Origem

Crítica – Um Menino Chamado Natal

Produção natalina da Netflix surpreende ao apresentar fábula sobre o Papai Noel que contém humor, graciosidade e espírito comunitário

Sabem quando toda vez que sai um novo filme de super-herói diferente, que até o momento não tinha sido ainda apresentado ao público, geralmente ganhamos o que chamamos de narrativa de origem, mostrando o início daquele super-herói em específico: sua vida cotidiana entre familiares e amigos, até exatamente o dia que conseguiu adquirir certas habilidades ou mesmo poderes que nunca imaginava pudesse ter antes.

Então, sabem do que estamos falando?!

Okay! Agora imaginem a mesma ideia, só que com o Papai Noel!

Se conseguiram imaginar: ótimo!

Entretanto, se encontraram alguma dificuldade com isso, não há necessidade de qualquer preocupação, uma vez que Um Menino Chamado Natal, que já está disponível no catálogo da Netflix, revelará toda a história original de como Papai Noel virou Papai Noel.

Adaptado do livro best-seller de Matt Haig, temos o conto de um garoto comum chamado Nikolas (Henry Lawfull) que parte em uma aventura extraordinária no norte nevado em busca de seu pai (Michiel Huisman), que está em uma missão para descobrir a lendária vila dos elfos, Elfhelm. Levando consigo uma rena teimosa chamada Blitzen e um rato de estimação leal (Stephen Merchant), Nikolas logo encontra seu destino nesta história mágica, cômica e cativante que prova que nada é impossível.

Uma fábula tradicional… mas nem tanto!

É muito comum nessa época do ano, momento que a Netflix escolhe nos soterrar com todo tipo de filmes e séries natalinas, nos depararmos com produções de baixo custo que podem até ser simpáticas, mas normalmente pouco fazem para tocar profundamente nosso íntimo, pois dispõem de narrativas superficiais ou muito estereotipadas, repletas de clichês.

Alguns anos atrás, a plataforma Netflix lançou o ótimo Crônicas de Natal (2018), que portava Kurt Russell como o Bom Velhinho que entregava presentes cruzando a madrugada do dia de Natal. Felizmente tal obra disponibilizada três anos atrás encontrou uma companhia em Um Menino Chamado Natal de Gil Kenan, que possui qualidades similares com o longa-metragem estrelado por Russell.

Entre estes predicados, encontramos essencialmente uma narrativa que propõe um mix do tradicional com o moderno, agradando gregos e troianos. Porém, ambas fizeram ainda mais que isso, já que entregaram uma obra que se comunica com cada segmento entre os polos extremados de uma maneira comovente e genuína, incapaz de aceitar o cinismo em um momento tão mágico e especial no ano que está terminando.

Sendo que a obra de Kenan apresenta algo ainda mais inusitado quando pensamos em produções natalinas: uma pequena dose de melancolia.

Narrativa menos adocicada

Enquanto a gigantesca maioria das produções que abordam a noite de Natal opta por açucarar suas devidas histórias ao ponto que elas se tornam enjoativas ou mesmo bobinhas demais, inclusive para algumas crianças; temos através da narrativa de Um Menino Chamado Natal, uma proposta (um pouco) diferente, que revela algo mais maduro, indicando que nas jornadas da vida, as vezes coisas valiosas para nós acabam ficando pelo caminho, e que isso faz parte, pois aprendemos a conviver com aquilo que ficou para trás, vivendo e compartilhando do luto, que não é nada mais, nada menos do que um amor não expressado enquanto estávamos todos presentes.

Esse caldeirão natalino da Netflix que mistura bem-estar, benevolência, valores profundos, além de muito bom humor, principalmente pelo ratinho bonitinho de olhos grandes dublado pelo sensacional comediante inglês Stephen Merchant, é a prova mor de que o Natal é uma cerimônia de agradecimento não apenas pelo ano que passou, mas pela vida que compartilhamos.

Um Menino Chamado Natal mostrou que a troca de presentes que acontecem nas casas de tantas famílias ao redor do mundo não é sobre consumismo, mas acima de qualquer outra coisa: perceber o próximo.

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