O Golpista do Tinder é uma das produções mais vistas da Netflix nestes últimos tempos. O documentário retratou a história do israelense Shimon Hayut, que se passava por um bilionário sob o pseudônimo de Simon Leviev para conquistar vítimas e tirar dinheiro delas.
O próprio golpista até foi convidado pela Netflix para participar do documentário, mas se recusou e prometeu, em entrevista ao Aventuras na História, que encontrará uma forma de contar sua própria versão em breve.
Enquanto isso, o psiquiatra israelense Ilan Rabinovich, que também viu a série, buscou em seus conhecimentos explicações sobre o que levou Simon Leviev a virar O Golpista do Tinder.
Ao The Jerusalem Post, o doutor descreve O Golpista do Tinder a partir de uma mistura de três transtornos de personalidade: narcisista, histérica e antissocial-psicopática.
Confira as descrições de cada personalidade, segundo o dr. Ilan Rabinovich:
Personalidade narcisista
O psiquiatra Ilan Rabinovich descreve o Transtorno de Personalidade Narcisista como “uma escassez que cria conflitos em torno da autoconfiança e um senso de valor como resultado de uma necessidade constante de carinho, amor e atenção”. É um medo de ser criticado e de fracassar, como se o sucesso fosse obrigatório para a existência. Isso torna a pessoa sensível, propensa a grandes mudanças de humor, impulsiva, com tendência ao drama.
A necessidade de poder, dinheiro, sexo, prazer e sucesso do Golpista do Tinder conversa com essa descrição.
Personalidade histérica
Já o Transtorno de Personalidade Histérica significa um conflito sobre autoconfiança na masculinidade/feminilidade. Para tal, a pessoa leva a sedução como modo de vida, conquistando e descartando outras pessoas com grande facilidade. Para tal, não existe monogamia, e vivem essas paixões intensas e repletas de traição como se estivesse em uma novela dramática. Há essa tendência em dramatizar, viver como se a vida fosse um filme.
As vítimas do Golpista do Tinder descrevem, no documentário, que a vida ao lado dele de fato parecia como um filme, concordando com essa descrição de personalidade.
Personalidade antissocial-psicopática
O último transtorno apresentado por Ilan Rabinovich é o da Personalidade Antissocial-Psicopática, que “consiste em agir a partir de uma crença que deriva de uma profunda autoconvicção de que tudo é permitido”, segundo a descrição do psiquiatra. Pessoas com esse transtorno de personalidade não estão nem aí para leis, limites, ética, valores, nada. A única empatia delas é com elas mesmas, e suas relações consistem apenas em usar outras pessoas para benefício próprio e depois descartá-las.
São pessoas manipuladoras, que não se importam com os sentimentos alheios, e isso pode acabar se desenvolvendo também em atitudes como ameaça, extorsão, violência física e, em casos extremos, até mesmo estupro ou assassinato.
Analisando o Golpista do Tinder
O psiquiatra continua sua análise afirmando que as origens desses transtornos de personalidade começam na infância. Ele deixou o yeshiva (estudos de textos religiosos) ainda jovem, dando início a sua busca por riqueza. Aos 20 anos ele roubou talões de chefe enquanto trabalhava como jardineiro, forjou assinaturas para comprar seu primeiro Porsche e chegou até mesmo a conseguir um passaporte falso para fugir de Israel quando foi condenado à prisão domiciliar.
Enquanto estava na Escandinávia, usou o Tinder para se passar como um empresário do ramo de diamantes e donos de uma companhia área, fingindo ter uma vida de luxo para atrair mulheres ricas.
Seu método consistia em construir uma persona de credibilidade, mas sempre em movimento: não ficava mais de dois dias no mesmo lugar e sempre se hospedava em suítes caríssimas, exibindo vestes e relógios de luxo. Ele sempre se passava por um bilionário, pagava tudo, de motoristas a jatos particulares, e quando sentia que a vítima já estava confiante de sua “riqueza”, aplicava o golpe ao pedir dinheiro para uma emergência. A cada golpe se tornava mais sofisticado e realista em suas atitudes, obtendo êxito ao enganar as mais ricas mulheres da elite.
Quanto a um tratamento para o Golpista do Tinder, o dr. Ilan Rabinovich afirma que médicos não tem a “capacidade de transformar o puro mal em inocência e bondade”. Em suas palavras, “Apenas uma sentença de prisão de muitos anos poderia deixá-lo com medo de fazer mais vítimas, o que não acontecerá por culpa ou consciência. Somente se ele teme por sua alma, ele pode parar. Para ele, ele vê em seu mundo apenas a si mesmo e nada mais.”.
O texto do psiquiatra se encerra com um questionamento para nós, espectadores do documentário: “A pergunta que talvez mais precise ser feita não é como Simon Leviev enganou essas mulheres, mas o que toda essa admiração e adoração atesta para nós como sociedade. Se admirarmos esse psicopata fraudulento, quão baixo seremos ao adorar o próximo vagabundo que surgir?”.
O filme O Golpista do Tinder está disponível na Netflix.