Aqueles que não estiverem a fim de passar o natal assistindo as típicas comédias natalinas, podem se acomodar com a família para assistir a nova temporada de Perdidos no Espaço, que chega à Netflix corrigindo alguns equívocos do primeiro ano, mas ainda precisando se assentar em algumas de suas escolhas até conseguir se tornar tão memorável quanto a série original.
A primeira temporada de Perdidos no Espaço buscava aproveitar a onda de nostalgia que domina a televisão e o cinema atualmente, trazendo uma nova versão da clássica série de ficção científica. A abordagem escolhida era um tanto “sombria e realista”, e nem sempre casava com a intenção da série de ser uma escolha perfeita para toda a família, apostando na tensão de suas tramas para causar engajamento, mas sem a descontração necessária para ser casualmente aproveitada (algo que a série original, com seu formato procedural, tinha como seu principal foco).
Elevar esta história para uma narrativa contínua é uma proposta perfeitamente funcional, e com bons personagens em crescimento, não há dúvidas de que a nova versão de Perdidos no Espaço possui potencial de sobra para continuar trilhando seu próprio caminho com propriedade. Mas como pode-se ver nesta nova temporada, um certo equilíbrio entre uma estrutura narrativa mais cinematográfica e uma estrutura episódica, só tende a beneficiar ainda mais a série, que dispõe de um universo divertido e consistente o suficiente para agradar tantos os fãs de ficção científica, quanto o público casual que encontrá-la em meio ao catálogo da Netflix.
A temporada começa retomando a história sete meses depois do gancho final do primeiro ano, e dedica seus dois primeiros episódios à uma aventura mais contida, envolvendo a fuga da família Robinson de um planeta oceânico. Rapidamente, somos re-introduzidos à este universo e a dinâmica familiar dos protagonistas, colocando este aspecto em destaque para distinguir Perdidos no Espaço de qualquer comparação atual. No episódio seguinte, então, temos uma típica trama de “monstro dentro da nave”, também relativamente contida, e que proporciona espaço para a série demonstrar uma diversidade narrativa empolgante.
Este começo é um ótimo exemplo de como a série consegue manter sua história geral fluindo, porém com focos bem definidos em cenários distintos e dinâmicas próprias para cada episódio. Mas conforme a temporada avança para sua abordagem mais cinematográfica, com a reta final sendo dividida em capítulos de forma quase arbitrária, o que temos é um conjunto de episódios medianos no meio desta trajetória. O meio da temporada é uma ponte entre a fórmula que vinha sendo estabelecida, e os reais conflitos que os protagonistas enfrentam neste segundo ano, ecoando a atmosfera da primeira temporada onde os colonizadores humanos estavam todos presos em um único planeta.
Felizmente, todos os membros da família protagonista são interessantes e possuem personalidades distintas o suficiente para conquistar a simpatia do espectador. O roteiro se esforça para dedicar o espaço necessário à cada evolução destes personagens, e o elenco consegue manejar bem o equilíbrio tonal almejado pela série, entre momentos dramáticos e sequências aventurescas mais descontraídas. Nota-se que essa divisão do tempo de tela tem como intenção agradar a todos os membros de uma família de espectadores, com as crianças tomando a dianteira em várias situações, mas com os pais tendo momentos de maior profundidade emocional, que agradariam o público mais velho.
E quando a temporada engata na sua segunda metade, a atmosfera de urgência é suficiente para fazer o espectador querer continuar a história, um episódio após o outro. Mas com dez episódios no total, teria sido mais produtivo dedicar mais tempo a explorações diferentes e ambientes que pudessem expandir este universo, de forma mais construtiva (algo que faltou durante o primeiro ano).
Mas enquanto o núcleo familiar é capaz de cativar o espectador, e as diferentes tramas protagonizadas por cada membro da família são bem estruturadas para proporcionar um ritmo envolvente aos episódios, há de se considerar a trajetória da Dra. Smith (Parker Posey), e seu papel como grande antagonista destas duas primeiras temporadas. A personagem é odiável quando precisa ser, e sua participação neste segundo ano precisava se justificar depois dos eventos do primeiro, com a série tentando construir um arco narrativo para a vilã que cause uma certa ambiguidade para o espectador. No entanto, é díficil simpatizar com a Dra. Smith, mesmo em seus momentos de arrependimento e possível redenção, o que a torna menos interessante do que a personagem claramente deveria ser, nesta nova leva de episódios.
A escala desta nova versão de Perdidos no Espaço é atrativa, auxiliada por um valor de produção visivelmente alto, e relativamente bem manejado ao longo da temporada. A única grande ressalva da parte visual da série, no entanto, é que sua estética faz pouco para se diferenciar de outras produções de ficção científica atualmente presentes na televisão, seguindo as mesmas paletas de cor e fórmulas de direção que dominam várias comparações. Esta escala também é complementada pela trilha sonora intensa, e repleta de passagens épicas, com várias (Várias!) partes evocando uma familiaridade com o que fãs estão acostumados a ouvir nas franquias Star Wars e Star Trek.
O equilíbrio tonal desta segunda temporada é mais consistente do que na primeira, e proporciona uma experiência divertida para o seu público-alvo. Tal qual séries animadas de ação, há poucos perigos que realmente transparecem grandes ameaças para os personagens, ficando por conta do elenco dar conta de elevar estes momentos através da atuação.
Enquanto o primeiro ano dedicou todo o seu tempo a construir a origem das aventuras da família Robinson, esta segunda temporada já começa a explorar todo o potencial de seu universo e de seus personagens, mas ainda deixa pelo caminho algumas oportunidades desperdiçadas, em favor de tentativas equivocadas de se apresentar como uma série épica e absolutamente madura. O gancho do último episódio traz possibilidades interessantes para o crescimento destes personagens, e com o destino final ainda fora de vista, torço para que a série dedique mais tempo à exploração de fórmulas divertidas e engajantes, para proporcionar aventuras distintas aos seus protagonistas, mas sem deixar de lado os grandes arcos que vêm construindo.