Einstein e a Bomba chegou ao streaming, prometendo ser uma adição excepcional à lista de assistidos para aqueles que apreciaram o aclamado filme de 2023, Oppenheimer. Assim como Oppenheimer capturou a imaginação do público ao explorar a história dos bastidores da Segunda Guerra Mundial, Einstein e a Bomba segue a mesma linha.
Esta produção mostra a vida e contribuições de Albert Einstein no contexto do desenvolvimento da bomba atômica, proporcionando uma exploração não apenas no brilhantismo científico do renomado físico, mas também nos dilemas éticos que permeiam suas descobertas.
O documentário, produzido pela BBC Studios, distingue-se por sua abordagem autêntica, valendo-se exclusivamente das palavras de Albert Einstein – extraídas de seus discursos, cartas e entrevistas – para compor o roteiro do diálogo.
Por meio de sequências recriadas de forma dramatizada, aliadas a imagens de arquivo da vida do renomado cientista, o documentário, oferta uma visão do legado de Einstein que se desdobrou ao longo de ambas as guerras mundiais, narrando os eventos que marcaram a ascensão e queda do fascismo e o surgimento da era atômica.
Somos transportados de 1933 até os tumultuados anos da Segunda Guerra Mundial. O documentário lança luz sobre os desafios enfrentados por Einstein ao navegar pela Alemanha nazista, onde suas ideias científicas foram desconsideradas e sua segurança pessoal ameaçada. A busca por refúgio nos Estados Unidos torna-se um elemento central, especialmente após o cientista ter renunciado anteriormente à sua cidadania alemã como súdito do Reino de Württemberg. A obra não se encerra com a fuga de Einstein da Alemanha nazista.
Afinal, o que aconteceu depois que Einstein fugiu da Alemanha nazista?
Após sobreviver aos tumultos da Primeira Guerra Mundial, Albert Einstein se viu diante de uma decisão monumental: deixar a Alemanha para sempre. Esta escolha, impulsionada por um ambiente hostil em relação às suas teorias e sua crescente notoriedade, marcou um ponto de virada em sua relação com o país natal.
Em 1931 testemunhou o auge da reação contrária às ideias de Einstein, quando Cem Autores Contra Einstein foi publicado. Esse movimento, liderado por cientistas que se distanciavam do pensamento do renomado físico, refletiu o desafio que Einstein enfrentava em meio à sua crescente fama e sucesso contínuo.
Já no cenário político na Alemanha exacerbou ainda mais sua situação, pois Einstein se tornou um alvo proeminente do ascensão do movimento nazista. Suas teorias foram rotuladas como “física judaica”, suscitando ódio e desencadeando a queima pública de seus escritos. O próprio Einstein, crítico aberto das políticas de Adolf Hitler, enfrentou represálias diretas, culminando em sua decisão de deixar a Alemanha em dezembro de 1932.
Nesse período crítico, Hitler assumiu o poder, e Einstein, em resposta, publicamente criticou as políticas do novo governo, renunciou à Academia de Ciências da Prússia em Berlim e solicitou a revogação de sua cidadania prussiana, que agora era alemã. Essas ações corajosas não passaram despercebidas, resultando em intensas críticas da imprensa alemã e em ataques diretos à casa de Einstein em Berlim por grupos nazistas.
O impacto financeiro também foi devastador, com o novo governo confiscando as contas bancárias de Einstein e de sua esposa, além de apreenderem seu veleiro pessoal. Surpreendentemente, Einstein descobriu posteriormente que os nazistas não apenas venderam seu barco, mas também transformaram sua casa em Berlim em um acampamento para a Juventude Hitlerista, simbolizando a perda irreparável de sua propriedade e o profundo deslocamento causado pelo regime nazista.
Viagem de Einstein para fora da Bélgica e para o Reino Unido
Diante da ausência de uma moradia fixa, Albert Einstein conseguiu escapar da Alemanha graças ao auxílio do Conselho de Assistência Acadêmica, uma iniciativa fundada pelo político liberal britânico William Beveridge em 1933.
Esse conselho foi estabelecido com o propósito de ajudar acadêmicos a fugirem da crescente perseguição nazista na época. Refugiando-se na Bélgica por um curto período, Einstein recebeu proteção policial da família real belga, reconhecendo a ameaça iminente que ele representava como um dos principais inimigos e alvos do regime nazista.
