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Diário de Horrores | Crítica - 1ª Temporada

Uma produção britânica e canadense, Diário de Horrores chega ao Netflix este mês aproveitando o espírito de halloween, mas não deve ser confundida com outras obras de terror que permeiam o catálogo. O público-alvo aqui é claramente infanto-juvenil, e a série não procura alcançar muito além disso.

Diário de horrores é uma série antológica, com treze episódios trazendo histórias distintas entre si, abordando diferentes temas aterrorizantes que já foram vistos no cinema e na televisão, em diversas ocasiões. Estas tramas são interligadas pela presença de uma figura mascarada chamada de “O Curioso”, que se mantém vigilante sobre todas elas. Os episódios, com pouco mais de vinte minutos, seguem uma estrutura padronizada, que rege um desenvolvimento acelerado e traz pouco aprofundamento, visando contar suas histórias de maneira breve e efetiva (Os personagens são apresentados em seus ambientes comuns durante o primeiro quarto de episódio, para então encararem o elemento sobrenatural em questão, e confrontarem suas falhas pessoais)

A exposição da série (maneira como contextualiza e expõe as condições da trama e as dinâmicas entre os personagens) é direta e pouco sofisticada, entregando todas as informações necessárias da maneira mais simples possível, economizando tempo e buscando evitar o tédio dos espectadores mais jovens e dispersos. Quanto mais jovens os personagens envolvidos, suas interações soam mais superficiais e apresentam menos naturalidade, mas o roteiro claramente não se importa com estes detalhes narrativos em meio às suas ligeiras representações.

Os episódios de Diário dos Horrores são focados em casos sobrenaturais bem diferentes entre si, e aproveita recursos narrativos de cada um dos gênero que procura abordar. “O Chamado” (sétimo episódio) traz uma história envolvendo perigosas sereias, mas a constrói de maneiras semelhantes à uma típica origem de super-herói. O episódio seguinte, “Uma Amizade no Passado”, por sua vez, mostra um jovem que acaba sendo enviado para o passado, e se torna amigo de seu pai, quando este ainda é criança, como em uma versão menos substancial de “De Volta para o Futuro”.

Tais tramas não são necessariamente aterrorizantes, mas a série parece estar buscando muito mais ser “sinistra” do propriamente “horrenda”. Mesmo quando suas tramas tratam de situações mais tensas e impactantes, a execução sempre procura ser o menos confrontante possível.

O melhor exemplo pode ser o quarto episódio, “ Medalha de Coragem”, onde qualquer fã de terror poderá reconhecer a habitual dinâmica de pessoas “possuídas/zumbificadas” perseguindo os protagonistas. Mas a série não carrega seus jovens personagens com maquiagens pesadas, ou envolve qualquer violência gráfica, adequando esta dinâmica para um público mais jovem. Também é válido notar alguns pouco momentos de alívio cômico, que servem mais reforçar a casualidade da série, do que realmente aliviar qualquer tensão.

Cada episódio é pensado como uma história cautelar com lições de moral ao fim, sempre retratando consequências para os defeitos no caráter de cada protagonista. Em “Teatro de Bonecos” (terceiro episódio), a personagem deseja que pudesse controlar seus embaraçosos pais, mas logo percebe que prefere seus pais do jeito que são, com defeitos e tudo (cuidado com o que deseja). Em “O Terror da Internet” (sexto episódio), a mensagem proposta é ainda mais evidente, com um protagonista que se esconde atrás da internet para praticar bullying com seus colegas de classe, e acaba sendo transformado em um “troll” de verdade, por conta de uma maldição. Para deixar ainda mais clara a intenção por trás de cada episódio, o “Curioso” sempre aparece novamente no final da trama, vasculhando o cenário da vez, com uma narração explicando estas diferentes lições ao espectador.

Alguns episódios de Diário de Horrores acabam se mostrando mais inventivos do que outros. Por conta do ritmo acelerado de cada trama, algumas histórias acabam apresentando soluções apressadas demais ou pouco recompensadoras, sempre visando deixar algum tipo de ponta solta para instigar a imaginação do espectador.

A atmosfera de inocência que a série preserva ao longo de todos os seus episódios, no entanto, evita que o espectador espere muito além do que uma resolução meramente eficiente, e reforça o descompromisso proposto. Novamente, estamos falando sobre uma série voltada para o público infanto-juvenil, e nenhum tipo de transgressão parece ser almejado por aqui. Muito pelo contrário, a série parece apenas querer traduzir certas referências recorrentes do cinema para o espectador que ainda não tem idade para apreciá-las.

Outro aspecto deste evidente foco no público infanto-juvenil (além da faixa etária comum dos protagonistas), diversas tramas da série abordam elementos mais contemporâneos como as redes sociais, o uso constante de celulares, e a realidade da juventude atual, rodeada por ambientes virtuais. Seja com meros detalhes do cenário, ou integrando estes elementos em suas dinâmicas de “terror”, Diário de Horrores procura se situar de maneira mais familiar para o seu público.

O último episódio da série, no entanto, merece certo destaque em meio ao resto da produção, tendo sido dividido em duas partes, e aproveitando um maior tempo de duração para desenvolver sua trama. Intitulado “Um Show à Parte”, a história acompanha um grupo de performistas de circo que nunca podem sair do perímetro estabelecido pelo mestre de picadeiro. O episódio parece ter tido uma certa prioridade no orçamento da série, apresentando figurinos mais peculiares e cenários mais complexos, além de algumas cenas mais elaboradas do que vinha sendo visto até então. Com desenvolvimentos mais inventivos, porém sem deixar de lado a abordagem inocente, este último episódio é um bom exemplo do potencial que a proposta da série traz.

Diário de Horrores não deve agradar nenhum espectador que acaba esbarrando por acidente na série, procurando uma nova produção que possa assustá-lo. Deve, no entanto, entregar momentos divertidos para seu público alvo, além de permitir que adultos também acompanhem a série sem que esta seja uma tarefa muito árdua. Em parte, lembra um pouco as antigas “Goosebumps” e “Clube do Terror” (“Are You Afraid of The Dark?”), que traziam formatos semelhantes e foram responsáveis por traumatizar uma boa parte de sua geração de espectadores. A diferença, porém, está em seu modelo britânico de produção, que raramente entrega resultados abaixo de uma execução consistente.

Casualmente, Diário de Horrores representa uma adição válida (além de útil para famílias) à qualquer acervo, mesmo que não consiga ser tão impressionante (ou inovadora) quanto nenhuma de suas comparações mais imediatas.

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