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Crítica | Seis Vezes Confusão

Recentemente, Marlon Wayans – o faz-tudo hollywoodiano que atua, escreve e produz seus próprios filmes – disse em uma entrevista no talk show americano The Tonight Show com Jimmy Fallon o quão honrado se sentiu de trabalhar ao lado de Eddie Murphy na comédia Norbit. Exaltou o brilhante comediante, que ao lado de Richard Pryor e Damon Wayans – que é um de seus irmãos mais velhos – forma a tríade de grandes influências que moldaram o ator dentro da comédia.

Não é necessário muito esforço para saber que Marlon não se encontra no mesmo nível que seus comparsas de profissão, especialmente se comparado a Pryor e Murphy. E o último, assim como Wayans, também têm sua parcela de equívocos no currículo, como O Grande Dave e As Mil Palavras. Infelizmente, a mais nova produção “cômica” da Netflix estrelada e escrita por Marlon Wayans vai para a coluna dos deslizes dentro da filmografia do ator, que já mostrou melhor forma, principalmente com as paródias Todo Mundo em Pânico, e o adorado – ainda mais aqui no Brasil – As Branquelas.

Seis Vezes Confusão nos apresenta Alan, que está prestes a ser pai e antes da chegada do bebê resolve vasculhar seu passado e tentar descobrir suas origens. Na busca por sua mãe biológica, descobre que ele é um de seis filhos. Agora, os sêxtuplos vão ter de lidar uns com os outros se quiserem formar uma grande família.

A premissa é simples, algo que figura como um dos principais problemas desta fraca comédia de enredo precário. Já, o outro obstáculo em Seis Vezes Confusão recai nos ombros de seu protagonista, pois nesta produção Netflix temos Marlon Wayans vezes seis. Sim, o comediante faz seis personagens diferentes, e lamentavelmente, apenas um destes se destaca positivamente que é o primeiro irmão que Alan encontrará na trama, o comilão e imaturo Russell.

Muito óbvia a inspiração em Eddie Murphy, não? Lembram-se de: Um Príncipe em Nova York, Um Vampiro no Brooklyn, O Professor Aloprado, mesmo Norbit que têm participação de Wayans. Então, agora foi a vez do ator que já fez parte de alguns projetos muito interessantes como Réquiem para um Sonho e Matadores de Velhinha trazer à vida mais que um papel no mesmo filme.

Porém, diferentemente da divertida comédia romântica dirigida por John Landis em 1988 – que prepara uma continuação a ser lançada no ano que vem – e o longa de 1996 dirigido por Tom Shadyac, a produção Netflix não tem alguém do calibre de Eddie Murphy, que mesmo interpretando tais personagens de forma bem caricatural, ainda consegue imprimir enorme carisma em suas performances, o que também acaba ajudando em um ou outro momento mais dramático quando necessário.

Curioso que os melhores trabalhos realizados pelo ator ocorreram logo no começo do século, e ao lado de seu irmão Shawn Wayans que é apenas um ano mais velho que Marlon, o caçula do clã Wayans. É fácil entender o motivo de tais projetos terem saído melhor que os seguintes ao longo dos anos: mais do que dividir o protagonismo com seu irmão, ainda haviam outros personagens cômicos nestes longas, como Anna Faris e Terry Crews, por exemplo.

Em Seis Vezes Confusão, todo o foco fica em cima de Marlon Wayans, não há ninguém para dividir o peso cômico da história. Óbvio, que o comediante consegue tirar algumas risadas tímidas ao longo do filme, pois existe o talento do ator para fazer isso acontecer. Contudo, esse estilo cômico de Wayans – que não tem medo de usar de escatologias – apresenta validade curta, assim fica fácil cair na repetição e saturar o material trabalhado.

Como dito anteriormente, a única encarnação que apresenta alguma nuance – que contribui oferecendo algum balanço para o humor – nesta produção Netflix vem através de Russell, que felizmente aparece ainda na parte inicial de Seis Vezes Confusão. Todas as outras encarnações elaboradas pelo astro, não surtem maiores efeitos.

Talvez, Marlon Wayans deva copiar um de seus maiores ídolos novamente. Murphy está trazendo de volta Um Príncipe em Nova York. Aí uma chance para tentar impressionar alguns produtores e executivos que possuem bolsos largos, e colocar a caixola para funcionar com um novo roteiro para o filme As Branquelas. É certo que muitos se interessariam em ver os irmãos Wayans usando saltos, meia calça e perucas mais uma vez.

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