Em um momento emblemático, uma foto de Einstein foi descoberta em uma revista alemã com a legenda “ainda não enforcado”, um sinistro lembrete do perigo que pairava sobre ele, especialmente após a perda de colegas e amigos para a opressão nazista. Em resposta, Einstein expressou sua surpresa, declarando a um correspondente de Paris: “Eu realmente não tinha ideia de que minha cabeça valia tudo isso”.
Diante das ameaças iminentes, Einstein realizou discretamente sua viagem para fora da Bélgica, encontrando refúgio no Reino Unido após receber um convite do deputado britânico e amigo, Oliver Locker-Lampson. Este convite ofereceu a Einstein um local seguro para residir: uma cabana isolada em Roughton Heath, próximo a Cromer, Norfolk.
Eventualmente, Albert Einstein emergiu da reclusão para realizar sua primeira exibição pública em meses, discursando no Royal Albert Hall, em Londres. O propósito do evento era angariar fundos para refugiados acadêmicos, compartilhando histórias similares às suas, ainda aprisionados na Alemanha. Emocionado com o apoio espontâneo, Einstein expressou sua incredulidade a um repórter da época, afirmando: “Eu não podia acreditar que fosse possível que tal afeto espontâneo pudesse ser estendido a alguém que é um andareiro na face da terra. A bondade do seu povo tocou meu coração tão profundamente que não consigo encontrar palavras para expressar em inglês o que sinto. Vou deixar a Inglaterra para a América no final da semana, mas não importa quanto tempo eu viva, nunca esquecerei a bondade que recebi do povo da Inglaterra.”
Apesar de seu afeto pelo Reino Unido, Einstein tomou a decisão de não retornar à Europa, partindo para os Estados Unidos em 1933. Aceitando a oferta para se tornar um acadêmico residente no recém-formado Instituto de Estudos Avançados em Princeton, Nova Jersey, Einstein encontrou neste instituto um refúgio não apenas para si mesmo, mas também para físicos de todo o mundo.
Enquanto estava nos Estados Unidos, durante o final da década de 1930, os físicos começaram a ponderar se a famosa equação E=MC2 de Einstein poderia ser a chave para desenvolver uma bomba atômica. Convencido por Leo Szilard, Einstein enviou uma carta ao presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, instando-o a iniciar um programa de desenvolvimento de uma bomba atômica. Apesar de ser um pacifista, Einstein alertou sobre a possibilidade de cientistas alemães e Hitler vencerem a corrida para construir a bomba atômica antes dos Estados Unidos.
Einstein e Oppenheimer
A carta, conhecida como a carta Einstein-Szilard, teve um impacto significativo, levando Roosevelt a iniciar o Projeto Manhattan, sob a liderança de J. Robert Oppenheimer, dando início a uma era que mudaria profundamente o curso da história.
Este episódio reflete não apenas os desafios enfrentados por Einstein durante sua vida, mas também sua influência direta em eventos que moldariam o cenário global nas décadas seguintes.
A morte do cientista
Einstein recebeu residência permanente nos Estados Unidos em 1935 e, em 1940, tornou-se cidadão americano, mantendo também sua cidadania suíça.
No auge da Segunda Guerra Mundial, muitos colegas de Einstein foram convocados para participar do Projeto Manhattan em Los Alamos, visando o desenvolvimento da primeira bomba atômica. Surpreendentemente, Einstein nunca recebeu um convite para participar. Posteriormente, revelou-se que o governo dos EUA temia sua associação vitalícia com a paz e organizações socialistas.
Enquanto o conflito se desenrolava, Einstein se alistou para contribuir com projetos de sistemas de armas da Marinha dos Estados Unidos, chegando ao ponto de leiloar seus valiosos manuscritos pessoais para angariar fundos em prol do esforço de guerra. A notícia dos devastadores ataques atômicos em Hiroshima e Nagasaki motivou Einstein a liderar um movimento em prol do controle do uso da bomba, culminando na formação do Comitê de Emergência de Cientistas Atômicos.
No ano de 1955, Einstein assinou um manifesto, unindo-se a outros renomados cientistas e intelectuais, para destacar os perigos das armas nucleares. Apesar de sua longa carreira e teorias revolucionárias, Einstein viu-se progressivamente isolado da comunidade física.
Nos últimos anos de sua vida, Einstein optou por uma vida mais tranquila, raramente viajando e explorando regularmente o campus de Princeton. Contudo, sua dedicação à pesquisa perdurou até o fim, e sua morte, aos 76 anos, foi atribuída a um aneurisma da aorta abdominal, deixando seu trabalho na teoria do campo unificado inacabado.
Confira o trailer de Einstein e a Bomba que está na Netflix: