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Insatiable | Crítica - 2ª Temporada

A boa notícia, é que a segunda temporada de Insatiable representa uma melhora em relação a primeira, por conta de algumas propostas mais ousadas para o crescimento da protagonista. A má notícia, no entanto, é que a execução da série continua bastante equivocada, e dificilmente irá re-conquistar a atenção de quem já havia se incomodado de primeira. 

Comecemos, então, pelo grande motivo desta segunda temporada merecer um pouco mais de atenção. Na crítica do primeiro ano, eu já havia citado que, apesar de todos defeitos e equívocos, Insatiable parecia ter encontrado um terreno interessante para explorar seus personagens com um tom mais absurdo, depois do gancho do último episódio, tornando o entusiasmo por uma possível segunda temporada, perfeitamente válido. Felizmente, os roteiristas realmente decidiram se aventurar por esta proposta mais surtada, e acompanhar as novas enrascadas de Patty consegue ser uma experiência bem mais engajante, desta vez. 

Mesmo que esta proposta nem sempre soe perfeitamente clara, Insatiable procura construir uma sátira do universo de concursos de beleza, em toda a sua futilidade e valores distorcidos. Porém, a sátira acabou sendo mal vista por boa parte da crítica e do público durante a primeira temporada, uma vez que a série não só trazia piadas bem rasas sobre a ideia de “estética”, como também apresentava um sarcasmo muito peculiar (para não dizer mal feito). 

Estas intenções continuam presentes neste novo ano, como se nenhuma das críticas tivessem sido ouvidas, mas fica claro que a série ouviu, sim, o impacto negativo que teve em sua estreia, e ao invés de tentar refinar sua entrega cômica, resolveu abraçar a “polêmica” gerada, e vender-se como uma série “ultrajante”, tal qual diversas outras produções aproveitam-se do termo. A grande diferença, no entanto, é que enquanto uma série como Big Mouth sabe apresentar uma consistência produtiva para suas provocações, Insatiable se perde a todo momento tentando construir uma atmosfera absurda, para logo depois desembocar em uma mensagem ou reflexão construtiva sobre seu universo, com alguns resultados condenáveis.

Mas, ao mesmo tempo, esta segunda temporada também se aprofundou na construção de uma protagonista que se depara com dilemas morais bem chamativos, por mais artificiais que possam parecer. Diferente do primeiro ano, desta vez eu considero esta, uma piada boa: A concorrente de concursos de beleza que se afunda cada vez mais em uma onda de assassinatos. O grande problema, porém, é justamente que a piada em questão é constantemente mal contada, e desperdiça diversas oportunidades ao longo de dez episódios (uma contagem relativamente alta para a série). 

Os dois episódios a menos, em relação a primeira temporada, já forçam os roteiristas a cortar um pouco da gordura de tramas paralelas dispersantes, mas nem por isso decidiram dedicar mais esforços a construções mais marcantes para Patty (Debby Ryan) e Bob (Dallas Roberts), jogando a dupla imoral entre um problema e outro, enquanto dão tempo de tela aos coadjuvantes da série e suas tramas pessoais. O cansaço que resulta desta dispersão continua sendo um dos piores defeitos de Insatiable, que considera o romance entre Magnolia(Erinn Westbrook) e Brick (Michael Provost), uma trama digna de seu próprio espaço. 

As tramas paralelas também tornam-se ainda mais cansativas (além de, muitas vezes, irrelevantes) por conta da narração que a série insiste em incluir a todo momento. Para a protagonista, o artifício faz sentido, providenciando a sua perspectiva sobre o universo que ela vai descobrindo. Até para Bob, eu também compreendo, pois impede que a série fique um tanto monótona com apenas um ponto de vista. Mas ouvir os breves (e óbvios) pensamentos de quase todos os coadjuvantes já é um tanto demais. Sem falar que tal execução vai contra a velha regra de roteiros “Mostre, não fale”, com os personagens basicamente trocando a atuação pela explicação direta.

Insatiable não parece saber quando quer declarar seu sarcasmo para o espectador, e quando está apenas antecipando contra-argumentos para noções equivocadas sobre os tópicos que aborda. Ainda estou tentando entender se a série quer que eu me importe com Patty a ponto de torcer pela personagem, ou se devo apenas acompanhar a sua merecida queda depois de tantos erros. O comportamento compulsivo da personagem tenta ser justificado de diversas formas ao longo da temporada, assim como os atos criminosos que, aparentemente, podem ser esquecidos quando se tem uma coroa de miss na cabeça. 

Esse papo sobre a “coroa” acaba sendo um exemplo perfeito para a incapacidade da série de expor suas discussões com propriedade e objetividade. Com os personagens acreditando que ganhar um concurso poderia justificar os assassinatos de Patty, é de se esperar que o espectador acabe tomando tais falas como uma preparação para o momento onde a protagonista vai se desiludir, e perceber que estava errada ao pensar desta forma. Mas eis que chegamos ao último episódio, e Patty entrega seu grande discurso sobre “o que define uma moça americana”…

No discurso, a protagonista fala sobre como esperam que ela seja algo que ela não é, e como as mulheres precisam esconder suas faces verdadeiras para entregar o padrão exigido pela sociedade. No papel, a fala é obviamente plausível. Na cena, no entanto, estamos lidando com uma personagem que matou seis pessoas (algumas com mais intenção do que outras) e cuja “verdadeira face” está longe de merecer perdão simplesmente por ter que ser escondida. É um equívoco que claramente não faz parte da mensagem que os roteiristas procuram passar, mas que acaba trazendo possíveis interpretações problemáticas, e que não ajudam a redimir a série de suas polêmicas iniciais. 

Ao menos, deve-se notar que Debby Ryan e Dallas Roberts entregam performances competentes, mesmo dentro de tantas situações onde outros atores poderiam ter dificuldade para se encaixarem no tom desequilibrado deste roteiro. Fãs da série devem ficar empolgados com a trama de suspense que permeia a temporada, e se já estavam felizes com a comédia do primeiro ano, não devem ter do que reclamar também. Mas Insatiable realmente não parece ter consciência dos problemas de sua execução, e se apoiar em cima de uma classificação “politicamente incorreta” não torna uma piada mal-contada, mais engraçada. 

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