Netflix

Gatunas | Crítica - 1ª Temporada

Knock Knock! Oi, tem alguém em casa?! Knock Knock! Alô?! Alguém? É, parece estar vazia … exatamente como a nova série teen dramática de produção original da Netflix. Gatunas das criadoras Amy Andelson, Emily Meyer e Kirsten “Kiwi” Smith poderia ser Fora de Série de Olivia Wilde, mas fica no mesmo nível de Alguém Especial de Jennifer Kaytin Robinson. Ainda bem que podemos erguer as mãos para o céu e agradecer que tal tortura dura muito pouco, já que são apenas dez episódios todos com duração de no máximo meia hora. Ufa!

Se a foto em destaque não é suficiente para compreender o quão entediante e frívola é esta série da provedora mundial via streaming, melhor adentrarmos no mundo superficial em transmissão da história de vida de três garotas, Elodie, Moe e Tabitha que de maneira forçada e sem naturalidade alguma tornam-se amigas enquanto “combatem” seus vícios cleptomaníacos. As garotas enfrentam situações problemáticas em suas vidas pessoais, e contam com a ajuda desta amizade para seguir em frente.

Ao ler tal sinopse, é natural imaginar que definitivamente há potencial aqui, só que as variadas roteiristas, e as quatro diretoras que trabalham na série lamentavelmente pensam diferente. De tantos problemas e defeitos que são facilmente avistáveis em Gatunas, alguns destacam-se mais.

Começando pelo roteiro, que não faz nenhum esforcinho, nem de leve para tentar escapar das situações mais comuns possíveis em dramas adolescentes, sejam estas de cunho familiar (pai que trai a mãe; pai ausente), amoroso (namorado agressivo; discussões de relacionamento; timidez), chegando até no que seria o fator de mais charme nesta série, o vício das três garotas em roubar coisas, de jóias, casacos, vibradores, cupcakes, seja o que for.

Praticamente todas as cenas de roubo nesta série são muito insossas de se assistir, não apenas pela falta de inventividade ao filmar estes pequenos furtos que nunca apresentam qualquer perigo ou conflito, mas essencialmente, pela motivação atrás destes pequenos delitos. Logo de cara, sem rodeios ou qualquer cerimônia, o texto te entrega de bandeja as patologias (como a série de filmes Cinquenta Tons de Cinza) de suas três protagonistas, e estas não conseguiriam ser mais preguiçosas: garota em luto pela morte da mãe; garota temperamental sem amigos que cresceu sem a figura paterna ao lado, e mãe que trabalha muito; e talvez, a pior de todas, garota muito rica que não tem a atenção da mãe, além de um namorado violento.

Todas estas situações se bem trabalhadas, podem oferecer algo de muito valoroso ao assinante da Netflix, porém, nem passam perto de conseguir qualquer coisa aqui, já que quando exaltam alguma discussão que possa ser útil ou interessante, abandonam a ideia logo em seguida com alguma situação mais banal ou rotineira. Pior: introduz romances que também não acrescentam absolutamente nada, apesar de alguns atores do elenco terem, minimamente, algum carisma para oferecer, como Kiana Madeira, ou Katrina Cunningham.

Antes de entrar, individualmente, nas protagonistas de Gatunas da Netflix, melhor discutir a direção de quatro mulheres diferentes, mas que na prática, ao menos conseguiram deixar a narrativa uniforme. Pena que a mesma resultou em algo lastimável!

Talvez a maior crítica possível a ser feita para a direção desta série, fique na frouxidão e a falta de intensidade que um drama como este pede. Como dito antes, as situações dramáticas abordadas têm importância, e devem ser argumentadas de maneira que seja crível, tanto emocionalmente na tentativa de buscar o espectador que compartilha daquela mesma experiência citada, quanto socialmente para estimular discussões que visam nossa progressão como seres em uma sociedade. Todavia, tudo é tão blasé e distante que fica impraticável sentir empatia, ou qualquer estímulo assistindo cada um dos dez episódios de Gatunas.

É tão complicado que por vezes fica até difícil, pelas performances fatigantes de suas atrizes, encontrar qualquer traço de emoção real ali. E, isso se repete por toda a temporada, como no episódio quatro quando Elodie fica interessada em uma garota, ou na cena em que confessa para o pai a culpa que sente em relação à morte de sua mãe no episódio nove. Tudo muito, muito fraco!

Isso sem contar que parece que a Netflix estava querendo vender trilha sonora a todo tempo e a todo custo! Repleta de artistas que certamente figuram com mais frequência as playlists de um público jovem e antenado, tivemos momentos como: da mundialmente famosa Lana Del Rey preenchendo o fundo em uma daquelas típicas cenas introspectivas, ou quando resolvem roubar a chave de um carro ao som de ‘Kitana’ da rapper americana de origem porto-riquenha Princess Nokia.

Praticamente não há silêncio algum em Gatunas, pois qualquer ação ou reação merece uma trilha de fundo! Isso também é um fator que atrapalha aproveitar qualquer instante na série.

Por final, o elenco da série original Netflix. É certo que a figura mais familiar será a de Brianna Hildebrand, mais conhecida por interpretar a mutante Míssil Adolescente Megassônico nos filmes da franquia Deadpool, sempre sendo cínica e desinteressada a qualquer coisa relacionada ao personagem-título. Papel este que executa com certa graciosidade e nuance, tornando assim, algo agradável e divertido. Já sua personagem na série periga passar despercebido ao assinante, tamanha a malemolência em cena.

Mas, não é Hildebrand que se sai pior na temporada. Quem leva o Framboesa de Ouro (competição que “premia” o pior em determinadas categorias) em Gatunas é … rufem os tambores … Quintessa Swindell. A jovem atriz em vários momentos falha ao tentar convencer o público de que ela é um ser humano com emoções e pensamentos! Sim, chega a este nível. Quase tudo o que sai de sua boca soa ilegítimo. Realmente entristecedor.

No fim, o que resta desta horripilante produção Netflix é checar algumas participações especiais que dão às caras algumas vezes na temporada, como Larisa Oleynik que fez o papel da irmã mais nova de Julia Stiles em 10 Coisas que Eu Odeio em Você, ou Linden Ashby que protagonizou Johnny Cage em Mortal Kombat – O Filme de 1995.

Para se colocar a mão na consciência! Talvez, a maior recompensa a ser colhida na experiência de assistir Gatunas, seja realizar um fetiche fútil de ver alguns atores que não figuram mais o cenário atual. Triste.

Sair da versão mobile