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Crítica | The End of The F***ing World - 1ª Temporada

Não que sua história central seja inovativa. Relacionamento entre adolescentes, suas descobertas e sentimentos até se transformarem em jovens adultos, é uma premissa que se modela a diversos contos e formatos. No entanto, como alterar essa composição comum? Reforçando um tom original, adicionando elementos de um humor mais cínico e apresentando personagens polarizantes, resultando assim em The End of The F***ing World, série original da Channel 4 que a Netflix acrescentou em seu catálogo nessa sexta-feira, 05 de janeiro de 2018.

Baseada em uma série de histórias em quadrinhos de mesmo nome, criada por Charles S. Forsman, a produção conta a história de um par de adolescentes: Alyssa (Jessica Barden) e James (Alex Lawther). Ambos possuem características semelhantes, juntamente ao inerte passado, mas que são complementares um ao outro, logo de imediato, a relação deles se inicia na escola, quando ambos entediados com suas vidas, decidem fugir de casa, buscando o paradeiro do pai de Alyssa, Leslie (Barry Ward). Entretanto, no meio dessa aventura, os dois são envolvidos em um assassinato, o que coloca a polícia no encalço dos garotos.

Dividida em curtos oito episódios, The End of The F***ing World dita um tom promissor, tipicamente respaldado pela construção do humor e desse próprio escapismo, iminente estilo tonal britânico. Essa base concede liberdade para as interações do casal protagonista ser concentrada em ironia. No entanto, o diálogo evolutivo entre eles ocorre justamente por conta desse espaço negativo, deixado pelas diferenças de cada um, aliado pelas narrações em off (quando há a apenas a voz do personagem). O silêncio e as interações suspeitas é o que direciona a aproximação de Alyssa e James. O background individual fincam um cenário mais importante, fazendo crer sobre a personalidade de cada um, sendo estabelecido pelo equilibrado uso de flashbacks, revelando eventos do passado de cada um.

As referências a um Bonnie e Clyde, filme de 1967 que era sobre um casal de ladrões que se envolvia cada vez mais, motivados pela vida criminosa, podem até ser associadas. A forma de contar a história é mais objetiva e direta, determinando um ponto focal quase que exclusivo no casal protagonista, ocasionando em certos momentos um tempo maior de cena para personagens coadjuvantes, principalmente as duas policias Eunice (Gemma Whelan) e Teri (Wunmi Mosaku). Entretanto, a inserção dos valores pessoais de ambas é feito inocuamente, amenizada pelo clímax referente à relação dos adolescentes.

Em essência, The End of the F***king World apresenta dois personagens que estão em busca de sua própria liberdade, dos sentimentos bons que, em algum momento de suas vidas, foram perdidos, tomados ou que simplesmente não existiam. Envoltos em cenários tóxicos, com eventos traumáticos, foram transformados em seres distantes, isolados. De outras pessoas, das comodidades fúteis e principalmente de si mesmos, vivendo apenas para contornar o avanço dos dias. Assim que se relacionam, se conhecem e se permitem. Permissão para, apesar de todos os problemas e traumas que carregaram suas jornadas, sentirem-se livres, novos e conscientes destas mudanças.

O final pode trazer uma sensação de anti-clímax, frustrando expectativas e gerando indagações sobre o que acontecera depois que a tela preta surgiu ao final do oitavo episódio. Mas a intenção não era realmente fechar um círculo narrativo de imediato. Talvez haja uma segunda temporada. Mas caso não houver, sua conclusão é motivada dentro da finalidade de mostrar a interação de adolescentes, buscando razões que lhe tirassem da mesmice. Contornada pela trilha sonora evocativa e tocante, é uma história de amor que não é necessariamente sobre a descoberta desse sentimento e das fugas típicas à idade. É como se veem sendo complementares, cruciais e importantes um para o outro, desenvolvendo uma coexistência, acomodados dentro de suas próprias diferenças gritantes.

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