Se for do tipo que julga o livro pela capa, provavelmente ao ler o título Um Clássico Filme de Terror, ficará desanimado(a). Convenhamos, independente do valor do material, tal designação não é das mais inspiradas. Contudo, após os créditos finais, verá que faz todo o sentido.
Mesmo assim, é uma pena que a narrativa não soube quando parar, fazendo do todo um mero exercício de metalinguagem supérfluo.
Pior: nenhuma das denúncias forjadas será sentida no meio deste caldeirão de referências que atira para tudo o que é lado sem acertar quaisquer alvos.
No recente terror da Netflix temos cinco viajantes cruzando o sul da Itália, até baterem em uma árvore na estrada. Quando recuperam os sentidos, a estrada que percorriam foi substituída por uma floresta impenetrável e uma casa de madeira. Agora, eles devem lutar desesperadamente para sair vivos desse inferno.
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Mais do que natural quando comentamos sobre o cinema italiano, que lembremos de nomes do calibre de Roberto Rossellini, Vittorio De Sica, Luchino Visconti, Federico Fellini e Michelangelo Antonioni, por exemplo. Todos estes surgiram na chamada Era Dourada do neorrealismo italiano, movimento cinematográfico nacional caracterizado por histórias ambientadas entre os pobres e a classe trabalhadora no pós-Segunda Guerra (1943 – 1952).
Pulando para a década de 60, vimos surgir uma nova sensação no cinema italiano, encabeçada pelos cineastas Mario Bava e Dario Argento, que produziram thrillers eróticos que influenciaram o gênero terror mundialmente.
Algumas obras relevantes desta época: A Maldição do Demônio (1960) e As Três Máscaras do Terror (1963) de Mario Bava; e, Prelúdio para Matar (1975) e Suspiria (1977) de Dario Argento.
Pode-se notar que a dupla de cineastas Roberto De Feo e Paolo Strippoli que fizeram Um Clássico Filme de Terror, até tentam pescar alguns elementos do cinema praticado por Bava ou Argento. Somados à influências mais hollywoodianas, como Wes Craven, M. Night Shyamalan, Ari Aster e Quentin Tarantino, também.
Dá para imaginar que com tantas boas referências, ficará difícil uma produção como esta dar errado. Infelizmente, não é o caso.
Na sua gênese, o terror italiano da Netflix é um emaranhado de metalinguagem, muito distante do brilhantismo de Pânico (1996) de Wes Craven. Talvez, a dobradinha de diretores tenha imaginado que se “roubasse” alguns elementos aqui e acolá de outros trabalhos significativos, iria conseguir fazer seu ponto de vista pela narrativa proposta.
Porém, de nada adianta buscar inspiração em outros materiais, se não consegue estabelecer quase nenhuma sensação de terror, ou mesmo praticar o mínimo do suspense.
Inegavelmente, deve-se afirmar que quando a narrativa em Um Clássico Filme de Terror convence o assinante da Netflix, isso ocorre pelo bom uso da câmera que capta chamativas imagens, e pelo elenco da produção que atuou com grande afinco, sendo que o maior destaque vai para a protagonista Elisa, papel da atriz Matilda Lutz, que surpreende por todas as vias dramáticas.
No entanto, pouco adianta saber como posicionar uma câmera, ou conseguir tirar performances convincentes de seu elenco, se a base disso tudo que é o roteiro está uma completa bagunça.
Mira ruim
Existem alguns comentários e denúncias muito interessantes dentro da narrativa de Um Clássico Filme de Terror da Netflix, que vão: da crítica ao poder do Estado que se alinha à criminalidade; o atual cenário do cinema italiano no século XXI; e o gosto das pessoas em acompanhar casos de violência real, seja pela televisão ou outras formas de mídia, como a caçada por Lázaro Barbosa de Souza que moveu nosso país recentemente.
Todas estas são pretensões altas quando colocadas em conjunto. Lamentavelmente, sabotadas dentro de uma narrativa que deu um passo muito (!) maior do que a perna.
Quando bater os créditos finais desta produção italiana, existe a possibilidade do assinante se questionar o porquê daquilo tudo, em vista que pouco importa apenas identificar o assunto, comentário ou tema, pois o importante é saber argumentar suas propostas pelo fio narrativo, algo que Um Clássico Filme de Terror passa longe de praticar.
Assim, como outras produções de terror mais recentes da Netflix, sobram referências, mas faltam argumentos mais sólidos para justificar a existência destas obras que sabem quem admiram, sem se preocupar em quem representam no atual momento.