Uma das coisas mais divertidas de se imaginar como espectador seria tentar entender como é o funcionamento de um roteirista para cinema, ou mesmo um desenvolvedor de uma série de televisão ou plataforma de streaming, sabem?!
Tipo, qual é a linha de pensamento deles para desenvolver aquela específica história que almejam compartilhar com o público, entendem?
Depois de assistirem o terror adolescente alemão Filhos do Privilégio, provavelmente vão se pegar perguntando o que mais os quatro roteiristas (!) poderiam ter adicionado à essa história, uma vez que o longa-metragem original da Netflix parece ter tudo disponível em seu cardápio de opções.
Uma pena que tamanha variedade passou longe de significar qualidade, já que Filhos do Privilégio adiciona vários ingredientes sem colocar em prática o básico do básico: estabelecer uma incômoda ou angustiante atmosfera de cinema de terror.
No filme dirigido pela dupla Felix Fuchssteiner e Katharina Schöde, acompanhamos um adolescente rico (Max Schimmelpfennig) e seus amigos, todos alunos de uma escola particular de elite, que descobrem uma conspiração sombria enquanto investigam uma série de estranhos eventos sobrenaturais acontecendo entre as paredes do colégio.
Um caldeirão de ideias
Não será brincadeira quando alguém disser que o longa alemão Filhos do Privilégio, já disponível como parte do catálogo da Netflix, tem de tudo que puder imaginar.
Porém, sabem aquele velho ditado que afirma que às vezes menos é mais?!
Então, isto certamente teria ajudado à equipe de criadores aqui, de maneira que a história dispõe de vários elementos do gênero terror que costumam agradar facilmente o público amante de contos assustadores e macabros, entretanto, em nenhum momento sentirá a ameaça envolvida em cada um destes elementos, pois não se deram ao trabalho de minimamente instalar qualquer área cinzenta de dúvida para os personagens em questão.
Resumindo: apenas encharcaram à história com tudo sem estabelecer um mínimo de suspense entre os tantos fatos que ocorrem na rotina de Finn Bergmann – papel de Max Schimmelpfennig – e seus amigos de escola mais próximos.
Alguns exemplos do que irá encontrar em Filhos do Privilégio da Netflix: traumas de infância, aparições sobrenaturais, uso de drogas que podem influenciar no comportamento dos jovens, romance, fungos controladores do cérebro, segredos familiares, corporações farmacêuticas questionáveis, privilégios da alta elite social, cultos, possessões, tudo isso junto e mais.
Sem ordem ou medida alguma, apenas vários ingredientes misturados, sem qualquer preocupação se isso resultaria algo saboroso para os assinantes da plataforma.
Narrativa que quer muito, termina sem nada
Curioso como uma narrativa tão falha quanto Filhos do Privilégio consegue ao mesmo tempo entregar todas as suas intenções de modo inteligível, sem pôr um segundo sequer ser capaz de transferir qualquer traço de impacto emocional, algo que naturalmente deveria estar inserido nessas intenções.
Geralmente em uma composição musical, dizem que entre as estruturas (versos, refrão, ponte) podemos encontrar alguns momentos de transição, onde o artista poderia elaborar alguma forma sonora de ‘build up’, meio que convidando os ouvintes à imersão de corpo e alma naquela específica canção.
Isso também vale para uma narrativa fílmica, que entre a apresentação dos fatos e novas ocorrências, poderia cogitar que é neste espaço que provavelmente iria conseguir agarrar o seu público.
Infelizmente, Filhos do Privilégio não deu a devida atenção a este fator, o que deixou à narrativa um tanto esvaziada.
No fim, temos dessa nova entrada de “terror” teen, apenas uma lista checada de tudo aquilo que o assinante da Netflix deveria adorar, porém, passa longe de fazê-lo, de modo que ninguém se importou em atribuir alguma emoção verdadeira de assombro entre os fatos.