso ficou algo harmonizado.

A parte romântica funciona, mas passa longe de ser algo vibrante, ou atraente. Davis e Lowe parecem à vontade um com o outro, ao menos.

Ah …, não esqueçamos da trilha sonora manipuladora que segue duas linhas: quando todos estão alegres, sorrindo e cuidando de elefantinhos, música étnica africana percussiva; nas cenas dramáticas ou românticas, aquele piano básico para admirarmos a beleza do universo através do céu noturno estrelado da África.

A única coisa que pode-se tirar de bom de Resgate do Coração é a mensagem de conscientização do terror – que ainda resiste nos dias atuais – relacionado à caça de elefantes, especialmente, para obter suas enormes presas brancas, chamadas de marfim.

Difícil imaginar esta produção Netflix resgatando seu coração, porém, sempre é possível fazer algo pelos elefantinhos.

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