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Entenda o real problema de Era Uma Vez um Sonho na Netflix

Atenção! Contém spoilers do filme Era Uma Vez Um Sonho.

Nem mesmo um elenco repleto de estrelas foi capaz de salvar Era Uma Vez Um Sonho da fúria dos críticos! A nova produção da Netflix já é vista como uma das maiores pisadas na bola da plataforma, e algumas publicações chamam o longa de “um dos piores filmes do ano”.

Protagonizado por Amy Adams e Glenn Glose, o filme é uma adaptação do livro autobiográfico Hillbilly Elegy: A Memoir of a Family and Culture in Crisis (Elegia Caipira: Memórias de uma Família e uma Cultura em Crise), do autor JD Vance.

Era Uma Vez um Sonho é uma exploração moderna do “Sonho Americano”, contada sob a perspectiva de três gerações da família Vance. O longa foca principalmente na conturbada relação de JD Vance com a mãe, que sofre com o vício em heroína, além de sua forte conexão com a avó.

Um dos priores problemas do novo filme está relacionado com a caracterização dos personagens principais; confira abaixo!

Estereótipos

De acordo com o site CheatSheet, o grande problema de Era Uma Vez um Sonho é a falha do filme em produzir personagens bem desenvolvidos e complexos, como acontecia na obra original de JD Vance. Ao invés disso, o diretor Ron Howard aposta em estereótipos e clichês sobre os “caipiras” americanos.

O problema não é nem de longe as performances de Amy Adams e Glenn Close, ambas excelentes. A falha se encontra no roteiro, na principal caracterização das personagens.

As cenas extremamente exageradas de Bev e Mamaw – personagens de Adams e Close – só servem para incentivar percepções do povo do meio-oeste dos Estados Unidos que só existem na imaginação das classes mais abastadas.

Bev é um ótimo exemplo dessa tendência. Amy Adams sempre desempenha bem seu papel, chegando ao ponto de protagonizar surtos descontrolados e declarações melodramáticas.

A expressão corporal da personagem é um espetáculo à parte. Amy Adams gesticula, grita, agita os braços e de vez em quando faz comentários sarcásticos. Mesmo com o ótimo trabalho da atriz, suas cenas existem em isolamento do resto do filme, não servindo para revelar as verdadeiras motivações de Bev.

É como se Era Uma Vez um Sonho tentasse dizer: “Olhem para a Bev! Lá vai ela de novo? Ela é uma bagunça, não é?”. A personagem acaba se tornando uma caricatura, uma espécie de animal de zoológico, exposto para o entretenimento do público.

Mamaw, interpretada por Glenn Close, é discutivelmente a salvadora da história. Ela é uma mulher presa pelo ciclo da pobreza, uma eterna refém de suas decisões na juventude.

Era Uma Vez Um Sonho deixa para a audiência conclusões sobre a história de Mamaw, conclusões estas que deveriam ser explicitadas pela própria trama do longa.

A lição final é que a personagem de Glenn Close e sua família vivem dessa forma simplesmente por motivos deterministas – eles nasceram em um lugar pobre, conviveram com pessoas pobres e provavelmente morrerão pobres.

Era Uma Vez um Sonho poderia expor uma visão interessante sobre a pobreza que afeta parte da população branca do interior dos Estados Unidos, mas prefere aposta em pré-concepções e estereótipos cansados.

Era Uma Vez um Sonho está disponível na Netflix.

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