Buscando o Sucesso

Crítica – tick, tick...BOOM!

Drama musical que marca a estreia de Lin-Manuel Miranda na direção produz espetáculo emocional tocante

Atravessamos nossos dias à procura de alguma conexão, seja esta qual for. Pode vir em qualquer forma: amizades, familiares, amores, trabalho, esportes, artes, viagens, e assim por diante.

Dentre tantas opções no menu, certamente temos a música como um símbolo de resgate e conscientização de onde estamos naquele exato momento de nossas vidas. Mais curioso é que entre variados gêneros e tipos de músicas completamente diferentes, algo permanece intacto para o ouvinte: a capacidade de sentir aquele mix de som e fúria como se fosse seu próprio.

É quase um processo de possessão para alguns que mergulham fundo neste oceano de melodias, harmonias, batidas sincopadas e acordes dissonantes sempre acompanhados de letras que se comunicam com nosso interior, surpreendendo cada um de nós com uma sensação de comunidade que nunca imaginávamos houvesse lá.

Este procedimento aconteceu tanto para Jonathan Larson, como para Lin-Manuel Miranda, por vias diferentes em situações distintas, mas ocorreram acima de qualquer expectativa.

O que nos leva a conhecer tick tick BOOM!, recente drama musical original da Netflix, baseado no musical semiautobiográfico homônimo de Jonathan Larson (1960 – 1996), que revolucionou o teatro como criador da peça Rent, uma produção da Broadway que perdurou por doze anos (1996 – 2008), tornando-se um dos shows mais bem-sucedidos da história do teatro, arrecadando mais de 280 milhões de dólares.

O filme de Lin-Manuel Miranda segue Jon (Andrew Garfield), um jovem compositor de teatro que servia mesas em um restaurante de Nova York em 1990, enquanto escrevia o que ele espera que seja o próximo grande musical americano. Dias antes de apresentar seu trabalho em uma produção workshop, Jon está sentindo a pressão de todos os lugares: de sua namorada Susan (Alexandra Shipp), que sonha com uma vida artística além de Nova York; de seu amigo Michael (Robin de Jesús), que mudou seu sonho para uma vida de segurança financeira; em meio a uma comunidade artística sendo devastada pela epidemia de AIDS. Com o tempo passando, Jon se encontra em uma encruzilhada e enfrenta a pergunta que todos se fazem em algum momento: o que fazer com o tempo que temos?

Quando música e coração sincronizam

Qualquer ator ou atriz que se encontra encenando um número musical dentro do templo do teatro, precisa saber que sua voz deve ter um alcance técnico e emocional suficiente para chegar naquele espectador que está sentado na última fileira da casa.

Agora, diante uma câmera, algumas coisas são diferentes: primeiro, não existe a necessidade de aumentar o alcance vocal em certas cenas, pois a captação de áudio será feita na pós-produção, permitindo ao intérprete modular sua performance vocal de acordo com o momento; e segundo, é imprescindível para o profissional das artes cênicas expressar não apenas através da voz, mas com todo o corpo tudo aquilo que se passa na cabeça e íntimo da personagem durante a canção, pois a câmera é uma máquina de raio-X espiritual, que não deixa escapar meia contração facial daquele(a) que se encontra frente à ela.

Apenas por cumprir estes dois requisitos, podemos afirmar que a estreia do ator, cantor, compositor, rapper, produtor e dramaturgo Lin-Manuel Miranda como diretor de uma produção de cinema hollywoodiana foi definitivamente bem-sucedida.

Para alguns pode parecer pouco, mas é bom que saibam que não é tão simples assim. Peguemos por exemplo, Querido Evan Hansen, que se encontra em cartaz em várias salas de cinema pelo país, também uma obra cinematográfica adaptada de um musical da Broadway que se mostrou qualificada pelas apresentações musicais individuais dos atores do elenco, mas falhando na transição entre o momento falado e cantado, deixando um ar estranho em cena, quase corrompendo o valor do material em destaque.

Enquanto em tick tick BOOM! isso não acontece em nenhum momento sequer, especialmente pelo astro principal da produção Netflix, o talentoso e sensível Andrew Garfield (A Rede Social; Não Me Abandone Jamais; Silêncio), que surpreendeu pela performance técnica em sua voz, além de ter entregado mais uma atuação comovente na carreira.

Por tick tick BOOM! questionamos nossos comportamentos, principalmente os mais apegados a determinados conceitos, assim como também reavaliamos nossa percepção de como buscar o sucesso profissional, pois a vida é muito complexa e extensa para que tenhamos apenas uma única chance de mostrar quem realmente somos.  

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