Amor

Crítica: Virgin River – 3ª Temporada

Série de romance dramático da Netflix preserva o que tem sido feito, mas só embala na segunda metade da temporada

Pouco mais de um ano e meio atrás, foi publicado o texto que comentava a primeira temporada da série Virgin River. Voltando para o presente, muita coisa mudou. Não apenas na série, mas no planeta todo.

Quando a produção original Netflix estreou bem no finalzinho de 2019, já existia o coronavírus COVID-19 em nossa realidade, porém, ainda não havíamos trancado portas e janelas de nossas casas como se pudéssemos impedir a doença invisível de entrar em nossas vidas. Mas, poucos meses depois, alguns de nós ouviram pela primeira vez na vida, para provavelmente nunca mais esquecer, a palavra ‘pandemia’.

Sem adentrar nos específicos vividos pelos últimos 18 meses, pode-se afirmar que a vida de milhões foram e, lamentavelmente continuando sendo afetadas por essa enfermidade que poderia ter sido amenizada se tivesse havido maior movimento de órgãos federais, seja aqui no Brasil, ou outros lugares pelo mundo.

Nesse momento, é natural imaginar que o(a) leitor(a) pode estar se perguntando qual o sentido deste texto crítico sobre a terceira temporada da série de drama romântico Virgin River, que já está disponível no catálogo da Netflix, ficar relembrando nosso estado atual perante meses e mais meses de muito resguardo, mas infelizmente de muita dor e perda?

A resposta virá pelo parágrafo final da publicação escrita aproximadamente um ano e meio atrás:

“É a prova que altruísmo e a ausência de cinismo são atributos que não devem ser relegados, e que estes são a ponte que existe ligando as extremidades. A cidade de Virgin River diz, claramente, que para manter os elos costurados, serão necessárias adaptações, e que a verdade ainda é a melhor opção, se o alvo for nosso próprio ressurgimento.”

É isso!

Em seus melhores momentos desta terceira temporada, Virgin River continua mostrando que o melhor em cada um de nós, depende de nossa consciência e permissão para que alteremos percepções que apenas nos seguram no mesmo lugar onde, por vezes, acreditamos e merecemos estar.

No retorno ao terceiro volume, vemos que Jack (Martin Henderson) sobreviveu à tentativa de assassinato por uma figura ainda misteriosa. Mesmo assim, para variar, as coisas estão muito longe de acalmar na pequena cidade-natureza de Virgin River. Mel (Alexandra Breckenridge) e seus entes queridos apoiam-se mutuamente enquanto enfrentam todos os tipos de problemas: morte, incêndio, discussões sobre custódia, separações e muito mais.

O reprimido Jack

Desde a primeira temporada sabemos do passado traumático do protagonista Jack, que é um sobrevivente da Guerra do Iraque. Então, já se passaram três temporadas completas, exatamente trinta episódios, e só agora teremos a chance de perceber o personagem se abrindo um pouco, bem pouco, sobre seus sentimentos e pensamentos.

Vale reforçar que este pouco, ainda causa/causará alguns tantos problemas em sua vida, claramente. Sem abordar diretamente os problemas e sofrimentos presenciados nas areias do Oriente Médio, Jack vai se abrindo e apoiando-se no relacionamento com Mel para seguir em frente, porém, é fácil perceber que isto é uma receita para o desastre!

Em um determinado momento, mais para o final desta temporada, Jack vai expor seus sentimentos para sua amada, dizendo não apenas do momento que ele percebeu estar apaixonado por ela, mas que também, usando suas próprias palavras – “Desde o dia em que te conheci, quase todas as decisões que tomei foram sobre você.”

Conseguem notar o problema nessa romântica frase?

Jack, pela competente performance do ator neozelandês Martin Henderson, continua evitando lidar com seus próprios traumas. Mesmo que seja perceptível todo o amor e paixão que sente por Mel, ele ainda se mostra incapacitado de deixar algumas coisas no passado. Nesta atual temporada, o melhor exemplo disso vem na sua obsessão em saber e capturar quem tentou matá-lo.

Esclarecimento: isto não significa que o caridoso Jack é uma pessoa indigna de atenção e carinho, muito pelo contrário, de modo que se o próprio conseguir mover certos bloqueios de seu íntimo, certamente terá uma relação mais saudável e menos dependente, não apenas com Mel, mas com todos em Virgin River.

As mudanças em “Doc”

Desde o começo de Virgin River na Netflix, existiam dois casais de maior destaque: os protagonistas Mel e Jack, além dos veteranos Hope (Annette O’Toole) e Vernon (Tim Matheson).

Na primeira temporada, eles têm tanta visibilidade quanto o casal mais jovem na série; na segunda parte, isso ficou ainda mais evidente.

Agora, devido a pandemia, Annette O’Toole não foi capaz de gravar a terceira temporada como gostaria, aparecendo em pouquíssimas e breves cenas neste momento da trama.

Tal imprevisto, foi uma oportunidade para que o ator Tim Matheson revelasse uma evolução absolutamente incrível de seu personagem. Esta que foi a maior e melhor surpresa de toda esta temporada de Virgin River.

Para se ter uma noção mais clara, imaginem as qualidades de valor que acreditam serem necessárias em uma pessoa, até mais especificamente, em uma figura masculina de idade mais avançada. Vernon, ou “Doc”, tem conseguido colocá-las em prática, pois também ficou mais sensível com o diagnóstico de sua visão, ainda no final da temporada anterior.

Geralmente, a percepção da finitude e mortalidade costumam transformar as perspectivas que tínhamos sobre as coisas. Isso não foi diferente para o popular médico de Virgin River, que é cada vez mais um homem caloroso e empático com o seu entorno, que retorna seus atos com enorme compaixão.

Conclusão

É prático comentar que a atual temporada de Virgin River da Netflix, deu maior destaque para as crises e amadurecimento dos personagens masculinos.

Não é uma competição! Longe disso.

Ainda assim, serve para mostrar que a vida sempre irá lançar bolas curvas, consequentemente, sempre seremos desafiados pelas contingências que aparecem. Podemos nos trancar, ou buscar uma compreensão diferente das coisas.

Se esta temporada começa sem empolgar tanto, quando passamos para a segunda metade mostra suas caras. Mais importante: de maneira que Virgin River diz algo imprescindível em nossas vidas. Cada dia, todos os dias, mais e mais.

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