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O Mundo Sombrio de Sabrina: Um Conto de Inverno | Crítica

A Netflix pegou todos de surpresa ao anunciar, há algumas semanas atrás, que O Mundo Sombrio de Sabrina teria um especial de Natal ainda este ano, com Um Conto de Inverno. O streaming definitivamente está empolgado com a série de Roberto Aguirre-Sacasa, tanto que a segunda temporada, já em produção, teve até mesmo um trailer repleto de cenas inéditas divulgado também neste mesmo período.

Dessa forma, o episódio de Natal é um ótimo tira-gosto até que as aventuras de Sabrina Spellman retornem, continuando o bom ritmo e a produção requintada dos dez episódios anteriores, ainda que não seja uma narrativa que necessariamente avance a jornada da protagonista – algo típico em episódios de feriado, claro.

A trama do episódio começa com o período nataliano de Greendale, onde as bruxas têm o hábito de comemorar o Solstício, equivalente da tradição cristã para a Igreja da Noite. Aproveitando que as barreiras entre o mundos dos vivos e dos mortos é mais frágil durante o período, que as tias Hilda e Zelda afirmam ser propício para fantasmas, Sabrina organiza uma sessão espírita para tentar se comunicar com sua mãe, e pedir conselhos sobre o que fazer em relação a Harvey, de quem ainda mantém distância, mas tenta ajudar através de encantamentos simples e conversas com alguma esperança. Paralelamente, Susie é atacada por um demônio disfarçado de Papai Noel.

Felizmente, Um Conto de Inverno mantém a melhor característica da série, que é o perfeito equilíbrio entre o humor adolescente e o terror sobrenatural, presente de maneira forte na premissa: Sabrina querer entrar em contato com sua mãe falecida é uma grande decisão emocional, mas vista com leveza por Ambrose, que brinca falando que todas as garotas querem conselhos maternos após terminarem um namoro. A catarse também é recompensadora, durante a cena em que Sabrina e as Irmãs conseguem invocá-la, onde Kiernan Shipka continua mostrando-se uma atriz excepcional; além de carismática, é capaz de momentos dramáticos genuínos e poderosos.

Todo o arco envolvendo a reaproximação de Harvey pode soar inconclusivo, mas o roteiro faz um trabalho eficiente ao explorar as tentativas de Sabrina de encontrar uma solução. Fica evidente que esse deverá ser um dos pontos chave da segunda temporada, ainda mais levando em conta a resistência do ex-namorado mortal em aceitar a presença da magia com Sabrina, por quem ele ainda é apaixonado.

Quando entramos no lado terror, Roberto Aguirre-Sacasa continua com a mesma eficiência. O grande incidente incitante do episódio envolve a fogueira de Yule, que as Spellman acendem em sua lareira para evitar a passagem de espíritos malignos para dentro da casa – mas que é apagada pela Sra. Wardwell, ainda angustiada por não ter uma direção clara do Senhor das Trevas. É aí que a casa das Spellman passa a ser assombrada por entidades misteriosas, que garantem momentos realmente sinistros, como quando Ambrose é perturbado no necrotério ou a cena praticamente recriada de A Bruxa onde Zelda perde a bebê Letícia após uma brincadeira de esconde-esconde.

Com a mesma eficiência, mas sem o mesmo impacto pelo desenvolvimento apressado, temos uma boa subtrama de monstros envolvendo Susie, que encontra-se trabalhando como ajudante de Papai Noel em um centro comercial. Porém, o homem por trás da fantasia revela-se um demônio que sequestra crianças usando a identidade do Bom Velhinho, para então transformá-las em estátuas de cera (as referências estão sempre aí). Por mais que a ameaça não traga tanto desenvolvimento ou espaço, é bom ver que o trabalho de maquiagem continua forte e cartunesco, com a criatura Bartel assemelhando-se com o demônio de A Lenda, de Ridley Scott, com os chifres absurdamente longos e a pele com tom de vermelho gritante.

A forma como a narrativa de Bartel se une com a das Spellman também é satisfatória, não só pelo óbvio fato de Sabrina ser chamada para resgatar sua amiga, mas também como o roteiro de Sacasa traz um mal para combater outro. Ao explicar a identidade dos espíritos que assombram a residência das Spellman, batizados de Meninos de Yule, a família consegue criar um inimigo em comum na forma de Bartel, no que resulta em um clímax bem amarrado e que com estrutura correta.

Um Conto de Inverno é um bom complemento a O Mundo Sombrio de Sabrina, sendo uma mera extensão da primeira temporada, e que certamente serve para matar saudades desse universo divertido envolvente. Não deixa de soar episódico, como todos os especiais de Natal são, mas traz bons momentos de terror e um aprofundamento satisfatório em sua protagonista, que continua bem representada por Kiernan Shipka.

O Mundo Sombrio de Sabrina | Crítica – 1ª Temporada

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