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O Voo Sequestrado: A história real por trás do filme da Netflix

Novo filme da Netflix retrata como quatro jovens sequestraram um avião em protesto contra o regime militar da Nigéria.

Hijack '93 da Netflix
Hijack '93 da Netflix

Em uma época de profunda instabilidade política, jovens ativistas nigerianos aterrorizam os passageiros e a tripulação de um avião, ganhando notoriedade como símbolos de resistência na luta pela democracia no país. Essa é a história contada pelo novo filme da Netflix, O Voo Sequestrado, que explora uma história real que marcou a Nigéria nos anos 90, quando quatro adolescentes sequestraram um voo com 190 passageiros em uma tentativa de protesto contra o regime militar. 

Nos anos 80 e 90, a Nigéria enfrentava uma série de crises políticas que deixaram a população insatisfeita e temerosa. Em 1983, o governo do então presidente Shehu Shagari foi deposto por um golpe militar, iniciando uma década de domínio militar no país. Durante este período, tentativas de golpes, como o liderado por Major Gideon Orkar em 1990, intensificaram a instabilidade, criando um ambiente de repressão e tensão social.

Em 1993, a eleição presidencial representava uma esperança para a transição democrática, e Chief Moshood Abiola foi eleito com grande apoio popular. Porém, o resultado foi anulado pelo governo militar, desencadeando protestos e uma crescente frustração entre a população nigeriana, especialmente entre os mais jovens.

Foi em meio a esse cenário que, em 25 de outubro de 1993, Richard Ogunderu, Kabir Adenuga, Benneth Oluwadaisi e Kenny Rasaq-Lawal, adolescentes entre 16 e 18 anos, decidiram agir. Determinados a fazer o governo ouvir suas reivindicações, os jovens embarcaram em um voo da Nigeria Airways, armados com uma pistola de brinquedo e seis litros de combustível. O plano era simples, mas audacioso: dominar a cabine de comando, tomar os passageiros como reféns e exigir o cumprimento de suas demandas.

O sequestro com uma arma de brinquedo

Assim que o avião decolou e os passageiros puderam se levantar, o grupo entrou em ação, declarando que o voo estava sob controle do Movimento pela Avanço da Democracia (MAD). Entre as exigências dos jovens estava a posse de Chief Abiola como presidente, a devolução de fundos públicos desviados pelo governo e a reabertura de universidades e jornais fechados pelo regime.

Ao desviar a rota para Niamey, no Níger, devido à falta de combustível para chegar à Alemanha, o grupo iniciou uma série de negociações intensas. O líder, Richard Ogunderu, chegou a entrar em contato com um jornalista da BBC para divulgar sua mensagem ao mundo. No entanto, suas ameaças de incendiar o avião caso suas exigências não fossem atendidas criaram pânico entre os passageiros.

Durante os quatro dias de sequestro, mulheres e crianças foram liberadas inicialmente, seguidas por outros 129 passageiros. No entanto, os jovens mantiveram o restante da tripulação e alguns funcionários do governo como reféns, resistindo a quaisquer concessões que não garantissem a liberdade democrática do país.

Na noite de 28 de outubro de 1993, as autoridades do Níger decidiram invadir o avião para encerrar o sequestro. A operação, marcada por tiros e bombas de gás, deixou um membro da tripulação, Ethel Igwe, morto. Ogunderu e seus companheiros foram detidos, condenados a nove meses de prisão e mantidos em condições precárias. O incidente trouxe à tona as críticas ao governo militar, principalmente devido à morte de Ethel, que representava a violência do regime em meio a um pedido por liberdade.

Após cumprir a pena, os jovens foram libertados, e muitos nigerianos passaram a vê-los como heróis modernos, dispostos a arriscar suas vidas em prol da democracia. Embora suas ações não tenham levado ao fim imediato do regime militar, inspiraram outros jovens e fortaleceram a luta contra a opressão na Nigéria.

De vilões a heróis: o legado de O Voo Sequestrado

Apesar da falta de sucesso direto em seus objetivos, o ato corajoso dos quatro adolescentes em O Voo Sequestrado ainda é lembrado como um grito pela liberdade. Durante o governo do general Sani Abacha, de 1993 a 1998, a Nigéria ainda enfrentou anos de ditadura, mas a resistência desses jovens se tornou um marco na história do país.

Hoje, a produção da Netflix traz essa história ao público, relembrando a luta desses jovens pela democracia e pela liberdade, em uma época de opressão e censura. O filme já está disponível no catálogo!

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